Em Estado empobrecido, Hillary tenta manter lealdade de democrata branco

Candidata recorre a raízes para tentar mudar opinião dos que estão seduzidos pelo republicano Donald Trump na Pensilvânia; região viu de perto a decadência industrial dos Estados Unidos e hoje integra o chamado ‘cinturão da ferrugem’

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Por Redação Internacional
Atualização:

Cláudia TrevisanENVIADA ESPECIAL / SCRANTON, EUA

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No primeiro evento de campanha que realizaram juntos, Hillary Clinton e o vice-presidente Joe Biden lembraram ontem de suas raízes em Scranton para tentar manter a lealdade dos trabalhadores brancos da Pensilvânia que votavam no Partido Democrata, mas estão seduzidos pela mensagem econômica populista do republicano Donald Trump.

O pai de Hillary nasceu na cidade e seu avô trabalhou durante anos em uma das fábricas têxteis que moveram a economia de Scranton durante parte do século 20. Biden viveu na cidade até os 10 anos, quando seu pai foi com a família para Delaware em busca de emprego. "Sou neta de um operário e filha de um pequeno empresário e sou muito orgulhosa disso", afirmou Hillary.

Joe Biden e Hillary Clinton fazem campanha em Scranton. Foto: Butch Comegys/AP

A candidata reconheceu de maneira indireta o apelo do adversário sobre uma parcela da população local. "Alguns de vocês devem ter amigos aqui no nordeste da Pensilvânia que estão pensando em votar para Trump", afirmou, em referência à região que viu de perto a decadência industrial dos EUA e hoje integra o chamado "cinturão da ferrugem". E ressaltou: "Amigos não deixam amigos votarem em Trump".

Biden fez um discurso em defesa da classe média e afirmou que Hillary é a única candidata que pode responder às aspirações desse segmento da sociedade americana, que ainda sofre as consequências da crise de 2008 e do deslocamento econômico provocado pela globalização.

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Segundo ele, os moradores de Scranton "merecem alguém" que os compreenda e seja feito do "mesmo material" que mescla "determinação e coragem". Repetindo o mote que adotou em seu discurso na convenção democrata, no fim de julho, Biden disse que Trump não tem "nenhuma pista" sobre a vida da classe média do país.

No ano passado, Biden chegou a contemplar a possibilidade de disputar a nomeação democrata com Hillary. Após meses de especulação, ele anunciou em outubro que não seria candidato. Em maio, ele havia perdido seu filho mais velho, Beau Biden, que morreu de câncer.

"Ainda que não seja candidato, não ficarei em silêncio. Eu pretendo falar de maneira clara e contundente, para influenciar tanto quanto possa a posição de nosso partido e para onde devemos ir como nação", escreveu o vice-presidente em outubro.

Ontem, ele fez uma defesa tão enfática de Hillary quanto o seu ataque ao candidato republicano. Biden afirmou que Trump tem um "cinismo ilimitado", representa um risco à segurança dos EUA e adota práticas semelhantes às de terroristas, entre as quais mencionou a intolerância religiosa e a responsabilização de comunidades inteiras pelos atos de poucos.

O vice-presidente também afirmou que as declarações de Trump são utilizadas como instrumentos de propaganda por grupos terroristas. Como exemplo, ele mencionou a afirmação do candidato de que o presidente Barack Obama é o fundador do Estado Islâmico, feita durante comício na Filadélfia na semana passada.

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Hillary tira selfies com eleitoras. Foto: Butch Comegys/AP

Hezbollah. Segundo Biden, a afirmação de Trump foi mencionada como um fato pelo líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em discurso no fim de semana. "Esse não é um simples discurso. Esse é um candidato americano à presidência. Ele fala em nome do Partido Republicano", disse o líder do grupo libanês, que se opõe ao EI e apoia do presidente da Síria, Bashar Assad.

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"Alguém que não tem essa capacidade de julgamento não merece confiança", ressaltou Biden. "Há um cara que me segue com o código nuclear. Deus proíba que algo aconteça com o presidente e eu tenha de tomar uma decisão", afirmou. "Ele não é qualificado para saber o código. Não merece confiança."

Biden também criticou Trump em razão de sua admiração por líderes autocráticos, em especial Vladimir Putin. Segundo ele, a retórica do candidato republicano contribui para o suposto objetivo de Trump de romper com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a comunidade europeia. Biden lembrou que depois do evento de ontem visitaria os Países Bálticos para assegurá-los do compromisso americano com sua defesa diante de uma eventual agressão russa. "Eles estão preocupados."

Trump condicionou a defesa dessas nações às suas contribuições financeiras à Otan e evitou condenar a anexação da Crimeia pela Rússia, sob o argumento de que a população local "parece feliz" sob o domínio de Moscou.

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