Nível educacional divide eleitores de Hillary e Trump

Bilionário pode ser o primeiro candidato republicano a perder o voto de eleitores brancos com ensino superior nos últimos 60 anos

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Por Redação Internacional
Atualização:

Cláudia TrevisanCorrespondente / Washington

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O nível de educação deve ser um dos fatores cruciais na eleição de novembro nos EUA e a distância tão grande entre as preferências dos eleitores com e sem ensino superior nunca foi tão grande. Donald Trump pode ser o primeiro republicano, em 60 anos, a perder a disputa entre brancos que cursaram uma universidade, mas deve conquistar uma fatia maior que seus antecessores entre os brancos de baixa escolaridade.

Em eleições recentes, o nível educacional não tinha um peso relevante. Eleitores com ou sem ensino superior costumavam acompanhar a tendência do eleitorado em geral. A entrada de Trump na disputa, porém, mudou o cenário. Sua retórica anti-imigrante e anti-islâmica afastou grande parte dos que fizeram ao menos faculdade.

Hillary conversa com partidários em Orlando Foto: Estadão

Pesquisa do Pew Research Center (PRC), em agosto, dava a Hillary uma vantagem de 23 pontos porcentuais em relação a Trump nesse grupo: ela tinha 52% das intenções de voto. Trump, 29%. O restante era dividido entre o libertário Gary Johnson e a candidata do Partido Verde, Jill Stein.

Em 2012, o democrata Barack Obama venceu o republicano Mitt Romney entre eleitores com educação superior com uma vantagem de dois pontos porcentuais: 50% a 48%. Entre os que estudaram até o segundo grau, o resultado foi de 51% a 47% "Se a distância se mantiver, será a maior divisão educacional de qualquer eleição das últimas décadas", diz a análise do PRC. Segundo o instituto, a distância é particularmente acentuada entre eleitores brancos.

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Na última eleição, Romney obteve 56% dos votos dos brancos com educação superior, enquanto Obama recebeu 42%. A distância foi maior entre os brancos de baixa escolaridade: 62% a 36%. O comportamento dos dois grupos tende a ser maior agor, quando a maioria dos mais educados tende a votar em Hillary.

Parte desse movimento é provocado pela rejeição a posições de Trump. "Os republicanos, em geral, têm uma posição mais dura em relação à imigração, mas Trump parece ser um nativista e adota um tom muito extremista para eleitores brancos com educação superior", disse ao Estado Kyle Kondik, da Universidade de Virgínia.

"Nativismo" é a palavra da moda da eleição americana e descreve posição política que defende direitos de habitantes estabelecidos de um país em relação a imigrantes. Rejeitada pelos mais educados, a visão xenófoba tem apelo entre os brancos de menor escolaridade. Seis em 10 eleitores brancos sem educação superior são a favor da suspensão temporária da entrada de muçulmanos no país, que foi defendida por Trump. Entre os brancos com ensino superior, a situação é inversa: 60% rejeitam a medida. A deportação de clandestinos é defendida pela maioria dos brancos sem educação superior e rechaçada pela maioria dos que foram à universidade.

Para vencer, Trump precisa ir além de sua base de apoio e atrair votos de moderados e independentes. Ele perdeu terreno nas pesquisas em julho. No entanto, em meados de agosto, ele mudou o comando de sua campanha e ficou mais disciplinado, Suas declarações bombásticas deram lugar a discursos lidos em teleprompters.

Trump também tentou se aproximar dos eleitores negros, movimento que foi interpretado mais como uma tentativa de seduzir eleitores brancos preocupados com a imagem de racismo associada ao magnata.

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Para Kondik, os limites dessa estratégica ficaram claros há duas semanas, quando o republicano reacendeu a polêmica sobre o local de nascimento de Obama. Em 2011, Trump liderou uma campanha que questionava a cidadania do presidente, no que foi interpretado como uma tentativa de tirar a legitimidade do primeiro presidente negro dos EUA. Há nove dias, Trump admitiu o óbvio e afirmou que Obama nasceu no país, menos de 48 horas depois de ter se recusado a fazer o mesmo em entrevista ao Washington Post. "Sua campanha está tentando contê-lo, mas não sei se está funcionando", disse Kondik.

 

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