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Os Hermanos

Livro reúne 333 'causos' borgianos

 

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Por arielpalacios
Atualização:

Este causo - junto com outros 332 - foram recopilados pelo escritor e jornalista argentino Mario Paoletti em "O outro Borges - Anedotário completo" - recém-lançado em Buenos Aires pela editora Emecé. A maior parte dos "causos" mostram as irônicas opiniões - e atitudes - de Borges sobre religião, literatura, política e religião, entre vários outros assuntos. Segundo Paoletti, nenhum outro escritor no mundo hispano-americano gerou tantos "causos" como Borges. "Não é impossível que isto se transforme em um subgênero literário", diz.

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BLEFE - No livro, Paoletti conta duas cenas vistas pelo escritor Blas Matamoros nos EUA com Borges. Em uma delas, uma pessoa diz ao escritor argentino: "Borges, o senhor é um blefe". Borges respondeu: "sim, mas leve em conta que é involuntário...".

Na outra cena um estudante contestador grita ao escritor: "você, Borges, está morto!". Borges retrucou: "é verdade, só existe um erro nas datas".

DEUS, A VIRGEM E O MOTOR - O editor polonês-americano Walter Bara, da editora McGraw-Hill conta a yBorges que havia estado em um avião que quase estatelou-se no chão porque um de seus motores havia desprendido da fuselagem. No entanto, depois de uma vertiginosa queda, o piloto conseguiu equilibrar o avião e aterrissar. Bara cumprimentou o piloto efusivamente. Mas, os outros passageiros ficaram zangados com ele, já que atribuíam a salvação de suas vidas à uma medalhinha da Virgem Maria que uma das passageiras pegou em sua maleta quando o avião caía. Borges ouviu o relato e comentou: "isto é, Deus havia ordenado que o motor se soltasse e que eles morressem. Mas, graças a um apelo à Virgem, intervém um subalterno de Deus (a Virgem em questão) e muda os planos. Como alguém pode pensar assim?".

Borges empunha um pequeno punhal para uma cena de um documentário rodado nos anos 70 na Argentina. Para ver o trailer desse documentário, "Borges, um destino sul-americano" (no 1:21 min. está a imagem acima), clique aqui.

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SINCERIDADE E CALOR - Em um dia de calor sufocante Borges chega à casa do amigo e escritor Adolfo Bioy Casares, na elegante rua Posadas, no bairro da Recoleta, para almoçar (costume que manteve durante décadas, todos os dias). Os almoços eram embalados por conversas sobre filosofia e literatura. Mas, ao entrar, cumprimenta o amigo e diz: "o calor é o assunto natural. Sejamos sinceros: falemos sobre o calor".

LUGAR ERRADO - Adolfo Bioy Casares, Silvina Ocampo (mulher de Bioy) e Borges vão a um velório. Mas, não encontram a casa. E de quebra, não lembram do nome do morto. Outro dia, o trio vai a um lugar onde Borges terá que proferir uma palestra. No entanto, entram, por engano, na casa errada, onde está sendo celebrado um casamento. Cumprimentam todas as pessoas e só percebem que a conferência não é ali quando os noivos aparecem.

SINCERIDADE E ESTADO - Durante uma entrevista à revista portenha "Siete Días" em 1973 o jornalista conversava com Borges sobre as modalidades de Estados.

- Sr. Borges, que tipo de Estado desejaria?

- Um Estado mínimo, que não fosse notado. Morei na Suíça cinco anos e ali ninguém sabia o nome do presidente.

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- A abolição do Estado que o senhor propõe tem muito a ver com o anarquismo.

- Sim, exato, com o anarquismo de Spencer, por exemplo. Mas não sei se somos suficientemente civilizados para chegar ali.

- Acredita seriamente que tal Estado é factível?

- Evidentemente. Mas, uma coisa é verdade: será preciso esperar 200 ou 300 anos.

- E enquanto isso, Borges?

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- Enquanto isso a gente se f...

SER OU NÃO SER - O livro conta que em uma ocasião o poeta Eduardo González Lanuza, amigo de Borges desde a adolescência, caminhava pela rua Florida, em pleno centro portenho, quando repentinamente vê o autor de "O Aleph" sozinho, no meio da multidão que caminha apressada. Borges, cego, estava com sua bengala no meio-fio, esperando para atravessar a rua. O poeta coloca a mão em cima do ombro do amigo e diz: "Borges, sou eu, González Lanuza". Borges gira a cabeça e após uns segundos, responde: "é muito provável".

GASTRONOMIA - Paoletti relata que em uma entrevista em Roma um jornalista europeu tentava colocar Borges em uma situação constrangedora. Mas, como não conseguia, recorreu a uma pergunta que considerou que seria muito provocante: "em seu país ainda existem canibais?". Borges, imediatamente, respondeu: "já não existem mais... devoramos todos eles"

Borges e Beppo. O gato - ao qual o autor dedicou vários poemas - não era seu, mas sim, de sua empregada, Fanny. Quando Beppo morreu, os dois o enterraram em um cantinho da praça San Martín, a um quarteirão do edifício onde Borges morava (na esquina das ruas Maipú e Marcelo T. de Alvear).

SÉCULO - Um jornalista entrevista Borges em Paris em um estúdio de gravação. Em meio à conversa, o jornalista pergunta a Borges:

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- O sr. percebe que é um dos grandes escritores deste século?

Borges fica quieto durante uns segundos e responde:

- É que este foi um século muito medíocre...

METAFORICÍDIO - O livro também conta como Borges um dia foi ao banco, onde uma funcionária lhe disse: "embora eu saiba (de memória) qual é seu saldo bancário, vou verificá-lo, pois não gostaria de dizer uma coisa e que seja outra". Borges depois relatou ao amigo Esteban Peicovich: "essa senhorita acabou de assassinar a metáfora".

CASTELO - Paoletti também conta - baseado no relato do poeta José Bergamin - que nos anos 50 Borges foi à Montevidéu para uma série de conferências. Mas, antes de iniciar, começou a colocar sobre a mesa uma pilha de livros. No entanto, ao longo da palestra, não usou nenhum dos livros ali colocados. Ao terminar a conferência Bergamín aproximou-se de Borges e perguntou qual havia sido a utilidade de tantos volumes que não consultou. Borges respondeu: "eu os uso como ameia".

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Borges, ilustrado pelo cartunista uruguaio Alberto Breccia para o comic "Perramus", no qual o escritor envolve-se em uma delirante trama política-policial de realismo fantástico.

PREMATURA - Anos antes da morte de Borges em 1986 na Suíça, os jornais franceses, além do New York Times, publicaram a notícia de que ele havia morrido. Preocupado, o ensaísta Ulysses Petit de Murat tentou entrar em contato Borges, até que conseguiu encontrá-lo e confirmar que estava vivo. Murat expressou a Borges seu desagrado pela "notícia apócrifa de sua morte". Borges corrigiu: "apócrifa não...somente prematura"

Borges fala sobre "o rigor da ciência". Aqui.

JLB recita seu poema "Everness". Aqui.

E o "Poema de los dones", aqui.

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Em uma entrevista Borges sustenta que "o barroco é uma soberba do escritor". Aqui.

E minha conferência preferida, "A Cegueira", aqui.

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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