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Todos os caminhos levam a Berlim

G20 em Hamburgo: Zigue Zague e o erro capital de Michel Temer

Na cidade de Hamburgo, os protestos com as mais diversas reivindicações já iniciaram.

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Por Fátima Lacerda
Atualização:

A poderosa editora Gruner + Jahr, entre outras, do Portal Spiegel Online, o mais visitado da Alemanha e a revista "Brigitte" colocou na fachada do seu prédio, cartazes imensos dirigidos ao autocrata turco Erdogan, a Donald Trump e a todos os chefes de estado e de governo que estão estrangulando a imprensa livre e independente em seus países.

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:"Perguntas não podem ser recebidas com torturas", provoca Philipp Jensen redator-chefe da revista "Stern.

"A opinião não pode ser colocada em correntes", alerta Brigitte Huber, redatora-chefe da "Brigitte".

O FCMC, centro de mídia alternativa, com o surpreendente número de 600 jornalistas vindos para a Alemanha dos quatro cantos do mundo e que procuraram uma mídia alternativa em tempos de Fact Checker e Fake News, foi inaugurado hoje (4) em formato de "aluguel" no Estádio Millentor do tradicional clube esquerdista e de engajamento social, o FC St. Pauli, hoje na segunda divisão e que teve em sua longa história, um jogador brasileiro, Leonardo Caetano Manzi, o goiano Leo Manzi.

Percepções equivocadas

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O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan queria "discursar para seus "súditos" ou seguidores turcos que, com passaporte alemão ou ainda em posse de passaporte turco. Erdogan está transformando a Turquia numa ditadura, incluindo meticulosa neutralização do aparato jurídico, com juízes amargurando ou na cadeia ou em municípios afastados dos grandes centros, com mudança constitucional para lhe garantir mais poder e mantém, atualmente, aproximadamente 150 jornalistas presos, a maioria deles sem acusação formal da Promotoria. Erdogan tem como visão política, estrangular a imprensa livre e as (ainda resistentes) forças democráticas em seu país. A prisão por mais de 100 dias do jornalista turco-alemão, e de dupla nacionalidade, Deniz Yücel, a prisão e fechamento de meios democráticos de comunicação é o maior engodo diplomático atual entre Alemanha e Turquia. 

Vladimir Putin também estará em Hamburgo. Em discurso na recente cerimônia de luto em Estrasburgo, sede do Parlamento Europeu, para homenagear o recentemente falecido e ex-chanceler alemão Helmut Kohl, Dmitrij Medwedew, que acumula as funções de Ministro Presidente da Rússia e de pau mandado de Vladimir Putin ficou bem clara a situação de intransponíveis diferenças entre a Rússia e a UE que acaba de renovar as sanções contra o país controlado por Putin devido à fatura ainda em aberto resultante da Anexação da Crimeia à Federação Russa em 2014.

Putin, ex-Chefe da KGB, na Alemanha, não deixou barato e rebateu, congelando a transferência de verbas para o Conselho da UE. O Embargo da Rússia para produtos da zona da UE, tem o bem vindo efeito colateral de aumentar a demanda de produtos internos e movimentar a economia russa. Com a relação com a UE, num patamar torto, Putin chegará a Hamburgo. Vale lembrar que a Convenção, anteriormente denominada de G8 com presença das 8 maiores economias do mundo, há tempos se chama G7, já que a Rússia foi desconvidada. E como Putin, de novo, não deixa barato, poucos dias antes do G20 na cidade mais linda da Alemanha, ele faz faz uma mini convenção com a China em Moscou e elogia "a parceira no âmbito de comércio".

Vaidades sórdidas e pueris

Há pouco tempo, a capa do jornal francês Liberation era titulada "As crianças de Assad" depois do ataque químico sofrido por elas no país que vem sendo destruído: obras consideradas patrimônio da humanidade, civis, homens, mulheres, suas esperanças e seus sonhos. A guerra na Síria não existe e persiste apesar de Putin, mas por causa dele, do seu apoio monetário, militar e logístico ao sistema monstruoso e criminoso do ditador Assad.

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Terra Brasilis

Havia um tempo em que o Brasil estava presente e ativo naquilo que o jargão politico-midiático alemão chama de "Sinteco internacional".

Eurico Miranda, do "Vascão o time da virada, o time do amor" chamaria de "estar nas cabeças", decidindo, dirigindo, participando, cooperando. 

Um erro capital

O atual presidente do Brasil tem um currículo nada invejável, no pouco tempo que ocupa o cargo que não era para ser seu, mas até ai, tudo dantes no quartel de Abrantes ou como gostam de dizer os alemães em situações como essa: "a escolha entre a peste e a cólera". Dilma Rousseff, antecessora do atual presidente palestrava como "estocar o vento" como mostra uma sátira que viralizou nas redes sociais e pecava, dolorosamente, pela crônica falta de soberania: perante os acontecimentos e perante aquele a quem ela devia sua ascensão política, seu cargo e sua submissão, que se mostrou fatal.

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Em 26 de junho, Temer foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot por corrupção passiva em relação com o chefe do Grupo JBS, Joesley Batista que, por uma delação premiada, jogou tudo no ventilador, fez a casa (quase) cair, atrapalhando os planos do presidente em "melhorar a economia do país". Logo depois de tornada pública a denúncia, foi cancelada a ida de Temer para o G20 em Hamburgo na primeira etapa de uma tragédia anunciada.

