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Todos os caminhos levam a Berlim

Rio-Berlim: a vitória da Portela, a ascensão dos socialdemocratas e a crônica vista grossa de Angela Merkel

Enquanto no bairro de Madureira, desde a noite passada não ha garçom parado comemorando a vitória da quebra de jejum de 23 anos da Portela e a vitória do Império Serrrano na Série A, em Berlim, vive turbulências políticas.

Por Fátima Lacerda
Atualização:

Depois de uma apuração só para quem tem nervos de aço (e isso a chanceler alemã tem de sobra), a Portela virou o jogo no último quesito (!), o "Enredo". A situação da Mocidade Independente me fez lembrar, entre outros momentos dramáticos, a seleção da França na partida final contra a Itália na Copa da Alemanha em 2006. Não fossem os nervos fracos de Zidane, a Equipe Tricolor teria levado a taça pra Paris. Também a cena com a equipe do filme "Lá La Land" no palco do Kodak Theatre no domingo passado no final da cerimônia do Oscar e claro, do concurso de Miss Universo (2015) e o destino irônico de Ariadna María, Miss Colômbia depois de ter tido o gostinho da coroa na cabeça, ter que entregá-la para, Pia, a representante das Filipinas. Em todos esses exemplos, foi feito justiça, mas como dizem os alemães mais pessimistas: "A vida não é um playground" (em tradução livre).

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A propósito, justiça

Mais um caso de um jornalista preso arbitrariamente estremece e fragiliza ainda mais o relacionamento diplomático entre Alemanha e a Turquia.

Enquanto a Alemanha vive o revival do partido social-democrata (SPD, na sigla) e que, pela primeira vez nos últimos 10 anos ultrapassou o CDU de Merkel na intenção de votos para as eleições de setembro próximo que constituirão o novo governo, o âmbito da política externa para Merkel anda bem árido.

Em entrevista veiculada no portal de notícias ZDF Plus da TV aberta ZDF, o Psicólogo politico e Professor universitário Thomas Kliche analisa o que a imprensa chama de "Schulz bombando": "Essa considerável melhora do SPD nas pesquisas exibem, na realidade, um problema: a necessidade de transformação vindo da esquerda que ate agora não estava sendo personalizada por um líder. Isso mostra que o SPD estava com um problema de recursos humanos e não que Schulz, o candidato do SPD a chancelaria federal, seja um candidato especialmente brilhante". Nas conversas entre amigos e especialmente nos programas de sátira politica o nível de saturação de Merkel como chefe de governo, e gritante. Até há bem pouco tempo, não havia alternativa para a chanceler. O SPD trouxe "a nova brisa" para o setor político, tão saturado depois de 11 anos de Merkel como chefe de governo.

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Em seu Twitter de 28/02 Schulz postou: "O Sr. Erdogan tem que soltar Deniz Yücel assim como todos os outros jornalistas presos por motivo inventado". Schulz sabe que o buraco é mais embaixo, mas está em campanha e por isso, faz uso de imperativismos polêmicos, mas que tem muito pouco a ver com Realpolitik.

Vista grossa o remédio para todos os males?

Claro que o sucesso, a Renaissance dos social-democratas presenteou os eleitores e a mídia alema com um suspense que há muito tempo faltava na política alemã. Essa mesma falta de suspense acontece âmbito futebolístico do campeonato da Bundesliga, especialmente, quando o FC Bayern sai arrematando 3 pontos por onde pasa e condena a quase todos os outros times (com a exceção do Borussia Dortmund) ao ostracismo e os amantes do futebol à uma monotonia insuportável.

O fazer vista grossa é tão intrínseco à personalidade de Merkel como são inseparáveis Eisbein e chucrute, batata e salsicha com molho curry ou simplesmente goiabada com queijo.

Como era de se esperar, Merkel faz vista grossa ao sucesso dos social-democrata achando que sua estratégia de jogo ainda e infalível. Ledo engano. Mesmo que em termos programáticos os dois partidos gozem de incontestável semelhança", Schulz é o cara do momento e se Merkel for reeleita ela percorrerá os 4 anos como um maratonista na reta final de um percurso de 4000 mil metros.

