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Após vitória de Trump, Merkel deve se tornar nova 'líder do mundo livre'

Para jornal americano, vitória do magnata faz com que chanceler seja a última defensora dos valores humanistas do Ocidente

Por Redação Internacional
Atualização:

BERLIM - A eleição de Donald Trump como presidente dos EUA com um discurso populista, o autoritarismo na Rússia e na Turquia e uma União Europeia (UE) em crise levam alguns especialistas a se perguntarem se a chanceler alemã, Angela Merkel, se tornará a nova "líder do mundo livre".

"A expressão 'líder do mundo livre' costuma ser aplicada ao presidente dos EUA, muitas vezes ironicamente. Eu me atreveria a dizer que a partir de agora a líder do mundo livre é Angela Merkel", considerou o historiador britânico Timothy Garton Ash, professor em Oxford, em uma coluna publicada no jornal britânico The Guardian.

Chanceler alemã, Angela Merkel ( Foto: AFP PHOTO / Oliver Dietze)

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A visita do atual presidente Barack Obama nesta quinta-feira, 17, a Berlim aumenta as expectativas depositadas na chanceler alemã, a quem qualificou de "provavelmente a aliada internacional mais próxima nos últimos oito anos". O presidente em fim de mandato não se despedirá da Europa no Reino Unido, aliado tradicional de Washington, mas na Alemanha, como quem passa o bastão adiante.

"A eleição de Donald Trump faz com que Angela Merkel seja a última defensora dos valores humanistas do Ocidente", considerou o jornal The New York Times. Para a publicação alemã de esquerda Taz, "a importância da chanceler aumentará e ela deve manter a coesão da UE, fazer frente a Putin e a Erdogan, além de controlar Donald Trump". O magnata é partidário do princípio "America first" (EUA primeiro), inclusive nas relações transatlânticas.

As alternativas de liderança na Europa, enfraquecida com o aumento do populismo, não são muitas. O Reino Unido estará ocupado durante alguns anos com o Brexit - a saída britânica da UE - e a França e Itália atravessam crises econômicas internas.

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Em contexto semelhante, os alemães dão como certa a candidatura de Merkel a um quarto mandato nas eleições legislativas de 2017. "Ela se apresentará e atuará como uma líder responsável", declarou um membro de seu partido, Norbert Röttgen, à emissora CNN.

De fato, a popularidade da chanceler aumentou desde as eleições americanas e ela poderia anunciar suas intenções no domingo. "Diante da repercussão da vitória eleitoral de Trump na Europa, ela pensará sem dúvidas que sua tarefa não está terminada e que deve continuar conduzindo a Europa", considerou Daniela Schwarzer, diretora do instituto de pesquisas alemão DGAP.

Em sua mensagem parabenizando Trump, Merkel foi muito clara e o relembrou da importância dos valores democráticos. "As expectativas (depositadas na Alemanha) para que façamos oposição às tendências antidemocráticas são uma responsabilidade histórica e espero que estejamos à altura", resumiu Stefani Weiss, especialista da fundação alemã Bertelsmann.

Com Trump, a chanceler terá de enfrentar uma tendência de retirada de Washington. "Sob a era de Obama já se viu uma distensão na relação transatlântica e que os EUA não querem e não podem mais ser as potências do mundo", afirmou a analista.

Diante das intenções do magnata de melhorar as relações com o presidente russo Vladimir Putin, "a política pró-ocidental de Merkel a respeito da Rússia poderia acabar em desastre", avaliou o jornal alemão Die Welt.

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Trump se choca com outros pilares de Merkel, como sua política migratória, a defesa do livre comércio no mundo e a necessidade de lutar contra a mudança climática. "A tarefa de Merkel se complicou infinitamente", advertiu Constanze Stelznmüller, analista da Fundação Robert Bosch, em uma coluna do jornal The Washington Post. / AFP

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