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China pode liderar ação contra mudança climática após vitória de Trump

Membro da delegação do país asiático que participa da 22.ª Conferência do Clima da ONU (COP-22) garantiu que mudança no governo americano não interromperá transição rumo a uma economia de baixo carbono

Por Redação Internacional
Atualização:

MARRAKECH, MARROCOS - A recente vitória de Donald Trump, um negacionista do aquecimento global, causou estupor na 22.ª Conferência do Clima da ONU (COP-22), que está sendo realizada em Marrakesh, apesar de a maioria dos países terem reafirmado seu apoio a uma luta contra a mudança climática que a China parece agora disposta a liderar.

"Nenhum movimento do governo dos Estados Unidos vai deter a transição da China rumo a uma economia de baixo carbono", garantiu à imprensa amontoada no pavilhão do gigante asiático na COP-22 um membro da delegação chinesa em Marrakech.

Centenas de pessoas protestam em Marrakesh, no Marrocos, contra a mudança climática e pedem que liderem mundiais tomem ações para conter o efeito (AP Photo/Mosa'ab Elshamy) 

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"Esta transição é um movimento que não será parado, que não vai se deter porque há um novo governo nos Estados Unidos; os esforços da comunidade internacional na luta contra a mudança climática não vão parar", reforçou.

Uma negociadora da União Europeia, no entanto, reconheceu que a vitória eleitoral de Trump caiu "como um balde de água fria" na quarta-feira passada na cúpula de Marrakech, onde negociadores de cerca de 200 países debatem sobre o "livro de regras" que regerá o Acordo de Paris, que acaba de entrar em vigor. Esta fonte lembrou com preocupação como a saída do Protocolo de Kyoto do ex-presidente americano George Bush "incitou" a debandada de um punhado de países desenvolvidos.

O novo presidente eleito dos Estados Unidos expressou publicamente que a mudança climática é "uma farsa inventada pelos chineses para ganhar competitividade", e prometeu em sua campanha que cancelaria a ratificação do Acordo de Paris e os pagamentos a todos os programas de mudança climática da ONU comprometidos pelo governo de Barack Obama.

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Trump anunciou também no sábado que entre suas primeiras dez medidas ao chegar à Casa Branca estará o cancelamento dos próximos pagamentos aos programas climáticos. Essa decisão representaria um grave golpe para os países em desenvolvimento, já que os Estados Unidos, junto com a União Europeia e a Noruega, é um dos maiores doadores em financiamento climático, com US$ 3 bilhões comprometidos até 2020 só para um de seus mecanismos, o Fundo Verde, dos quais a administração Obama só pagou US$ 500 milhões até o momento.

Analistas legais da fundação americana Word Resources Institute presentes em Marrakech explicaram que sair do Acordo de Paris significaria para os Estados Unidos iniciar um trâmite que duraria pelo menos quatro anos. Portanto, a única maneira de poder fazer isso sendo Trump o presidente seria abandonando a própria convenção de mudança climática da ONU, à qual os Estados Unidos pertencem desde sua criação em 1992.

"Acredito que devemos esperar para ver se finalmente Trump tomará efetivamente essa decisão e ver a maneira de conduzi-la com a administração americana. Nossa intenção é que todos sigam a bordo do Acordo de Paris, que é um pacto universal", declarou a chefe de mudança climática da ONU, Patricia Espinosa.

"O Acordo de Paris não vai deixar de funcionar porque uma das partes pode sair, os demais países estão aqui para assegurar que vai seguir adiante e estamos convencidos que os cidadãos americanos estão plenamente comprometidos com esta luta contra o maior problema que a humanidade enfrenta", salientou o presidente da COP-22, o marroquino Salah ad-Din Mezuar.

A maioria dos grupos negociadores, incluindo a delegação russa, sustentam que, por mais paradoxal que pareça, a vitória do negacionista Trump reforçou a intenção dos países de trabalhar juntos para combater a mudança climática, um assunto que vai muito além de quem ocupar a Casa Branca durante os próximos quatro anos.

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Resta ver, no entanto, quem liderará a transição rumo a uma economia de baixo carbono e livre de combustíveis fósseis pactuada pelos países por meio do Acordo de Paris que nos últimos anos tinha os Estados Unidos como seu principal defensor.

Teresa Ribera, diretora do Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e as Relações Internacionais, respondeu que muito provavelmente será a China, um país que "fez da luta contra a mudança climática a maior aposta econômica e industrial de seu desenvolvimento". / EFE

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