Mais graduado deputado republicano rejeita Trump e amplia cisão partidária

Presidente da Câmara, Paul Ryan, anuncia que concentrará seus esforços na manutenção da maioria conservadora na Casa sem subir no palanque do bilionário; parte importante da base do partido, no entanto, se satisfaz com agressividade em debate

PUBLICIDADE

Por Redação Internacional
Atualização:

 

Cláudia TrevisanCORRESPONDENTE / WASHINGTON

PUBLICIDADE

A agressividade de Donald Trump no segundo debate presidencial dos EUA conteve parcialmente a hemorragia em sua campanha, que parecia desmoronar depois da divulgação, na sexta-feira, de vídeo no qual ele fala de maneira degradante sobre as mulheres. Mas ela não evitou a mais simbólica deserção registrada até agora, a do presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, que representa a crise existencial da legenda.

Em conferência telefônica com parlamentares republicanos na manhã de ontem, o deputado disse que deixará de defender a candidatura de Trump, não participará de atos de campanha a seu lado e centrará seus esforços na manutenção da maioria de seu partido na Câmara. Ainda assim, ele não chegou a dizer que não votará no bilionário.

O presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan. ( Foto: Al Drago/The New York Times)

Com a decisão, Ryan reconhece de maneira implícita que não acredita na vitória do bilionário no dia 8 de novembro. Também evidencia o desconforto crescente do comando da legenda com seu representante na disputa pela Casa Branca. Nas 48 horas posteriores à divulgação do vídeo, cerca de 30 ocupantes de cargos eletivos do partido anunciaram que não votarão em Trump e alguns pediram que ele abandone a candidatura.

No fim da tarde de ontem, o presidente do Comitê Nacional Republicano, Reince Priebus, disse em conferência telefônica com republicanos que o comando da legenda continua a apoiar Trump, apesar das deserções recentes. Enquanto parte significativa do establishment republicano rejeita o bilionário, as bases do partido continuam a defendê-lo e foram energizadas por seus ataques à democrata Hillary Clinton no debate de domingo. Em uma das performances de mais baixo nível da história política recente dos EUA, Trump comparou a adversária ao "demônio", ameaçou colocá-la na prisão caso seja eleito e usou escândalos sexuais do marido dela, o ex-presidente Bill Clinton, para atacá-la.

Publicidade

O presidente da Câmara dos Deputados não falou publicamente sobre a decisão de abandonar a defesa de Trump, mas a reação a ela foi imediata. "Paul Ryan deveria gastar mais tempo em equilibrar o orçamento, empregos e imigração ilegal e não gastar seu tempo combatendo o candidato republicano", disse Trump em sua conta no Twitter. Seus aliados usaram as redes sociais para qualificar Ryan de traidor e apresentá-lo como representante da elite desconectada com os eleitores republicanos.

A cisão entre o establishment e as bases do partido se aprofundou desde a divulgação do vídeo no qual o bilionário diz que pode fazer o que quiser com as mulheres por ser famoso. Com os ataques no debate de domingo, Trump tentou desviar a atenção das declarações de natureza sexual e colocar Hillary na defensiva - uma inversão dos papéis do primeiro embate entre ambos, há duas semanas, quando ela partiu para o ataque.

Ainda assim, 57% de entrevistados pela CNN afirmaram que Hillary se saiu melhor do que Trump - ele recebeu 34% das menções. Mas o bilionário venceu o jogo das expectativas e se saiu melhor do que o esperado para 60% dos que foram ouvidos. Hillary surpreendeu positivamente para 39%.

Não está claro qual será o impacto do debate sobre as pesquisas de intenção de voto, mas parece improvável que ele afete a liderança da democrata a um mês das eleições. Em levantamento divulgado ontem pelo Wall Street Journal, 46% dos entrevistados disseram que votarão em Hillary, enquanto 35% escolheram Trump, em um cenário que incluiu os outros dois candidatos na disputa, Gary Johnson e Jill Stein.

Se a opção é só entre Hillary e Trump, a democrata obtém 52% das menções, 13 pontos porcentuais a mais que o opositor. A pesquisa foi realizada sábado e domingo e captou o impacto da revelação do vídeo em que o bilionário fala das mulheres de maneira degradante.

Publicidade

Larry Sabato, do Centro para Política da Universidade da Virgínia, acredita que o debate reforça o "status quo", o que favorece Hillary. Na opinião dele, a vitória da democrata em novembro parece cada vez mais provável.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.