Cláudia TrevisanCorrespondente / Washington
(Atualizada às 20h43) O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, diversificou seu futuro governo com a escolha de duas mulheres para postos-chave e a revelação de que poderá nomear Ben Carson, que é negro, para outro cargo do primeiro escalão. Os anúncios desta quarta-feira, 23, também indicaram que o republicano está disposto a ir além do grupo de leais seguidores e aceita ter no gabinete pessoas que criticaram a sua candidatura.
A governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, será embaixadora do país na ONU. Durante as primárias do Partido Republicano, ela apoiou o senador da Flórida Marco Rubio e atacou de maneira enfática a candidatura de Trump. Quando Rubio abandonou a corrida, ela optou pelo senador Ted Cruz. No fim, disse que votaria em Trump, mas ressaltou que não era uma "fã" do candidato.
Até as escolhas de hoje, todas os indicados para o futuro gabinete de Trump eram homens brancos. Filha de imigrantes indianos, Haley tem 44 anos, não possui experiência em política externa e nunca ocupou um cargo no governo federal.
A governadora traz uma imagem de tolerância a um governo integrado por dois homens acusados de serem racistas: o futuro estrategista da Casa Branca, Stephen Bannon, e o secretário de Justiça, Jeff Sessions.
Depois que um defensor da supremacia branca matou nove negros a tiros em uma igreja da Carolina do Sul, Haley pressionou a Assembleia Legislativa do Estado a retirar de sua sede a bandeira confederada, símbolo do Sul dos EUA que lutou contra a abolição da escravatura na Guerra Civil (1861-1865).
"Para muitas pessoas em nosso Estado, a bandeira representa tradições que são nobres", disse na época. "Ao mesmo tempo, para muitos outros na Carolina do Sul, a bandeira é um símbolo profundamente ofensivo de um passado de opressão brutal", ressaltou.
Haley usou sua experiência no episódio para atacar a candidatura de Trump nas primárias republicanas. "A KKK veio à Carolina do Sul de outro Estado para protestar na sede de nossa Assembleia Legislativa", afirmou, em referência à Ku Klux Klan. "Eu não vou descansar enquanto nós não confrontarmos um homem que escolhe não repudiar a KKK. Isso não faz parte de nosso partido. Isso não é o que nós somos."
Pouco antes do comício, Trump havia se recusado a rejeitar o apoio de um dos líderes do grupo supremacista branco durante entrevista à CNN - diante da reação negativa, o candidato repudiou a adesão mais tarde.
Durante a campanha, Trump também atacou Haley. "Ela é muito fraca em imigração", disse em entrevista à Fox em janeiro. "O povo da Carolina do Sul está constrangido com Nikki Haley", escreveu em sua conta no Twitter em março.
Educação. A outra mulher do gabinete de Trump será Betsy DeVos, uma bilionária doadora do Partido Republicano escolhida para chefiar o Departamento de Educação. DeVos tem uma longa trajetória na defesa de reformas no setor. Como presidente da Federação Americana para Crianças elas propõe o modelo de escolas independentes, que recebem recursos públicos, mas são administradas como instituições privadas.
DeVos também tem divergências com posições de Trump. A futura secretária de Educação integra o conselho da Fundação para Excelência na Educação, um grupo liderada pelo ex-governador da Flórida Jeb Bush, que disputou com Trump a candidatura do partido.
Ben Carson, que também disputou com Trump as primárias republicanas, está cotado para assumir o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano, mas o convite formal ainda não havia sido feito pelo presidente eleito, segundo um porta-voz do próprio Carson.
Trump viajou hoje para o resort Mar-a-Lago, na Flórida, onde passará o feriado de Ação de Graças com sua família.