Essa é uma questão urgente, que se entrelaça com várias das demandas levantadas pela multidão que foi às ruas: mobilidade urbana, falta de representatividade política, corrupção, ausência de transparência nos gastos públicos. E já existe uma proposta para acabar com o financiamento de campanhas por empresas, elaborada pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), mesmo grupo que coordenou a aprovação do Ficha Limpa.
Segundo dados da entidade, dos atuais 513 deputados federais, 369 foram eleitos entre os que tinham mais recursos financeiros. Os autores defendem que o texto seja aprovado antes de 5 de outubro, a tempo de ser aplicado na eleição de 2014. As ruas mostraram que querem mudança já e está clara a rejeição ao conluio entre poder político e econômico. Não dá para esperar o plebiscito proposto pela presidente Dilma Rousseff, que teria o objetivo de convocar uma Assembléia Constituinte específica (horas depois de esse post ser originalmente publicado, a presidente abandonou a ideia e agora é favorável apenas ao plebiscito, que é uma boa ideia).
"O sistema político brasileiro está tão defasado que não é justo para o Brasil passar por outra eleição com esses moldes", disse ao Estado o cofundador do MCCE, Márlon Reis. O grupo já iniciou a coleta de 1,5 milhão de assinaturas para enviar ao Congresso um projeto de iniciativa popular _quem quiser, pode aderir aqui. O texto também fortalece os partidos políticos, ao estabelecer eleição em dois turnos para os parlamentares: no primeiro, a votação seria na legenda; no segundo, no candidato.
Em entrevista ao Globo na semana passada, a urbanista Raquel Rolnik observou que existe nas cidades brasileiras uma "coalizão" entre e o poder econômico e os políticos, que precisam de financiamento para chegar ou se manter no poder. "Em contrapartida, os interesses empresariais ganham rios de dinheiro, taxas de lucratividade enorme, com a prestação de serviços muito ruins." E apontou para um dos nós da ineficiência do transporte urbano: "O lobby e o cartel que as empresas concessionárias de ônibus têm historicamente na maior parte das cidades do Brasil é altamente lucrativo."
Eleições Limpas já!