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Mundo em Desalinho

O dinheiro fala cada vez mais alto nas eleições dos Estados Unidos

É provável que você nunca tenha ouvido falar dos irmãos Koch, a dupla de bilionários que comanda o segundo maior grupo de capital fechado dos EUA, um conglomerado avaliado em US$ 80 bilhões, mais que o dobro do PIB da Bolívia. Os Koch preferem viver nas sombras, mas estão entre os indivíduos com maior influência financeira no debate político americano, com uma agenda conservadora radical, que rejeita a regulação ambiental e financeira, é contrária a qualquer forma de Seguridade Social e execra sindicatos e impostos. Fiel a seu ideário, também rejeitam controles, transparência e limites a doações para campanhas políticas.

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Por claudiatrevisan
Atualização:

Na disputa presidencial de 2016, os Koch pretendem superar todos os recordes dos já obscenos custos eleitorais americanos e canalizar US$ 900 milhões na defesa dos temas -e candidatos- que lhe são caros. O valor supera os US$ 657 milhões que o Comitê Nacional do Partido Republicano gastou em 2012 nas disputas pela Presidência dos EUA, as 435 cadeiras da Câmara dos Deputados e as 100 do Senado, segundo o New York Times.

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A dinheirama não virá só do caixa dos Koch. No último fim de semana, os irmãos reuniram na Califórnia um grupo de abastados que comunga de suas ideias e estão dispostos a contribuir para o esforço de promover sua agenda libertária, termo que nos EUA se refere ao conservadorismo extremo, que rejeita qualquer forma de interferência do governo na vida privada e na economia. Em um desses paradoxos embaraçosos, a defesa do Estado mínimo se desmancha em temas como aborto e casamento gay, em relação aos quais os irmãos são menos tolerantes à liberdade de escolha individual.

Em 1980, David Koch foi candidato à vice-presidência pelo Partido Libertário em uma chapa encabeçada por Ed Clark. Entre as propostas que defendeu estavam o fim de escolas públicas e de qualquer forma de Seguridade Social. Também propunha a extinção da CIA e do FBI, vistos como agências do governo com poder excessivo sobre o cidadão.

Clark e Koch receberam 1,1% dos votos. Incapazes de conquistar os eleitores diretamente, David e seu irmão, Charles, decidiram terceirizar sua influência, financiando candidatos, institutos de pesquisa (think tanks) e campanhas de temas conservadores.

A influência dos donos do dinheiro nas eleições americanas se ampliou drasticamente a partir de 2010, quando a Suprema Corte decidiu que as corporações têm direito de expressão como os indivíduos. E doações a causas e candidatos são a maneira pela qual elas "falam". Se as empresas decidirem canalizar seu direito de expressão por meio de entidades sem fins lucrativos, sua identidade e valores doados não precisam ser revelados. Adivinha qual o caminho preferido pelos irmãos Koch?

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Grande parte dos milhões que eles mobilizam para as causas libertárias trafega por entidades que não têm fins lucrativas, mas possuem fins políticos óbvios, o que torna impossível saber quanto exatamente vêm deles e quanto é doado por outros bilionários simpatizantes das ideias libertárias.

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