Brasil, um país forte

Na sexta-feira (30/06), o Ministro Alemão das Relações Exteriores, o social-democrata Sigmar Gabriel, recebeu a imprensa estrangeira no prédio do Ministério para reportar sobre sua viagem a Rússia no dia anterior, falar da proibição que protagonizou evitando que o presidente turco fale para seus "súditos", adubo propício para os que estão cansados de viver uma vida de estrangeiro de segunda classe na Alemanha. A síndrome de vira-lata ela não e "somente" imprevisível, ela é, acima de tudo, perigosa. "A nossa situação com a Turquia está difícil. Não seria o momento para dar solo para que problemas dos turcos sejam abordados na Alemanha". Em seu posicionamento sobre a proibição, para a qual obteve amplo respaldo por parte dos alemães, do tipo "finalmente uma medida de pulso perante a Turquia", já que Angela Merkel não ousa irritar o vaidoso Erdogan com Paúra dele desfazer o pacto que mantém os refugiados na Turquia ou os deportar para o inferno em terra que se tornou a Síria. Em ano de votação geral isso poderia levar Merkel a ter que se aposentar 4 anos mais cedo do que sua agenda política calcula.

Brasil: um país internacionalmente isolado?

Indaguei ao ministro como o governo alemão vê a atual situação do Brasil, mencionei a recém viagem de Angela Merkel à Argentina e ao México, passando ao, largo pelo país continente. Gabriel esbanjou diplomacia: "Claro que nos preocupa muito que esse país tão importante se encontra numa situação instável. O que podemos fazer, fazemos, mas no grosso, isso está nas mãos dos brasileiros" e acrescentou com voz melancólica: "Brasil é tão importante no mundo. Especialmente no continente, mas também no mundo. Esperamos que seja encontrado um caminho para essa crise", finalizou o texto constante na cartilha diplomática. 

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Depois do cancelamento a Hamburgo, o que foi noticiado muito rápida- e brevemente pela imprensa alemã resultou em sensação de alívio. "Nesse momento, estar presente no Brasil é o mais importante" alegava Gabriel na sexta-feira, quando ainda valia o cancelamento anunciado primeiramente.

As gafes feitas na semana passada na Rússia (e não na URSS) e na Noruega com a Primeira-Ministra (e não com a Rainha da Suécia) como mencionado pelo presidente, pouco antes da coletiva de imprensa, deixou brasileiros dentro e fora do país, consternados com seu visível despreparo em viagem de tanta importância como representante da nona maior economia do mundo e de um país de uma riqueza e diversidade cultural incomensurável.

A dinâmica dos fatos não espera e, como o ex-líder soviético M. Gorbachev, sabiamente, declarou nas últimas semanas de existência do Muro de Berlim, quando os chefes do Politbuero ainda teimavam em levar o povo na rédia curta o alimento com migalhas em forma de medidas álibi: "Quem chega tarde demais, é punido pela história".

O bom senso Temer e/ou de seus assessores/conselheiros, e mesmo um surto de "síndrome de Putin" e de última hora e de não querer ficar de fora do "Sinteco politico", do clube exclusivo para poucos, o presidente deu marcha ré revogando sua decisão no final da noite de segunda-feira (03), o que foi anunciado pelo Itamaraty:sim, Temer irá comparecer à convenção do G20 em Hamburgo.

No final da semana passada, entre jornalistas radicados em Berlim, corriam boatos de que Temer, a caminho de Hamburgo. Passaria em Berlim seria recebido pela chanceler, o que o departamento de imprensa do Governo Federal manteve em segredo, decidindo não confirmar. Não se sabe se por falta de informação ou por sigilo cauteloso. 

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O Jornal do Comércio, edição alemã, (Handelsblatt) publicou: "Então agora o Temer vai". No corpo do artigo o jornal afirma "que Temer precisa temer que será retirado do cargo" e ainda informa que um "uma pessoa de confiança de Temer foi preso por obstrução da justiça. Essa pessoa é Geddel Vieira Lima". Como divulgou na terça-feira (04) o "Estado", Geddel foi preso na Bahia pela PF na Operação Cui Bono.

Fontes do jornal "O Globo" afirmam que assessores e consultores de Temer o teriam incentivado a ir a Hamburgo. Por motivos econômicos e para realizar acordos comerciais. O que os consultores do atual presidente não alcançaram é o prejuízo diplomático e de imagem que o Brasil ira sofrer caso o presidente desembarque mesmo na cidade hanseática. Na Alemanha não se faz barraco e não se confronta ninguém em momento de constrangimento. Por isso, e bem provavelmente que Temer tenha papel similar, ao Premier de Montenegro, Dusko Markovic, quando foi empurrado pra escanteio para que Trump ficasse em lugar expressivo na foto de grupo.

A ida de Temer ao G20 será o maior constrangimento que o Brasil terá em sua história de uma jovem e, como os últimos 14 meses puderam mostrar, fragilíssima democracia. Dilma Rousseff tinha péssimos assessores e consultores. Os de Temer conseguem ser, ainda pior.

Links relacionados:

http://www.handelsblatt.com/politik/international/brasilien-praesident-temer-kommt-doch-zum-g20-gipfel/20014720.html

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