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Mundo em Desalinho

Morte de reféns ocidentais reacende debate sobre drones

O líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, já foi alvo de dois ataques fracassados de drones americanos, ambos em 2006. Nenhum deles o matou, mas 76 crianças e 26 adultos perderam suas vidas nas operações, segundo levantamento da entidade de defesa de direitos humanos Reprieve, sediada em Londres.

Por claudiatrevisan
Atualização:

É impossível saber o número preciso de vítimas civis em razão do segredo que encobre as operações no Paquistão e Iemên. Com base em reportagens e dados públicos divulgados nos últimos dez anos, a entidade identificou ataques a 41 alvos perseguidos pelos EUA e concluiu que 1.147 pessoas morreram nas tentativas de atingi-los.

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Nem sempre as ações resultaram na morte dos militantes, muitos dos quais foram objeto de múltiplos ataques. Operados por controle remoto a partir dos Estados Unidos, os drones começaram a ser usados no combate ao terrorismo em 2004. Mas foi no governo Barack Obama que eles passaram a ocupar um lugar central na estratégia de defesa americana. O Reprieve estima que pelo menos 500 ataques disparados à distância foram realizados desde a chegada do democrata ao poder, há seis anos.

A administração americana sustenta que os drones são o mais adequado instrumento para combater insurgentes em regiões perigosas e de difícil acesso do Paquistão, Iêmen e Afeganistão. O governo afirma ainda que a união da tecnologia aos dados coletados pelos serviços de inteligência permite que os ataques sejam precisos, o que reduziria a possibilidade de vítimas civis.

A revelação de que o americano Warren Weinstein e o italiano Giovanni Lo Porto morreram em uma ação antiterrorista dos EUA em janeiro abalou essa premissa ontem e reacendeu o debate sobre o uso de drones. Obama afirmou que a ação foi guiada por inteligência obtida em "centenas de horas" de vigilância, que não foi capaz de detectar a presença dos reféns no local.

Em 2013, a Anistia Internacional afirmou que os responsáveis pela morte de civis em alguns dos ataques com drones deveriam ser processados sob acusação de crimes de guerra. A entidade documentou vários casos com imagens de satélite e entrevistas, entre os quais o que resultou na morte de 17 trabalhadores no Paquistão em 2012.

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"O governo dos Estados Unidos nunca revelou o número de pessoas mortas em ataques com drones. A administração sustenta que os ataques são precisos e que poucos civis foram mortos, mas nunca provou isso com evidências e dados específicos que possamos avaliar", disse Naureen Shah, diretora do programa de Segurança e Direitos Humanos da Anistia Internacional.

O reconhecimento das mortes de Weinstein e Lo Porto foi uma das raras ocasiões em que Washington levantou o segredo que envolve os ataques com drones no Paquistão e no Iêmen e forneceu alguns poucos detalhes sobre as operações. Entidade de defesa dos direitos humanos criticaram Obama por admitir a morte acidental dos ocidentais e se recursar a reconhecer as centenas de vítimas civis dos drones que atingem moradores do Paquistão, Iêmen e Somália.

Na entrevista coletiva diária do porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, ficou evidente que os mísseis nem sempre são disparados com o grau de precisão propagado pela Casa Branca. A CIA desconhecia a identidade das pessoas que estavam no complexo da Al Qaeda atingido na operação. Só nos dias seguintes à sua realização ficou claro que havia seis e não quatro indivíduos no lugar e que dois deles eram reféns ocidentais.

Outro problema para Obama foi a morte de dois americanos integrantes da Al Qaeda neste e em outro ataque realizado também em janeiro. As regras que regem o uso de drones determina que a determinação para que cidadãos do país sejam mortos só pode ser dada depois de revisão do seu caso pelo Departamento de Justiça -em uma tentativa de dar um verniz de "devido processo legal" a uma execução extrajudicial. Em nenhum dos dois casos isso foi realizado.

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