Trump sofre oposição interna a plano de elevar gastos e protestos se ampliam

Empresário recebe sinais de que algumas de suas propostas, como investir US$ 1 trilhão em infraestrutura, não têm apoio entre republicanos conservadores; lobistas e consultores de corporações, criticados por ele em campanha, são cotados para futuro governo

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Por Redação Internacional
Atualização:

WASHINGTON - Enquanto estrutura sua equipe, o presidente eleito Donald Trump recebe sinais de que algumas de suas principais promessas terão dificuldade para sair do papel. Em meio a crescentes protestos, o magnata enfrenta a resistência de conservadores republicanos a seu grande compromisso: um programa de infraestrutura de US$ 1 trilhão.

O projeto, com o qual prometeu construir estradas, túneis, pontes, aeroportos e gerar "milhões de empregos", é inspirado no sistema de autoestradas interestaduais do presidente Dwight Eisenhower.

Protesto em Manhattan. Foto: Eduardo Munoz/Reuters

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A proposta do magnata pode oferecer um teste de como algumas de suas políticas não convencionais serão recebidas pelos republicanos conservadores no Congresso, como escreveu o site Politico. A publicação lembra ainda que o presidente não deixou claro quanto desse valor viria, e se viria, dos cofres federais.

Em entrevista ao site, Dan Holler, porta-voz do grupo Heritage Action for America - braço político do centro de estudos Heritage Foundation - questionou a capacidade do programa de criar os empregos prometidos. Da mesma maneira, segundo ele, conservadores no passado rejeitaram o plano de US$ 832 bilhões do presidente Barack Obama.

"Conservadores não veem gastos em infraestrutura como estímulo econômico e rejeitaram o plano do presidente em 2009", disse Holler. Para ele, o Congresso deverá se concentrar em outros temas da lista de Trump - que talvez não se apresentem da maneira como os eleitores de Trump esperavam. Reportagem do New York Times mostrou que grande parte dos nomes da lista do novo governo inclui lobistas e consultores corporativos que o magnata criticou nos últimos meses.

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Segundo o Times, Trump chegou ao poder em grande parte pelo voto da classe trabalhadora branca que acreditou na sua promessa de "restaurar a voz dos esquecidos, massacrados pelas grandes empresas e por Wall Street"."Mas, em sua transição ao poder, algumas das vozes mais proeminentes serão de conselheiros que vêm das mesmas indústrias para as quais eles estão sendo convidados a ajudar estabelecer um marco regulatório", apontou o jornal.

O jornal cita como exemplo o caso de Jeffrey Eisenach, um consultor que tem trabalhado há anos pelos interesses da Verizon e outros clientes de telecomunicações. Ele chefiará a equipe responsável por escolher os membros da Comissão Federal de Comunicações.

Michael Torrey, lembrou o Times, é um lobista que dirige uma empresa que fez milhões de dólares ajudando a indústria alimentícia, com clientes como a American Beverage Association e a gigante Dean Foods. Ele ajuda a escolher os nomes do Departamento de Agricultura.

O jornal explica que as pessoas na lista são especialistas bem estabelecidos sem interesses claros em ajudar clientes do setor privado. "Mas, para críticos de Trump - democratas e republicanos -, a inclusão de conselheiros com ligações com a indústria é o primeiro sinal de que ele talvez não siga com todas as suas promessas", afirma a reportagem.

Pressa. A 70 dias do prazo para dar posse ao novo gabinete - com cerca de 4 mil nomes para cargos-chave nas agências do governo -, Trump trocou o responsável pela tarefa. O governador de New Jersey, Chris Christie, será substituído pelo vice-presidente eleito, Mike Pence. Trump argumentou que Pence será mais ágil para ajudá-lo.

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Apesar de Christie ser um dos conselheiros mais próximos de Trump, sua viabilidade como integrante da equipe de transição foi colocada em xeque com o fato de dois de seus mais próximos assessores terem sido condenados em um caso de fraude e conspiração ligado ao escândalo Bridgegate, no qual fechou uma ponte para prejudicar um rival político.

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Se Trump enfrenta resistências internas, nas ruas não é diferente. Desde o dia seguinte às eleições, grupos têm promovido manifestações contra a vitória do magnata.

Trump afirmou no Twitter que os atos - que ganharam força e em alguns casos terminaram em depredação e prisões - eram "injustos". Criticado, voltou atrás e disse que os manifestantes eram apaixonados pelo país, poucas horas depois de acusá-los de serem "manifestantes profissionais" atiçados pela mídia. "Adoro o fato de que os pequenos grupos de manifestantes da noite passada tenham paixão por nosso grande país. Iremos nos unir e ter orgulho!", tuitou. / AP, NYT e REUTERS

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