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Os Hermanos

O ditador, o lobisomem e o filho do desaparecido

Por arielpalacios
Atualização:

Um lobisomem mastiga uma senhorita, segundo ilustra uma gravura de Johann Geiler, 1516.

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O costume de pedir o apadrinhamento presidencial começou quando um casal de imigrantes alemães que havia residido na Rússia - Enrique Brost e Apolonia Holmann - teve seu sétimo filho homem, José Brost, na cidade bonaerense de Coronel Pringles. Os Brost pediram ao presidente José Figueroa Alcorta que fosse o padrinho. Eles argumentaram que na Rússia, país onde haviam morado, era tradição o czar apadrinhar a criança para quebrar o "feitiço" do sétimo filho. E, já que estavam na Argentina, pretendiam conseguir essa "garantia" por parte do presidente Figueroa Alcorta. O aristocrático presidente concordou.

Essa tradição, obviamente, acabou na Rússia com a Revolução de 1917, liderada por V.I.Lenin. Mas, sobreviveu na Argentina.

 

O rei Licaon, transformado por Zeus em homem-lobo. Licaon, diz a lenda, teria sido o primeiro lobisomem. Ilustração para a "Metamorfose" de Ovídio.

General Videla, ex-padrinho de batizado de Gastón Castillo. Longe de referências aos lobos, ostentava o felino apelido de "A pantera cor de rosa" (por sua magreza, jeito de caminhar e a sorte de salvar-se, tal como o desenho animado, de diversos atentados).

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Sem conseguir, meses depois, quando deu a luz a Gastón, seu sétimo filho homem, recorreu ao apadrinhamento presidencial com a expectativa de que isso salvaria a vida de seu marido. Ela pediu e obteve - com sucesso - que o poderoso ditador argentino, o general Jorge Rafael Videla, fosse o padrinho de seu filho, seguindo a tradição presidencial.

No entanto, apesar do batizado do filho, nada conseguiu sobre seu marido. Os ossos de Roberto - com sinais de ter sofrido torturas extremas - foram descobertos em 2009. Havia sido enterrado pelos militares de forma clandestina como um indigente no município de Avellaneda.

Gravura de Lucas Cranach, o velho, que mostra um homem-lobo que usa uma criança como 'snack'. A ilustração é de 1512. Está na cidade de Gotha, no Herzogliches Museum.

Na semana passada, Gastón pediu ao cardeal Bergoglio que o ex-ditador fosse removido de seu status de padrinho, já que o vínculo religioso com Videla "fere, mortifica e infama o ato sagrado do batizado".

Na quarta-feira à noite o primaz da Argentina, cardeal Jorge Bergoglio, aceitou o pedido e determinou que o ex-ditador, autor do massacre de milhares de pessoas, não será mais o padrinho de Gastón. O jovem, que é praticante, poderá escolher um novo padrinho.

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O escrivão do arcebispado de Buenos Aires, César Sturba, explicou que o código de Direito Canônico determina que entre as condições para ser padrinho de batizado está a de "levar uma vida coerente com a fé e com a missão que receberá". O ex-ditador, acusado de sequestros, torturas e assassinatos, não cumpre os requisitos de "amor cristão".

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SIMBOLISMO - A medida determinada pelo cardeal Bergoglio possui grande valor simbólico, pois trata-se de uma rejeição da cúpula Igreja Católica a Videla, embora por vias não convencionais.

Durante a ditadura a Igreja esteve intensamente alinhada com os militares. Padres católicos presenciaram torturas realizadas nos centros clandestinos de detenção e pressionaram os prisioneiros a delatar, com o encobrimento da confissão, o nome de militantes políticos que haviam conseguido escapar.

Um dos clérigos envolvidos nas ações do regime militar, o capelão Christian Von Wernich, além de presenciar, protagonizou torturas nos centros clandestinos na província de Buenos Aires. Em 2007 Von Wernich foi condenado à prisão perpétua por 34 sequestros, 31 casos de torturas e sete homicídios.