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Um engodo chamado Turquia

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Deniz Yücel, jornalista turco alemão e preso há semanas em Istambul é quem atualmente, mostra de maneira mais nua, a fragilidade diplomática entre Alemanha e Turquia e Merkel, que precisa do Estado autocrata para manter os refugiados longe das fronteiras alemães assegurado por um acordo firmado em março de 2016, reage de forma chorosa, fala de "decepção e amargura" com a decisão do governo turco e diz "esperar" a soltura de Deniz "nos próximos dias". Não é a primeira vez que a chanceler usa palavras de cunho de choradeira para tampar o sol com a peneira, levar o abacaxi para debaixo do tapete e esperar dias melhores.

A vantagem de Deniz Yücel, perante os outros 150 colegas turcos (amargando, sem acusação oficial e sem perspectiva de serem julgados, nas prisões) é ter dupla cidadania. Porem, seu passaporte alemão não lhe trouxe nenhuma vantagem até agora.

O governo turco acusa o jornalista de "fazer propaganda de organizações terroristas". Correspondente na Turquia do jornal alemão Die Welt da poderosa editora Axel Springer Verlag, Deniz esteve entrevistando políticos da organização de liderança curda, PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) e reportou sobre violação de direitos humanos do governo Erdogan contra os curdos. Ao contrário de seus colegas estrangeiros que sempre precisam de autorização especial para atuar como jornalista no país, Deniz tinha vantagem sobre eles por também estar em posse também de um passaporte turco. O jornalista está preso desde 13/02 e foi levado na quarta-feira (01/03) em prisão preventiva fora de Istambul. Entre outras acusações, ele teria feito perguntas "desagradáveis" ao genro do todo-poderoso Erdogan que, por nenhum acaso é tido como uma das pessoas de maior confiança do ditador e é figura-chave no controle total dos meios de comunicação no país.

Ministros socialdemocrata, que atualmente formam a coligação com o partido de Merkel foram bem mais incisivos em suas declarações via Twitter ou em comunicados oficiais dos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça. O partido esquerdista Die Linke, herança política da Alemanha Oriental exige "imediata saída dos soldados alemães da Turquia". Outras vozes tentam o suborno alegando que essa atitude "afasta a Turquia cada vez mais da Europa", em alusão as negociações (intermináveis e com forte caráter de álibi) da Turquia com a UE. Chover no molhado e ver o mundo com os óculos de Pipi Meia-Longa (personagem criada pela autora sueca Astrid Lindgreen) figura onipresente na literatura infantil, caracteriza o "momento Merkel" na Alemanha desses dias. As diferentes reivindicações que pipocam de toda a parte exibem mais do que a fragilidade e o pacto com um diabo chamado Erdogan, mas a falta de unidade e de força politica da UE.

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Na manhã de terça-feira (28) artistas e intelectuais protestaram em frente à embaixada turca em Berlim como também nas redes sociais usando a #hashtag Free Deniz e exibindo cartazes de outros jornalistas críticos ao regime de Erdogan, também presos, sem acusação oficial da Promotoria e sem perspectiva de um processo.

O TAZ, jornal de esquerda e o mais ferrenho da época de Berlim dividida mostrou solidariedade com os jornalistas presos, publicando em sua capa a assinatura dos jornalistas da Turquia e titulou: "Jornalismo não é crime."

A Alemanha, sob o governo Merkel se deixa subornar e se achincalhar por um déspota que em abril próximo tera sacramentado a" reforma constitucional" para deter todos os podres poderes nas mãos. Em 16 de abril, os turcos votarão sobre a introdução do Presidencialismo no país. O governo turco conta também com a população turca residente na Alemanha (1,41 milhão) para dar o aval desejado pelo déspota Erdogan que ri na cara, não só de Merkel, mas de toda a União Europeia em sua maneira de dizer que está se lixando para ameaças da UE de fechar as portas para seu país para um clube que ninguém mais quer entrar.

Merkel, tida como a última moicana, digo líder do mundo livre, exibe um fracasso completo em colocar rédeas num imprevisível e guiado pelo ódio cego, dois ingredientes que já se mostraram perigosos e péssimos aço senadores no âmbito politico. Desse e do outro lado do Atlântico.