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Os Hermanos

Funérea semana: o além e seu business na Argentina

 

Por arielpalacios
Atualização:

Uma flor, uma caveira e uma ampulheta como símbolos da vida e da morte. "Natureza morta com caveira", de Philippe de Champaigne (1602-1674). No Musée de Tessé (que é o principal museu da cidade francesa de Le Mans). 

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Paracelso (1490-1541) - nom-de-guerre do médico, filósofo, bruxo Theophrastus Phillippus Aureolus Bombastus von Hohenheim -também tentou driblar a morte. Ele deixou instruções exatas sobre o procedimento com seu corpo depois da morte: cortá-lo em cubinhos e afundá-los em esterco. Esterco fresco, noblesse oblige. Depois de um ano exato, segundo Paracelso, seria necessário abrir o caixão, pois ali estaria ele, na versão de um jovem belo... e vivo! Isto é: Paracelso reciclado e ressuscitado.

A lenda sustenta que uns discípulos meio apressados do médico suíço abriram o túmulo antes do prazo estabelecido e ali encontraram um jovem adormecido. Mas, seu corpo de esfarelou imediatamente.

O Projeto Paracelso fracassou, mas outros tentaram - mesmo que apenas fosse na literatura - combater a morte, tal como o Duque de Orsini, en "Bomarzo", de José Mujica Láinez.

Na lista também está professor Holker, de "As Maravilhas do Año 2000", de Emilio Salgari, italiano quase contemporâneo de Júlio Verne. Congelado em 1900, Holker foi acordado um século depois. Neste caso não era uma tentativa de imortalidade, mas pelo menos paliativo.

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Também Fausto, de W.Goethe, tentou adiar sua morte por mais tiempo, dando sua alma a Mefistófeles em troca de sua juventude.

Isaac Assimov, em "O Homem Bicentenário" (décadas depois transformado em filme com Robin Williams no papel do positrônico andróide) relata a história de um robô que deseja ser humano. Consequentemente, deve abdicar de sua imortalidade mecânica. Com o corpo transformado em matéria orgânica, deixa drenar seu cérebro (a única parte de seu corpo que não podia ser orgânica). Com isto, foi recompensado com o título de 'Ser Humano' antes de morrer feliz (o filme é meio diferente neste ponto).

Para Woody Allen, rir da inevitável morte era a única saída: "não é que tenha medo de morrer...mas não quero estar vivo quando isso ocorra".

Ao longo desta semana - até a 3afeira que vem - teremos mais postagens 'funéreas', aproveitando a semana do dia 2 de novembro, dia de finados.

A seguir, a primeira postagem da série.

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E, como dizem os italianos, "se non ti vedo più, felice morte!" (se não te vejo mais, feliz morte!).

Caronte, o piloto do ferry-boat que na mitologia grega atravessava o Aqueronte, o rio da morte. Os mortos deviam pagar ao barqueiro um óbolo para poder atravessar. Ilustração do eternamente supimpa Gustave Doré para uma edição da Divina Comédia de Dante Alighieri. Caronte, em grego antigo era ????? Khárôn, que significa 'brilho intenso'

O business funerário argentino foi analisado de forma detalhada no recente Funexpo 2010, que reuniu em Buenos Aires representantes de empresas de funerárias, cemitérios privados, firmas de seguros de vida e fabricantes de ataúdes, mortalhas e velas, entre outros.

A reunião do setor dedicado aos rituais da morte contou com conferências de especialistas que debateram sobre as tendências do mercado e os novos produtos. Um dos assuntos que estão na crista da onda é a "tanatopraxia", técnica para demorar a descomposição dos corpos e "tanatoestética" (prática com a qual o defunto pode ficar mais parecido ao jeito como era quando estava vivo).

Segundo os participantes, o funéreo mercado, que movimenta US$ 1 bilhão anualmente na Argentina, cresceu entre 20% desde o ano passado.

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"Está acontecendo uma mudança importante no serviço fúnebre. Esta atividade está sendo revalorizada", sustenta Antonio Flores, da Federação Argentina de Entidades de Serviços Fúnebres e Afins.

Existem 1.500 empresas fúnebres, além de 400 cemitérios privados. Nesta cadeia de valor também participam fábricas de caixões, placas de metal para túmulos, marmorarias especializadas e floriculturas, fornos crematórios, entre outros.

No total, em todo o país são realizados 26 mil serviços funerários por mês.

Um de meus túmulos preferidos, o de Jules Verne. A escultura mostra como um homem desafia a morte e procura a luz do sol. No cemitério de Amiens, cidade francesa onde o autor de "20 mil léguas submarinas" viveu boa parte de sua vida.

"Daqui à eternidade" (ou "A um passo da eternidade" no Brasil) é o nome do filme dirigido por Fred Zinnerman em 1953 (que contava no elenco com Burt Lancaster, Montogomery Clift e Deborah Kerr). Mas, também é o nome do programa sobre assuntos fúnebres que durante anos embalou as segundas-feiras à noite do "Utilíssima", um canal de TV a cabo de sucesso dedicado à cozinha, artes manuais, estética feminina, além de programas sobre bebês. O programa sobre funerais e afins voltaria ao ar no ano que vem.

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O apresentador, Ricardo Péculo, é o único "deathing planner" da América do Sul. Segundo ele, o detalhe importa, e muito, nos funerais. "Um bolo é uma forma de homenagear alguém. E um ataúde é uma forma de honrar uma pessoa que faleceu".

Tanatólogo de fama, presidente do Instituto Argentino de Tanatologia Exequial, foi o encarregado de diversos funerais de ex-presidentes argentinos. Ele destaca que um ex-presidente merece que seu caixão seja levado nos ombros.

No programa Péculo convidava o espectador a planejar o funeral com tanto empenho como uma pessoa aplicaria para a festa de 15 anos da filha ou a celebração de um casamento. Evitando totalmente um clima triste, o apresentador começa o programa com a "Ode à Alegria", de Ludwig Van Beethoven.

O merchandising aparecia no programa por meio de depoimentos dignos de um filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar. Após assistir "Daqui a eternidade", o telespectador ficará com a sensação de que a morte pode ser "fashion".

No programa, Péculo também exercita um costume dos velórios: contar piadas. Claro, piadas funéreas, tal como o caso de um homem que diz que faleceu um grande amigo seu, cardiologista, a cujo funeral enviou uma coroa em forma de coração. O problema, destacava o amigo, é que também tinha excelente relação com outro médico, a ponto de morrer. "Mas o que faço em seu caso? Ele é um ginecologista!".

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Após a morte irá para os Céus ou o Inferno? Para os fanáticos do Boca Jrs, tanto faz. O que importa é que o caixão seja o do time.

"Ir para o Inferno ou para os Céus, o que importa é que o caixão seja do Boca Juniors". Este poderia ser o slogan da nova linha de ataúdes que ostentam, além da tradicional cruz, as estrelas dos campeonatos vencidos pelo Boca, a sigla do time - CABJ - e as emblemáticas cores azul e dourada do time.

O produto é um sucesso entre os fanáticos, já que constitui um passo a mais no costume de vestir o defunto com a camiseta do Boca, ou o de colocar a bandeira do clube sobre o féretro.

O primeiro ataúde oficial do Boca Juniors foi fabricado e vendido pela empresa funerária Diegues, que conta com um fino revestimento nas cores azul e dourada. A ideia é honrar a vida de um fanático do Boca, fazendo que as cores do time o acompanhem para o além.

O produto, lançado em meados da década, conta com a aprovação oficial do time Boca Juniors. O desenvolvimento do design do caixão teve a assessoria de psicólogos. 

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Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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