Por aval no Congresso, nomes fortes de Trump vão contra discurso do chefe

Divergências de nomeados nas audiências no Senado vão desde a questão da tortura, a Rússia e a proibição da entrada de muçulmanos nos EUA

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Por Redação Internacional
Atualização:

WASHINGTON - Os EUA não devem torturar, a Rússia é uma ameaça, um muro na fronteira mexicana é inútil, proibir a entrada de muçulmanos é um erro e a mudança climática é um problema real. As afirmações opostas às do presidente eleito Donald Trump antes de sua ascensão à Casa Branca foram feitas nesta semana por quem ele indicou para dirigir setores-chave do governo.

Em um tuíte nesta sexta-feira, a uma semana de sua posse, Trump escreveu: "Todos meus nomeados para o gabinete parecem bem e fazem um grande trabalho. Quero que sejam eles mesmos e expressem seus pensamentos, não os meus".

Trump acena a simpatizantes na Trump Tower, em Nova York. ( Foto: AFP / Bryan R. Smith)

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A equipe de transição reconheceu que posições beligerantes e nada ortodoxas do presidente eleito, embora úteis numa campanha eleitoral, provavelmente não passariam pelo crivo na sabatina das comissões do Congresso.

O general reformado James Mattis, por exemplo afirmou na quinta-feira que como secretário da Defesa defenderá o acordo nuclear com o Irã, criticado por Trump. "Quando os EUA dão sua palavra, temos de cumpri-la e trabalhar com nossos aliados", afirmou, contrariando a tese de Trump de que as negociações com o Irã levaram a "um dos acordos mais idiotas firmados até hoje".

O escolhido por Trump para ser seu secretário de Estado, Rex Tillerson, discordou do presidente eleito em uma série de assuntos, afirmando que o presidente russo, Vladimir Putin, é uma ameaça regional e internacional que deve ser contra-atacada com "uma demonstração de força proporcional".

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Tillerson disse ainda ser contra uma proibição de entrada de imigrantes muçulmanos e qualificou o compromisso dos Estados Unidos com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de "inviolável" - contradizendo o presidente eleito. O indicado para dirigir a CIA, Mike Pompeo, deputado republicano do Kansas, defendeu as agências de inteligência, que Trump tem criticado.

Sean Spicer, que será o secretário de imprensa da Casa Branca, disse que o magnata escolheu pessoas por sua experiência, não porque acatam suas posições. No entanto, tudo indica que a última palavra sempre será do líder. "No final, cada um deles terá de seguir a agenda e as ideias de Trump", disse Spicer aos jornalistas.

Para a senadora Susan Collins, republicana do Maine, a grande distância entre as opiniões do presidente eleito e as das pessoas por ele indicadas a cargos importantes é inusitada. "Ao que me parece, Trump escolheu assessores que lhe oferecerão opiniões diferentes", disse a parlamentar, integrante da Comissão de Inteligência do Senado, que sabatinou Pompeo. "Seria algo muito saudável. Mas pode enviar mensagens confusas para nossos aliados e nossos adversários."

A posição dos democratas foi mais radical. "Vários indicados tentam se afastar das posições não convencionais do presidente eleito para mostrar para a sociedade que são mais razoáveis", afirmou Chuck Schumer, senador do partido.

Em muitos casos, esses indicados têm um longo histórico de trabalho no serviço público e posições sólidas. A equipe do presidente eleito também reconhece que opiniões foram suavizadas, já que poderiam desagradar até mesmo aos senadores republicanos, que detêm a maioria nas duas Casas do Congresso. Os indicados pareciam determinados a criar a impressão de que suas opiniões prevalecerão numa discussão importante com Trump.

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Durante as sabatinas, os futuros integrantes do governo assumiram posições contundentes contra a Rússia, envolvida na última grande polêmica do magnata. Trump passou um ano defendendo sua disposição de manter um relacionamento vigoroso com Moscou e Vladimir Putin - e apenas nesta semana admitiu o que as agências de inteligência já afirmavam: que o governo russo interferiu na eleição americana de novembro.

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Tillerson foi especialmente questionado pelo senador Marco Rubio, republicano da Flórida, sobre seu antigo relacionamento com Putin quando o americano era diretor da Exxon Mobil, e por defender a suspensão das sanções contra a Rússia. Na sabatina, ele disse que o Kremlin estava por trás das operações de hackers para influenciar na eleição, mas não foi muito mais longe, como Rubio desejava, declarando que a Rússia é uma "nação pária".

Mattis, por sua vez, foi inflexível. "Desde Yalta, temos uma longa lista de momentos em que tentamos nos envolver positivamente com a Rússia. E temos uma lista relativamente curta de sucessos nesse aspecto. Acho que, neste momento, o mais importante é reconhecer a realidade com a qual nos deparamos, com Putin, e admitir que ele está tentando destruir a Otan." / THE NEW YORK TIMES

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