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Todos os caminhos levam a Berlim

Ivanka Trump em Berlim: voyeurismo midiático e o bate papo em formato de chá das 5

©Michael Kappeler

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Por Fátima Lacerda
Atualização:

O que Ivana Trump e Barack Obama tem em comum?

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Cada um de sua vez, marcam presença na Alemanha como marqueteiros, como chamativo midiático para eventos ganhem um Upgrade midiático.

A convenção que reuni mulheres dos setores de economia, ciência e sociedade no país do G20 se encontram anualmente para discutir sobre como se organizar melhor, ultrapassar dificuldades. Como em 2017 a Alemanha é a sede da convenção do G20 que acontecerá em junho na cidade hanseática de Hamburgo, mulheres dos 20 países se encontram em Berlim. Esse encontro passaria (quase) despercebido por grande parte da população do país, não fosse a filha do homem, atualmente mais temido do planeta, vir dar um rolé em Berlim.

Ao contrário de Fake News de que Merkel teria, pessoalmente, convidado a filha de Trump para vir a Berlim durante a sua recente viagem aos EUA, de fato foi Stephanie Bschorr (chefe da Associação de empresárias alemães). Com isso, Stephanie garantiu ao evento uma visibilidade nunca antes conquistada. Stephanie nao fez o convite antes de garantir o aval de Angela Merkel, mas o convite não partiu da chanceler.

Quem lê as matérias veiculadas sobre a W20 em Berlim fica desprovido de informações de quem acrescentou mais ao painel. Não foi Mrs. Trump nem muito menos Angela Merkel que parecia aquela atriz que trabalha de ponta e foi contratada de última hora ou aquela que nota que está sobrando na roda.

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Eu sou feminista!

Enquanto a poderosa filha de Trump já foi logo afirmando ser feminista, Merkel que só foi confrontada com essa palavra depois da queda do Muro de Berlim, hesitou, ficou sem palavra. Na Alemanha socialista o feminismo não se fazia necessário. No socialismo real essas mazelas de antagonismos homem x mulher não existem.

Depois que Christine Lagarde, chefe do FMI e Mrs. Trump terem confessado ser feministas, Merkel ficou sem saída, como sempre em coisas mundanas e corriqueiras. A Dr. em física é capaz de compreender rapidamente problemas de grande complexidade, no quesito espontaneidade, Merkel precisa de muitas aulas de recuperação. "Pra falar a verdade, eu quero..." intuiu a chanceler que precisou mais de uns segundos para complementar a frase depois das palmas incentivadores de Lagarde e mandou: "Entre as feministas e eu existem similaridades e diferenças" e mencionou a jornalista e autora Alice Schwarzer, figura-chave emblemática e que surgiu do movimento estudantil de 1968 em Paris. Nesse meio tempo, porém, Alice Schwarzer é acusada de sonegação de impostos e seu grau de simpatia na Alemanha anda pelo nível Ground Zero como feminista radical e odiada igualmente por homens e mulheres. Merkel nunca foi criativa e muito menos espontânea para agregar em forma e conteúdo num painel temático (e que, claro exige espontaneidade) como o de hoje em Berlim. Condecorando Alice Schwarzer, Merkel desacelerou para aquela ou aquele que, ingenuamente, esperava qualquer declaração com mais perfil, mais contraste, mas esse não é o estilo merkeliano. Melhor ficar no mingau do geral e nunca tomar posicionamento  concreto Este não é e nunca foi o ponto forte de Merkel. "Existem feministas que lutaram muito para que tenhamos os direitos que temos hoje", declarou  acrescentando que isso não lhe da o direito de se "autodenominar feminista". Como inúmeros setores da sociedade, Merkel evita falar de "feminismo", o que para muitos e muitas significa mulher feia, frustrada, sem marido em casa  e que não faz a sobrancelha e que anda com bolsa de pano. Em contrapartida, à falta de feminilidade de Merkel, Yvanka. Trump foi um colírio para ávidos olhos midiáticos na secura de 12 anos de uma chanceler, vestida sempre com o mesmo guarda-roupa (so variando nas cores). Nao foi a toa, que  quando a loira, rica, poderosa e filha do ainda mais poderoso chegou na Embaixada dos EUA e "passeou" pelos corredores mórbidos do Memorial pelos judeus europeus vítimas do Holocausto (Holocaust Mahnmal), que fica localizado em frente à embaixada. Fotógrafos tiveram seus momentos de regozijo!

Merkel sem jogo de cintura

Quando Merkel peca na retórica, ela parte para algum senso de humor, algo que todos, sem exceção, ansiosamente sempre aguardam, alguma manifestação de humanidade, por favor e todos sabem: isso é um momento raro. Merkel foi, na melhor das hipóteses, a coadjuvante paga para esticar o tapete para Mrs. Trump.

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Vale lembrar, que enquanto a Ministra do Partido Socialdemocrata, Manuela Schleswig, no comando da pasta das mulheres vem exigindo de sua patroa uma lei que obrigue grandes multinacionais implementarem um percentual de mulheres a ocuparem cargos de confiança, para garantir que os cargos de alto escalão não permanecam um clube do bolinha. Como o partido de Merkel é unha e carne com a indústria automobilística e especialmente liderada e dominada por homens, essa lei nunca chegará.

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Ivanka Trump fez o protocolar, se fez de ingênua declarando ainda estar "no começo" e declarou ter vindo a Berlim para "saber onde pedir ajuda" quando a cobra fumar. Propaganda enganosa é o nome disso.

