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Desilusão econômica ajudou na vitória de Trump

Revolta do eleitorado branco da classe trabalhadora atingido pela globalização e inseguro em um país mais diverso influenciou no resultado

Por Redação Internacional
Atualização:

WASHINGTON -As frustrações acumuladas pelos trabalhadores americanos ao longo das últimas quatro décadas ajudaram a eleger Donald Trump, o primeiro candidato de um dos grandes partidos do país a instigar diretamente e continuamente seus temores econômicos e culturais.

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Foi o momento de os EUA viverem seu "Brexit", uma revolta do eleitorado branco de classe trabalhadora que se sente atingido pela globalização e inseguro diante de um país mais diverso onde seu poder político parecia estar em queda. Foi, ainda, uma rejeição das políticas favoráveis ao empresariado defendidas em diferentes momentos pelas elites de ambos os partidos, que aprofundaram os relacionamentos comerciais com países estrangeiros e favoreceram a entrada de imigrantes.

Donald Trump acumulou polêmicas durante sua campanha presidencial nos Estados Unidos ( Foto: Jim Watson/ AFP)

O eleitor branco sem diploma do ensino superior correspondeu a um terço do eleitorado de 2016. Trump ficou à frente nesse grupo com vantagem de 39%, superando em muito a margem de 25% alcançada por Mitt Romney, candidato republicano em 2012. Esse eleitor foi a base de suas vitórias no Cinturão da Ferrugem, incluindo a vitória expressiva em Ohio e as surpreendentes viradas em Pensilvânia e Wisconsin.

Nas pesquisas de opinião, esse eleitor expressa profundas ansiedades raciais e culturais. Nas pesquisas de boca de urna, ele se mostrou mais propenso que o americano médio a dizer que imigrantes ilegais deveriam ser deportados. Mas essas pesquisas também indicam que preocupações econômicas e a hostilidade contra lideranças em Washington foram fatores muito mais importantes que os aproximaram de Trump.

Metade desse eleitorado afirmou que a economia foi a questão mais importante por trás do voto, com outros 14% apontando a imigração.

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Eleitores de Trump acompanham apuração na Times Square, em Nova York ( Foto: EFE/ALBA VIGARAY)

A maioria afirmou que o comércio internacional tira empregos dos americanos. Três quartos disseram que a economia está "mal" ou "péssima" e quase 8 em cada 10 disseram que sua situação financeira está igual ou pior que há 4 anos. Essas frustrações não são novidade: estão se acumulando há décadas, transbordando com a lenta recuperação após a Grande Recessão. Isso é particularmente verdadeiro entre os homens. De acordo com dados censitários analisados pelo Centro de Prioridades Políticas e Orçamentárias, entre 1975 e 2014, o trabalhador branco sem diploma universitário viu sua renda média cair mais de 20%, ajustados pela inflação. A queda foi de 14% entre 2007 e 2014.

No ano passado, diante de uma situação econômica muito melhor nos EUA e um mercado de trabalho em ajuste, essa renda teve salto de 6%, de acordo com análise do Centro. Mas esse ganho ficou muito aquém do que seria suficiente para compensar as perdas com a recessão, e muito menos a diferença acumulada desde os anos 1970.

Ajdin Ekmescic, de 19 anos, manifesta seu apoio a Donald Trump em frente à Trump Tower, em Nova York Foto: Estadão

Avaliação. "É perfeitamente compreensível que esses trabalhadores se sintam abandonados", disse Jared Bernstein, economista do Centro e ex-assessor do vice-presidente Biden.

Ao mesmo tempo, esses brancos de classe trabalhadora viram os frutos da prosperidade americana cada vez mais concentrados nas mãos dos muito ricos. Cidades "estreladas", como São Francisco, Boston e Washington enriqueceram ainda mais, e foram responsáveis por uma parcela cada vez maior dos novos empregos no país.

Enquanto isso, os brancos sem diploma universitário viram os empregos migrando e as empresas desistindo nas comunidades rurais e cidades menores onde costumam habitar, particularmente no Cinturão da Ferrugem. O desafio de Trump estava em inspirar o trabalhador assalariado sem afastar o eleitor de escolaridade mais alta. Ele conseguiu fazê-lo e, com isso, conquistou a Casa Branca. / THE WASHINGTON POST

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