MENINAS-LOBA - Embora a lenda do lobisomem não se aplique às filhas, em 2008 a presidente Cristina Kirchner assinou um decreto que determina que o privilégio do apadrinhamento do sétimo filho não se aplicará somente aos homens, mas também às mulheres.

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No entanto, diversas parlamentares, entre elas, a deputada Elisa Carrió, da Coalizão Cívica, destacam que a lei, "atualizada" com a inclusão de mulheres (a sétima filha mulher), é anacrônica. "É um privilégio que, longe de ter fundamento em um mérito, nasce da superstição da licantropia", sustenta. 

Caminhoneiro - Mm...qual será a velocidade de um lobisomem?

Eu - Eeehhh.. a velocidade de um lobisomem?

Caminhoneiro - Sim. Será que ele faz 100 kms por hora? Ou 120? Talvez 130! Semana passada o Ratinho ia mostrar um lobisomem no programa. Fiquei esperando, esperando, mas o lobisomem não foi. Aí o Ratinho falou que ele viria na semana que vem.

Eu - Äêh... (um "äêh" em minha família não quer dizer nada, mas é um elíptico e providencial monossílabo com o qual evitamos qualquer comprometimento quando nos perguntam ou comentam algo esdrúxulo; o "äêh" tem a vantagem de ser interpretado, por nosso interlocutores, como uma espécie de deixa para continuar com aquilo que estavam falando)

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Caminhoneiro - Então...qual será a velocidade dele? Quanto tempo será que ele leva para ir daqui até Porto Alegre?

Eu (mantendo um tom neutro sobre o caso, mas seguindo o assunto) - Bom, depende, não é? Na estrada ou no campo?

Caminhoneiro - Como assim?

Eu - Claro, na estrada, tal como um veículo, um lobisomem deveria ir mais rápido. Mas, ao atravessar o campo, deve demorar mais, pois teria que passar por banhados, riachos, cercas de arame farpado...é um terreno no qual ele deve demorar mais, não é? E olha que é o Rio Grande do Sul, com planícies... imagina se ele tiver que atravessar o sul de Minas Gerais com as serras.

Caminhoneiro - Pois é...ia demorar mais, né?

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Eu - E pela estrada não deve ir, pois senão todo mundo o veria.

Caminhoneiro - Claro!

Eu - Talvez na estrada ele poderia fazer uns 100 kms por hora... mas atravessando o campo, aqui, até Porto Alegre, talvez faria uma média de uns 60 kms, não?

Caminhoneiro - Pois é. De todas formas, ele ia ter que parar no caminho antes do amanhecer.

Eu - Por?

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Caminhoneiro - É que com o raiar do sol ele deixa de ser lobisomem!

Eu - Concordo. Ser lobisomem é um atrapalho nos planos de viagem. Só pode fazer os trajetos de noite.

Caminhoneiro - Pois é, coitado. Será que vão repetir o programa do Ratinho?

Lua cheia, segundo a lenda européia, é o prime-time para os lobisomens. Na Argentina (e em vários países da América do Sul) dia (ou melhor, noite) de Lobisomem é toda sexta-feira.

E já que falamos em lua, aqui vai "Luna", do colombiano Juanes. Aqui.

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E Frank Sinatra, "Blue Moon". O link, aqui.

E "Fly me to the moon", com a sedutora voz de Julie London. Aqui.

E, aha! O "Clair de Lune" de Claude Debussy, com o brilhante David Oistrakh. Uma gravação de 1962 feita em Paris. Aqui.

E não podia deixar de citar a carismática soprano russa Anna Netrebko interpretando a "Canção da lua" da ópera Russalka, do tcheco Antonín Leopold Dvo?ák. Aqui. 

Desculpem a demora em colocar uma nova postagem, mas estava em Quito, Equador, cobrindo o revertério político (que será assunto possivelmente da próxima postagem, isto é, um panorama do cenário político do país). E, quando voltei, na 2afeira, estava com uma gripe titânica e febre idem que me impediram atualizar qualquer assunto até ontem.

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Bom fim de semana a todos!

 
 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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