Cidade na Pensilvânia vive renascimento após anos de decadência

Scranton viu o ocaso da indústria de mineração e tenta se reerguer investindo em educação e logística

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Por Redação Internacional
Atualização:

Cláudia TrevisanENVIADA ESPECIAL / SCRANTON, EUA

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Na véspera da consagração de Hillary Clinton como candidata democrata à presidência dos EUA, Donald Trump viajou à cidade do pai da democrata, Scranton, e prometeu restaurar a exploração de carvão que moveu a economia local na primeira metade do século 20. Mas o retorno ao passado é impossível. As minas de carvão da região foram inundadas em um desastre que deixou 12 pessoas mortas em 1959.

A volta a uma atividade perigosa e insalubre também não é a aspiração de muitos dos moradores de Scranton, cidade que viveu um processo de decadência industrial desde meados do século 20, quando chegou a ter uma população de 140 mil habitantes. O número de moradores diminuiu a partir da década de 40 e chegou a 76 mil pessoas em 2010.

Praça principal de Scranton, cidade onde o pai de Hillary Clinton nasceu e seu avô trabalhou em uma fábrica têxtil. Foto: Cláudia Trevisan / ESTADAO

Mas o processo se reverteu desde então. Entre 2010 e 2015, a população cresceu 1,4%. Scranton vive agora um processo de revitalização, com expansão dos setores de saúde, educação e logística. A cidade tem quatro hospitais e está no centro de uma região que possui oito instituições de ensino superior. Os edifícios centenários do centro estão sendo transformados em apartamentos para jovens profissionais, que atraem novos restaurantes e cafés para a região.

Ainda assim, o desemprego e o porcentual de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza são superiores à média nacional. "A cidade enfrenta muitos dos problemas das regiões que perderam indústrias e viram a população diminuir, mas ela está claramente em um processo de transição", disse Julie Schumacher Cohen, diretora de relações com a comunidade e o governo da Universidade de Scranton.

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"O discurso de Trump teria mais ressonância há oito ou dez anos", afirmou Michael Allison, professor de Ciência Política da mesma universidade, que se mudou para Scranton há uma década. Nesse período, ele viu o aumento das áreas verdes, o surgimento de novos negócios e a criação de ciclovias. "A ideia de voltar ao carvão não é algo que rende votos por aqui", ressaltou Allison.

Presidente da Câmara do Comércio da Grande Scranton, Robert Durkin nasceu no dia 21 de janeiro de 1959, véspera do acidente na mineradora Knox que inutilizou as reservas de carvão da região. A paisagem de sua infância era marcada pelas cicatrizes deixadas pela mineração: montanhas de resíduos, estruturas abandonadas e espaços vazios subterrâneos que ameaçam sugar o que estava na superfície.

Scranton ganhou importância e simbolismo na corrida presidencial. Foto: Ruth Fremson/The New York Times

Quando a exploração de carvão desapareceu, a cidade passou a ser movida por outras indústrias, entre as quais a de fabricação de discos de vinil e a têxtil. A primeira desapareceu com a expansão de meios digitais. Muitas das produtoras de tecido fecharam ou foram transferidas a outros países. Entre as que desapareceram, está a Scranton Lace Company, onde o avô de Hillary, Hugh Simpson Rodham, trabalhou durante toda sua vida.

Segundo Durkin, a região é um exemplo de recuperação de áreas degradas pela mineração. A exploração de carvão deixou como herança uma malha ferroviária que conecta Scranton a diversas partes dos EUA, o que contribuiu para a expansão de empresas de logística e distribuição, uma das novas vocações da cidade.

O boom da mineração do início do século 20 atraiu para a região imigrantes irlandeses, italianos, poloneses e de outros países do Leste Europeu, o que garantiu a diversidade cultural em uma população majoritariamente branca. Apesar de o catolicismo ser a religião predominante, Scranton tem igrejas ortodoxas, sinagogas e templos protestantes.

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Nos últimos anos, a cidade embarcou em uma nova onda de diversificação, com a chegada de imigrantes latinos e indianos e de refugiados do Butão, Congo e Síria. Em um símbolo das mudanças, uma igreja presbiteriana foi transformada há quatro anos em um templo hindu, frequentado por cerca de 250 famílias. Entre elas, a de Alpesh Patel, que trocou o Estado indiano de Gujarat por Scranton há três anos, com a mulher e os dois filhos. "Nós fomos bem recebidos aqui."

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