Que Merkel, hoje, no painel foi só coadjuvante ela tira de letra, vai pra casa numa boa com a certeza de ter feito o melhor para o páis e porque para ela, está em jogo um bem maior: os bons olhos do empresário Trump para a Alemanha. Vemos Merkel alinhavando as relacoes transatlanticas de forma indireta, pela Porta dos Fundos. Espera que Yvanka volte para os EUA com boa impressão do país da cerveja, mas também de tecnologia de ponta na fabricação de carros. Através da conselheira de Trump, Merkel espera bons negócios com Washington e como todo alemão, ela não dá ponto sem nó.

Ivanka na convenção Women 20 Germany 2017, um evento que tem foco temático em 4 pilares: Inclusão das mulheres no mercado de trabalho, Inclusão econômica através de fomento para planos de negócios protagonizados por mulheres, igualdade de gêneros e maior representatividade de mulheres no setor digital foi, somente um chamativo midiático.

Em seu discurso não houve nenhuma frase que angariasse, de fato, a discussão sobre a desvantagem que as mulheres tem em vários setores de trabalho. Ela defendeu seu pai e foi além de qualquer coerência e honestidade atestando que "em âmbito pessoal, ele é um feminista", que é subestimar a inteligência de todos os ali presentes, independente do sexo.

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Que bom que na noite de ontem, o humorista Jan Böhmermann, comediante líder de audiência com um programa de LateNight no canal de cultura (Neo) da rede ZDF, participou do show de 24/04 como convidado do apresentador Seth Meyers e, apesar de visivelmente nervoso, mas com performance nota 10, fez alusão exatamente a frase de Trump que o fez ser odiados pelas mulheres de todo o mundo: "Quando a nossa chanceler veio visitá-lo, a gente ficou preocupado se ele iria "Grab by the p...y", e ele acabou nem dando a mão pra ela", disse ele com seu habitual humor ácido sobre o mico do ano pelo qual Merkel passou na Casa Branca.

Na Alemanha, um país de grande tradição sindical ao mesmo tempo que é um país co-governado pelo Partido Social Democrata (SPD, na sigla) desde 2005 ainda apresenta o quadro de inaceitável desigualdade social em que mulheres, em pleno século XXI ganham 21% menos do que os homens, quando ocupam os mesmos cargos. A chanceler não tematizou o atestado de pobreza para seus 12 anos de governo e Mrs. Trump talvez nem tenha conhecimento dessa injustiça.

Obama, um álibi

Também o ex-presidente dos EUA, servirá como chamativo midiático. No caso do ex-presidente dos EUA o evento é também em Berlim, porém de cunho religioso: o encontro entre 24 e 28 de maio que comemora o 500º aniversário da Reforma Protestante, iniciada quando Martinho Lutero publicou suas 95 Teses na porta da Catedral de Wittenberg.

Com Obama, a estratégia de Merkel é mandar imagens para os EUA como quem diz: "Eu também tenho meus aliados" e uma grande verdade de que "Quem tem amigos, não morre pagão" e, de novo: Merkel NUNCA da ponto sem nó.. Com o índice de popularidade (similar à de um Popstar) que Obama tem na Alemanha, o encontro ao qual geralmente comparecem somente protestantes e religiosos ativos, goza da ironia de ser realizado, logo na cidade mais ateia e mais descrente de tudo  no país.

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Os nostálgicos daquele discurso de Obama em julho de 2008 terão seu regojizo, mesmo sem crer em nem num pedaço de papel. Os pais do Christian, admiradores, praticantes e fiéis seguidores das teses de Lutero, já anunciaram a vinda para Berlim, eles que não perdem o encontro em ano algum, seja lá em que cidade for.

Muitos flashes, pouco conteúdo

Quando Mrs. Trump estiver voltado para os EUA e as imagens de seus vestidos tiverem sido apagadas das memórias dos Paparazzi, será o conteúdo da, natural da Argentina, e hoje Rainha a Holanda, Máxima que ficará na memória de quem esteve presente. Para quem não esteve presente no evento na tarde de hoje, será difícil conseguir informações sobre as declarações de Máxima, que também curtiu em estar em roda prestigiosa, mas que fez juz à viagem que fez de Amsterdã a Berlim: o recado veio de onde menos se esperava: da Rainha!

No final da tarde deste mesmo dia, as ONG's "Misereor" e "Pão para o Mundo" (Brot für die Welt) convidaram Secretários Gerais dos principais partidos para discutir sobre a AGENDA 2030, que tem o intuito de dizimar a fome no mundo e oferecer informações sobre o projeto de cada partido.

Essa discussão, com duração de 3 horas ofereceu, infinitamente, mais conteúdo do que o espetáculo midiático e que mais tinha o formato de um chá das 5 com as participantes do painel como figura decorativa satisfazendo curiosidades pueris de cinegrafistas, fotógrafos e alguns em total regozijo por estarem tã perto da "First Daughter".

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Na quarta-feira (26), segundo dia do "W20 promete oferecer mais conteúdo, com painéis sem auxílios marqueteiros e econômicos e, decerto, mais foco no que realmente importa.

Um artigo veiculado no portal Spiegel Online foi titulado da forma que resume toda a celeuma de hoje em Berlim e onde os existentes problemas das mulheres no mundo, não estiveram na pauta: "Ivanka. A agência de Marketing de Trump".