Estas mudanças se devem aos seguintes motivos.
1 . Netanyahu quer manter proximidade com nações sunitas - o próprio premiê de Israel Benjamin Netanyahu não vê necessidade de a mudança da embaixada ocorrer agora. Claro que publicamente o primeiro-ministro não dirá isso, mas o faz nos bastidores em Washington. Bibi investiu muito em uma aproximação com nações de maioria sunita do mundo árabe e também da ex-União Soviética como forma de conter o Irã. Ele sabe que os governos destes países, além dos do Egito e da Jordânia, que já possuem relações diplomáticas com Israel, ficariam em situação delicada domesticamente, com a mudança.
- Netanyahu quer conter radicais de seu governo - Na questão dos assentamentos, Netanyahu quer anexar o maior número possível em um futuro acordo de paz com os palestinos. Ao mesmo tempo, o premiê quer conter a voracidade de membros mais radicais de seu partido querendo inclusive a legalização de postos avançados (assentamentos construídos à revelia do governo israelense), o que isolaria internacionalmente o país. Netanyahu sabe disso. Antes, ele tinha o argumento de que isso irritaria Obama. Agora, precisava também que Trump colocasse uns freios em políticos como Naftali Bennett.
- A força do Rei da Jordânia - O rei Abdullah da Jordânia esteve em Washington e explicou para Trump que ele seria o maior prejudicado pela transferência da Embaixada para Jerusalém. Afinal, o monarca é guardião da Esplanada das Mesquitas/ Monte do Templo, tem relações diplomáticas com Israel e possui mais da metade da população em seu país de origem palestina. Obviamente, seria alvo de protestos. Abdullah, que é o líder árabe mais respeitado por republicanos e democratas em Washington, também explicou a Trump como o tema dos assentamentos é delicado
- Arábia Saudita e Egito querem proximidade com Trump (e vice-versa) - A Arábia Saudita e o Egito estão dispostos a trabalhar com Trump e evitaram criticar inclusive o decreto do presidente (derrubado na Justiça) proibindo a entrada de cidadãos de sete países de maioria islâmica e de refugiados de todos os países nos EUA. Embora os líderes destes países avaliem que certos membros do governo Trump como Steve Bannon sejam islamofóbicos e classifiquem o decreto como bloqueio aos muçulmanos, sauditas concordam com posições do president americano e em relação a um endurecimento com o regime de Teerã, maior rival de Riad. Os sauditas querem ainda mais apoio na Guerra do Yemen. Já o regime de Sissi, no Cairo, tem feito lobby para Trump incluir a Irmandade Muçulmana na lista de entidades terroristas do Departamento de Estado. Busca também, claro, manter a mesada que seu país recebe dos americanos
- Israel e Arábia Saudita querem negociar - Israel e Arábia Saudita também demonstraram interesse no médio prazo em uma negociação entre a Liga Árabe e Israel para a resolução do conflito entre israelenses e palestinos. A Autoridade Palestina, bem enfraquecida, seria, no caso, colocada em um segundo plano, com os governos árabes liderando o diálogo. Trump gostou desta via de negociação.
- O Establishment de Washington - Aos poucos, o establishment conservador de segurança de Washington começa a exercer mais força no governo Trump por meio do Departamento de Estado e do Pentágono não apenas em temas como o Oriente Médio como também em China. Aquelas duas semanas em que a política externa de Trump estava nas mãos de nacionalistas como Bannon chegaram ao fim, embora ele ainda exerça enorme influência sobre o presidente. E o establishment tem um consenso de que novos assentamentos e a mudança da embaixada para Jerusalém não trazem benefícios para o processo de paz e tendem a ser prejudiciais.
Mas vamos seguir observando. As mudanças têm sido muito abruptas para ter um cenário geral.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires