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Todos os caminhos levam a Berlim

Dilma Rousseff em Berlim

No final da tarde desta terça-feira (14) a ex-presidenta estará presente no prédio Henry-Ford Bau da Universidade Livre de Berlim (FU Berlin). Nesse mesmo lugar, em 1999, o ex-presidente FHC recebia o título de Honoris Causa. A FU Berlin foi fundada 04. de Dezembro de 1948 no então setor controlado pelas forças militares americanas e marcou o início do conflito Leste-Oeste, a Guerra Fria.

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Por Fátima Lacerda
Atualização:

Convidada pelo o Instituto da América Latina da FU Berlin jutamente com  Fundação Friedrich-Ebert Stiftung ligada aos social-democratas alemães e, há décadas, atuante no Brasil em prestigioso endereço na Avenida Paulista, a ex-presidente conversa em estreita janela temporária com a ex-ministra da justiça, Däubler-Gmelin (75). O título do evento que aconte bem fora do centro da cidade foi agendado para o pacato bairro de Dahlem, parte sudoeste da capital, promete uma discussão ou uma conversa. Segundo informações concedidas por Claudia Freimann, pessoa de contato da Fundação Friedrich-Ebert para assuntos relacionados à imprensa, haverá a possibilidade de perguntas do público, algo que não ficou claro no cartaz de divulgação. Considerando a estreita janela temporária de somente duas horas (17-19hs), não é preciso ter bola de cristal para saber que será tudo muito corrido. "Da escorregada da política para a direita e da politização do Poder Judiciário" é o que consta na divulgação. Consderando as últimas medidas tomadas por Gilmar Mendes, o evento ganhou uma porção extra de atualidade.

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Relevância

A visita da ex-presidente a Berlim da seguimento a sua visita aos EUA, na Universidade de Harvard em abril deste ano. Considerando as viagens de Dilma Rousseff acompanhando o também ex-presidente Lula, especialmente pelo Nordeste do Brasil em pré-período de campanha para 2018, a visita de Dilma pode também ser interpretada como um auxílio eleitoral e um intuito de remobilização de ativistas e grupos de esquerda, radicados em Berlim e muito bem articulados nas redes sociais e além das fronteiras da Alemanha. 

Nas redes sociais a mobilização já vem sendo intensa desde o anúncio da visita da ex-presidente. Brasileiros que moram em outros estados do país, também estarão marcando presença no pacato bairro de Dahlem no final da tarde de hoje (horário berlinense +3 hs).

Em conversa ao telefone com Claudia Freimann, ao perguntar como se a ideia da viagem da ex-presidente, ela desconversou: "Nós ajudamos a realizar a viagem". A ideia teria sido da ex-presidente que teria recebido uma ajuda da Fundação, que sempre foi muito ligada ao Partido dos Trabalhadores no Brasil. "Houve suporte em forma de passagens e hospedagem?", quis saber. "Detalhes internos como esses, não podemos divulgar". Aha.

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Destino político 

É irônico, para dizer ao mínimo, ter a ex-ministra da justiça, Däubler-Gmelin como anfitriã e parceira de conversa com Dilma Rousseff. A ministra com o nome quase impronunciável ocupou a pasta durante o governo Schröder e caiu em desgraça quando, no contexto da Guerra do Iraque, numa ocasião em que discutia com 30 sindicalistas e em presença de um jornalista do jornal regional "Schwäbisches Tagesblatt", esse, documentando tudo em seu caderninho, ela teria comparado os métodos de Bush, com os de Hitler.

Däubler-Gmelin desmentiu e garantiu numa ter feito tal comparação, mas teve que renunciar. Foi a palavra do jornalista e de alguns sindicalistas presentes na roda contra a da ministra. Ela, que assim como Dilma, já andava na mira da mídia. Nesses casos, um erro pode ser fatal. No caso de Dilma, os erros e a falta de soberania foi incontáveis.

A ex-presidente brasileira tinha a legitimidade do voto e cometeu o erro capital em se banhar na zona de conforto e fazer vista grossa com a oposição que estava sendo articulada para lhe esfaquear. Dilma, cercada por péssimos conselheiros se sentiu segura demais pela força do voto enquanto na câmera e no senado as articulações para derrubá-la iam de vento em popa.

As duas mulheres une o destino certeiro de mulheres que querem se manter no alto escalão da política. Däubler-Gmelin por falta de cuidado e frequente destempero e Dilma Rousseff pela teimosia como também pela perda da chance de unir os movimentos sociais resultantes dos protestos de 2013 para fortificar seu respaldo na base da sociedade.

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Para se manter, longamente, no alto escalão da política, mulheres precisam fazer uso do método merkeliano: formar um grupo em torno de si que é fiel até os dentes, articular o tempo todo, ter certeza de que o inimigo mora ao lado e dormir de olhos abertos

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Nas duas últimas visitas do ex-presidente Lula a Berlim (2012 e 2015) o parceiro de diálogo foi, respectivamente o social-democrata Frank-Walter Steinemer, na época Ministro das Relações Exteriores e hoje Presidente da República e pela Secretária Geral do Partido Social-democrata (SPD, na sigla em alemão) em visita em dezembro de 2015 à central do partido, quando prometeu "ir às ruas para defender Dilma da aventura golpista", que viria na sequência, numa intensidade e velocidade jamais vistas na recente história do Brasil. Outra ironia é que Lula foi a desgraça de Rousseff e a esquerda brasileira, que nunca conseguiu se emancipar do seu mentor e do seu mais eficiente cartão-de-visitas. A prova mais incontestável disso, foi a tentativa de colocá-lo como Chefe da Casa Civil em março de 2016, quando seu governo já agonizava e respirava por aparelhos. Gorbachev já havia ensinado poucas semanas antes da queda do Muro de Berlim: "Quem chega tarde demais, é punido pela história".

Links relacionados:

http://www.fes.de/de/referat-lateinamerika-und-karibik/artikelseite-lateinamerika-und-karibik/einladung-zur-veranstaltung-mit-dilma-rousseff-und-herta-daeubler-gmelin-141117-1700-h-fu-berlin/

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