Trump nomeia executivo do setor de petróleo como secretário de Estado

Indicação de Rex Tillerson terá de ser aprovada por comitê do Senado no qual republicanos têm estreita maioria; executivo da ExxonMobil recebeu do presidente da Rússia a Ordem da Amizade, principal comenda para estrangeiros

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Por Redação Internacional
Atualização:

Cláudia Trevisan CORRESPONDENTE / WASHINGTON

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Donald Trump ampliou a lista de milionários em seu gabinete com a nomeação, nesta terça-feira, de Rex Tillerson para comandar a política externa dos EUA à frente do Departamento de Estado. Atual CEO da maior empresa petrolífera do mundo, a ExxonMobil, o executivo enfrentará uma dura batalha na confirmação de seu nome pelo Senado em razão de seus laços com a Rússia e o presidente Vladimir Putin.

Tillerson também será questionado sobre potenciais conflitos de interesse entre seus investimentos e decisões que terá de tomar como secretário de Estado. No comando da ExxonMobil, ele se opôs às sanções econômicas impostas pelos EUA à Rússia em 2014, depois da anexação da Crimeia por Moscou. A empresa foi obrigada a suspender planos de explorar petróleo e gás na Sibéria. No Ártico, teve perdas de US$ 1 bilhão.

Rex Tillerson (esq.), principal executivo da companhia americana de petróleo ExxonMobil, deve ser apontado como secretário de Estado da gestão Trump ( Foto: REUTERS/Joshua Roberts)

Segundo a Bloomberg, Tillerson tem 2,6 milhões de ações da ExxonMobil, que valiam US$ 228 milhões no início do mês. No ano passado, ele recebeu US$ 27,3 milhões em salários, bônus e ações. A petrolífera tem operações em 52 países - entre os quais o Brasil - e valor de mercado de US$ 380 bilhões, comparável ao PIB da Colômbia.

O nome de Tillerson precisa ser aprovado pela maioria dos 19 membros da Comissão de Relações Exteriores do Senado, onde os republicanos têm apenas um voto de vantagem. A escolha do CEO foi criticada por democratas, que tendem a se opor a sua indicação. Se eles votarem em bloco e houver deserção de apenas um dos integrantes do partido de Trump, a escolha será rejeitada.

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Um dos dez republicanos que integram a comissão, o senador Marco Rubio disse ontem ter "sérias preocupações" em relação à nomeação do executivo para comandar a diplomacia americana. Segundo ele, o cargo deve ser ocupado por alguém que não tenha potencial conflito de interesses. No sábado, ele afirmou que a "amizade com Vladimir" não era um atributo que gostaria de ver em um secretário de Estado.

Líder dos democratas na comissão, o senador Ben Cardin criticou a escolha. "Estou profundamente preocupado com a eloquente oposição do sr. Tillerson às sanções dos EUA contra a Rússia depois da invasão, ocupação e anexação ilegal da Crimeia, na Ucrânia, e sua relação pessoal próxima com Vladimir Putin", disse Cardin em nota.

Relações. Engenheiro do Texas, Tillerson entrou na ExxonMobil há 41 anos e é CEO desde 2006. O executivo conheceu Putin no fim dos anos 90, quando era responsável pelas operações da companhia na Rússia. Em 2011, a ExxonMobil fechou contratos com a estatal russa Rosneft para exploração de petróleo e gás no Ártico e na Sibéria, negócio afetado pelas sanções dos EUA em 2014. No ano anterior, Tillerson havia sido agraciado por Putin com a Ordem da Amizade, principal comenda dada pela Rússia a estrangeiros.

As críticas aos laços com Moscou foram amenizadas por declarações de apoio de dois pesos pesados do Partido Republicano: Condoleezza Rice e Robert Gates, que ocuparam respectivamente os cargos de secretários de Estado e de Defesa no governo de George W. Bush.

A Exxon-Mobil é uma das clientes da empresa de consultoria mantida por ambos. A escolha também foi elogiada por James Baker, que foi secretário do Tesouro na gestão de Ronald Reagan e de Estado na de George Bush pai.

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"É é uma excelente escolha para secretário de Estado", disse Rice. "Trará uma experiência internacional extraordinária e ampla, profunda compreensão da economia global e crença no papel especial dos EUA no mundo." Como CEO de uma das maiores empresas do planeta, Tillerson conduziu negociações com vários países, muitas vezes em situações adversas.

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