Cláudia TrevisanEnviada Especial / Filadélfia, EUA
O republicano Donald Trump disse neste domingo, 24, que os EUA poderão sair da Organização Mundial do Comércio (OMC) caso ele vença a disputa pela Casa Branca, em seu segundo ataque em menos de uma semana a instituições que moldam as relações internacionais há décadas.
Em entrevista à rede NBC, o bilionário reiterou sua proposta de impor tarifas de importação de 15% a 35% sobre produtos fabricados por empresas americanas que transfiram suas linhas de montagem para o exterior. Quando o entrevistador ressaltou que a medida é contrária às regras da OMC, Trump respondeu que elas terão de ser revistas. "Vamos renegociar ou vamos sair", afirmou, em referência à organização de 163 países que regula o comércio internacional. "Você sabe, a Organização Mundial do Comércio é um desastre."
A OMC é um dos organismos criados por inspiração dos EUA e seus aliados europeus desde a 2ª Guerra com o objetivo de regular o comércio e as finanças globais. Entre outros dispositivos, as regras da OMC preveem a proteção da propriedade intelectual e estabelecem punições para países que vendam produtos com preço inferior à de seu custo de produção (dumping). Principal alvo das críticas de Trump na área comercial, a China é o país contra o qual a OMC aplicou o maior número de medidas que punem a prática.
Em entrevista ao New York Times publicada na quinta-feira, Trump colocou em dúvida o compromisso dos EUA de defenderem países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra eventuais agressões da Rússia. Segundo o candidato, isso só ocorrerá se as nações estiverem em dia com suas contribuições financeiras com a instituição.
A declaração de Trump foi criticada dentro e fora dos EUA. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, divulgou nota na qual ressaltou a importância do compromisso de defesa mútua da entidade. "Isso é bom para a segurança da Europa e é bom para a segurança dos EUA. Defendemos uns aos outros. Vimos isso no Afeganistão, onde dezenas de milhares de europeus, canadenses e tropas de nações parceiras estiveram lado a lado com soldados dos EUA."
A posição de Trump encontrou resistência em seu partido. O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, considerou a declaração um "erro de principiante", que indicaria a necessidade de o candidato ser auxiliado por pessoas que o colocariam na "direção correta". O bilionário respondeu a McConnell: "Ele está 100% equivocado se ele disse isso", afirmou na mesma entrevista à NBC.
Trump disse que divulgará nos próximos dias a relação de países "comprometidos pelo terrorismo" que poderão enfrentar restrições para a imigração aos EUA caso ele seja eleito. "Temos problemas na Alemanha e na França", observou. Questionado de maneira específica se a França estaria "comprometida pelo terrorismo", ele respondeu que sim. "E sabe por quê? O erro é deles porque permitiram que essa gente entrasse em seu território". E ressaltou: "Nossa Constituição é grandiosa, mas não necessariamente nos dá direito de nos suicidarmos".