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Vitória do magnata desfaz esperanças de imigrantes ilegais

Estrangeiros que vivem no país sem documentos passam a temer que Trump cumpra sua promessa de deportação

Por Redação Internacional
Atualização:

HYATTSVILLE, EUA - Claudia Quiñonez voltava para casa de carro na madrugada de quarta-feira, depois de acompanhar o início da apuração da eleição americana com amigos no Estado de Maryland, quando recebeu a notícia: Donald Trump era o próximo presidente dos Estados Unidos. Ela parou o carro no acostamento e chorou.

Claudia, de 21 anos, tinha 11 anos quando ela e a mãe chegaram aos Estados Unidos, vindas da Bolívia, em busca de uma vida melhor. As duas tinham visto temporário, mas ficaram além da validade, o que as tornou imigrantes ilegais.

 Foto: Elaine Thompson/AP

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Mesmo sob uma controvertida política do presidente Barack Obama, Claudia conseguiu sonhar. Sentia-se protegida da deportação e conseguiu uma permissão de trabalho. Arranjou emprego e uma bolsa de estudos para a faculdade. "Eu me sentia prestes a conquistar o sonho americano", disse ela. "Mas agora Trump foi eleito. Não me sinto mais segura", afirmou, já perto das lágrimas. "Posso ser deportada. Minha mãe também."

Na quarta-feira, mais de 11 milhões de imigrantes sem documentos despertaram para a mesma realidade: estava eleito presidente um homem que prometeu erguer um muro na fronteira com o México, chamou latinos de estupradores, assassinos e traficantes de drogas e prometeu começar a deportar assim que assumisse o cargo.

Temores. A vitória de Trump foi um choque para muitos americanos. Para os "indocumentados", porém, foi o próprio futuro que ficou ameaçado. "Passamos a encarara uma nova realidade", disse Jose Antonio Vargas, ex-repórter do jornal The Washington Post que se tornou um ativista contra a deportação de estrangeiros e hoje é talvez o imigrante indocumentado mais famoso do país.

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O governo Obama, mesmo tendo deportado um número recorde de imigrantes, ajudou outros a continuar nos EUA. "No governo Trump, o grau de medo e ansiedade entre os indocumentados vai se aprofundar e se espalhar", disse Vargas, fundador e diretor de organização Define American. No dia da eleição, um homem que reconheceu Vargas na saída do prédio da Fox News pôs a mão em seu ombro e advertiu: "Prepare-se para ser deportado". Vargas disse que ficou arrasado.

Por todo o país, as pessoas estão se perguntando como será a presidência de Trump - como ele tratará o Estado Islâmico, como serão as relações com a Rússia, qual será sua política educacional. Sobre imigração, no entanto, Trump tem sido bem explícito. Ele prometeu não apenas fazer o muro e deportar os "bad hombres", mas triplicar o número de agentes da Imigration and Customs Enforcemente (ICE), o órgão de repressão à imigração ilegal.

A pergunta agora é: quanto do que Trump ameaçou fazer ele vai mesmo fazer? "Ele cumprirá as promessas feitas a sua base", disse Corey Stewart, ex-chefe de campanha do republicano na Virgínia. "Vai ter de construir o muro e de aperfeiçoar o combate à imigração. Foram suas principais promessas de campanha. Terá de cumpri-las, e vai fazer isso."

Reversão. David Martin, que trabalhou no Departamento de Segurança Interna no governo Obama, disse que o programa do presidente para regulamentar vistos de permanência, o Dapa, mantido no limbo desde um impasse na Suprema Corte, "não verá a luz do dia".

Sonhadores como Claudia Quiñonez, que de repente se viram como indocumentados, podem ver suas poucas proteções caírem por terra. Ações de agentes do ICE em fábricas e canteiros de obras - que já ocorriam sob Obama - poderão ser aceleradas. "E sem dúvida vamos ver a construção de algum tipo de muro", disse Martin.

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Mas ele também prevê que as promessas de Trump sobre imigração vão enfrentar pressões políticas e financeiras. O aumento do número de agentes anti-imigração e muros gigantes saem caro. Deportar universitários pode ser politicamente desgastante. "Agora que passou a fase da retórica, vamos ver o que ele vai de fato priorizar", disse Martin.

A vitória de Trump já esfriou um pouco a esperança de uma visão política convencional, segundo Mark Krikorian, do Centro de Estudos de Imigração, um órgão conservador. "Muitos teóricos republicanos e políticos democratas vêm dizendo há anos que os republicanos não conseguiriam chegar à presidência sem adotar uma reforma da imigração abrangente", disse ele. "Bem, isso acabou." / THE WASHINGTON POST

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