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Os Hermanos

Há 10 anos Buenos Aires teve 11 dias de apagão

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Por arielpalacios
Atualização:

O apagão deixou fora de funcionamento 200 dos 240 sinais de trânsito do centro da cidade. Isso causou diversos acidentes de trânsito, nos quais morreram dez pessoas.

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Por falta de energia, as bombas dos prédios não funcionaram, fato que causou a falta do abastecimento de água. O Exército teve que distribuir três milhões de litros de água. No entanto, a medida foi insuficiente. Por esse motivo, milhares de pessoas tiveram que emigrar para a casa de parentes e amigos no setor da cidade que ainda possuía luz.

Mais de 300 pessoas foram internadas nos hospitais (que funcionavam às duras penas com geradores) por causa de problemas de saúde causados pelo blecaute.

A falta de luz foi causada por um incêndio em uma sub-estação de distribuição de energia elétrica da empresa Edesur, que havia sido inaugurada um ano antes como "exemplo de alta tecnologia". Mas, entre diversos problemas, as investigações indicaram que diversos cabos de alta tensão - que haviam sido instalados como "novos" - tinham mais de 20 anos de uso.

Com o passar dos dias, sem soluções à vista, milhares de moradores dos bairros afetados concentraram-se nos cruzamentos de avenidas mais importantes para protestar. Desta forma, surgiram - pela primeira vez na capital argentina - os piquetes nas ruas como modus operandi de protesto. Os moradores, para exibir sua indignação - e iluminar as esquinas à noite - acenderam fogueiras nos cruzamentos.

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As estimativas indicaram que os prejuízos para a população e comerciantes alcançaram US$ 1,5 bilhão.

A responsável pelo apagão foi a empresa de distribuição de energia Edesur, que na época era composta por capital chileno e espanhol. A Edesur desembarcou no país em 1992, quando a antiga empresa estatal de eletricidade, Segba, foi privatizada. O tempo da concessão da Edesur havia sido o maior já concedido para uma empresa na Argentina: 99 anos.

INTERMEZZO MUSICAL-BLACKOUT Um tango para um "apagón" - "A media luz" (Na penumbra), dos uruguaios Carlos Lenzi e Edgardo Donato, imortalizado por Carlos Gardel.O link: http://www.youtube.com/watch?v=TwEAF3clZys

E este outro, com Libertad Lamarque, filmado no México... http://www.youtube.com/watch?v=VIic8BQlZAc&feature=related

Os vendedores de velas e lanternas também lucraram com o corte, além dos comerciantes de geradores portáteis de eletricidade.

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Na área da alimentação, dezenas de milhares de pessoas tiveram que fechar seus comércios, já que suas geladeiras não funcionavam para guardar a comida. Os escritórios fecharam porque seus computadores estavam inutilizados.

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Na época entrevistei Carla Rodríguez, dona de uma sorveteria no bairro de Boedo, viu seus sorvetes virarem água pelo calor: perdeu US$ 30 mil só em mercadoria. "Além disso, perdi o lucro que teria tido com os clientes".

José Echavarri, açougueiro, brandia com raiva seu facão de esquartejar suculentas vacas argentinas: "perdi 400 quilos de carne que estragou. Se visse um funcionário da companhia elétrica por aqui, ele sairia sem os testículos". Echavarri pára, pensa um pouco, e acrescenta : "e também cortava a cabeça do desgraçado".

O ácido humor portenho encarregou-se de configurar os mais variados protestos: o trânsito da avenida Rivadavia, que corta a cidade entre a zona sul e norte, foi cortado por uma surpreendente barricada de geladeiras, micro-ondas, televisores e ferros de passar roupa. Todos eles aparelhos eram eletrodomésticos que estavam sem utilizar.

Além dos protestos, os "sem-luz" de Buenos Aires também tentaram espairecer, e improvisaram dois times de futebol: o "Cabos Descascados" e o "Curto-circuito". Por dois a zero, venceu o "Cabos Descascados". O prêmio: um pacote de velas para cada jogador.

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Para o happy hour desta 6afeira, "Decarísimo", de Astor Piazzolla: http://www.youtube.com/watch?v=aQitw1eG0fg&feature=related

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