PUBLICIDADE

Presidente do México recebe Trump, que defende direito de construir muro

Peña Nieto, que já comparou candidato republicano com Hitler e Mussolini, acabou alvo de críticas por ter aceitado se reunir com magnata na sede do governo; ex-líder mexicano Vicente Fox protesta: ‘não gostamos dele e rejeitamos sua visita’

Por Redação Internacional
Atualização:

CIDADE DO MÉXICO - Meses depois de fazer declarações xenofóbicas contra os mexicanos, o republicano Donald Trump afirmou ao presidente do México, Enrique Peña Nieto, que os EUA têm o direito de construir um muro na sua fronteira com o país para barrar imigrantes. Em um encontro na Cidade do México, o magnata defendeu a prerrogativa de seu país de levantar uma barreira física em seu território soberano.

PUBLICIDADE

Depois de manifestar seu "grande respeito" pelo povo do México, Trump falou da necessidade da construção de "um muro para acabar com a imigração" na fronteira comum. Ao se apresentar como pré-candidato à Casa Branca, no ano passado, o bilionário afirmou que quando o México envia sua gente para os EUA, "não envia o melhor", mas sim "drogas, crimes e estupros". Ele prometeu, então, construir um muro, que seria pago pelos mexicanos.

Peña Nieto (E) e Trump falam a jornalistas. Foto: Yuri Cortez/AFP

Em entrevista coletiva na residência presidencial de Los Pinos, após uma reunião privada com Peña Nieto, Trump disse que os dois países vão resolver o problema da imigração ilegal, que também envolve a América Central. Segundo ele, na reunião não foi discutido quem pagaria pela barreira.

Ao lado do líder mexicano, o candidato republicano expôs sua visão de um relacionamento de cooperação entre os EUA e seu vizinho do sul, insistindo na polêmica proposta.

Em uma aparente resposta aos ataques do magnata, Peña Nieto, que já comparou Trump a Adolf Hitler, afirmou que os imigrantes mexicanos "são honestos, trabalhadores" e "merecem o respeito de todos".

Publicidade

"A comunidade mexicana nos Estados Unidos contribui todos os dias com seu talento e trabalho para a prosperidade daquele país e é gente honesta e trabalhadora. São pessoas que respeitam a família e a lei", declarou o presidente.

Após o encontro, Peña Nieto disse ter afirmado a Trump que era seu dever defender o povo do México, que estava ofendido com suas declarações. Mais tarde, em entrevista à TV americana CNN, o ex-presidente mexicano Vicente Fox afirmou que a visita foi um "conluio político". "Não gostamos dele. Não queremos ele. Rejeitamos sua visita", disse Fox.

Nas ruas da capital, os mexicanos também demonstraram sua insatisfação contra a visita de Trump em manifestações com cartazes pedindo "Fora Trump" e "Fora EPN (Enrique Peña Nieto)".

"Não estou de acordo com a visita, ele é uma pessoa que nos últimos meses, tem ofendido muito não somente a cultura mexicana, mas todas as pessoas desse país", afirmou a bioquímica Valeria Gómez, que protestava na capital mexicana.

Mexicanos protestam contra vistia. Foto: Alejandro Ayala/AFP

Em um comunicado divulgado à imprensa após a visita, Trump afirmou que, ao defender o muro, sua intenção era proteger os EUA. "Eu amo muito os EUA e quero garantir que o povo dos EUA estará muito bem protegido", afirmou.

Publicidade

A viagem, um arriscado movimento político para Trump dez semanas antes das eleições, foi feita poucas horas antes do aguardado discurso que o bilionário faria ontem à noite no Estado do Arizona sobre imigração ilegal.

PUBLICIDADE

O convite para a visita foi feito por Peña Nieto na semana passada, e também foi direcionado à candidata democrata, Hillary Clinton, que se encontrou com ele em 2014. O analista de segurança mexicano Alejandro Hope afirmou que o presidente queria, na verdade, convidar Hillary, mas isso significaria ter de convidar ambos. "Ninguém imaginou que Trump aceitaria o convite primeiro", disse.

No entanto, internamente, o presidente foi duramente criticado por especialistas e a mídia. "É um erro histórico", disse o conhecido historiador Enrique Krauze. "Você confronta os tiranos, e não os festeja." / REUTERS, EFE, AFP e NYT

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.