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De Beirute a Nova York

Democratas versus Republicanos - Entenda o impasse em Washington

Historicamente, os republicanos sempre foram a favor de redução nos impostos e nos gastos do governo. O setor privado seria o motor da economia. Os democratas, que consideram importante um Estado ativo no processo econômico, defendem mais contribuições da população e também aumento dos investimentos governamentais. Para eles, o setor público, aliado ao privado, pode ser o responsável pelo crescimento.

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Por gustavochacra
Atualização:

Esta divisão se reflete em toda a sociedade americana. Por este motivo, o país costuma se dividir ao meio em eleições. Outros fatores também diferenciam os republicanos e os democratas. Os primeiros tendem a ser mais conservadores em questões sociais, enquanto os outros seriam mais liberais. Há variações em política externa, que influencia no voto em épocas de insegurança, como no pós-11 de Setembro.

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Pessoas que compartem da visão republicana de economia, mas da democrata em questões sociais ou de política externa, são chamadas de independentes. Um exemplo é o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. Pode também acontecer o inverso. Isto é, eleitores mais de esquerda na economia e conservadores em temas sociais, como casamento entre homossexuais, direito ao aborto e porte de armas.

O presidente dos EUA, Barack Obama, é democrata. Ele acha importante o governo ter um papel ativo na economia, conforme prevê a ideologia de seu partido. O Senado também é majoritariamente controlado pelos democratas. Já a Câmara dos Deputados passou para as mãos dos republicanos nas eleições parlamentares do ano passado. Eles não gostam de um envolvimento acentuado do Estado na economia.

No passado, os Estados Unidos vivenciaram outros momentos em que a Casa Branca pendia para um lado e, pelo menos uma das casas do Congresso, para o outro. Não há nenhuma novidade no momento atual. Inclusive, existe uma tradição de enxergar o poder executivo e legislativo em lados opostos como favorável à democracia. Esta seria inclusive uma das principais distinções entre o sistema presidencialista e parlamentarista. No primeiro caso, existe a necessidade do chefe de o governo ceder ao Parlamento, quando este estiver sob controle opositor. No segundo, o primeiro-ministro apenas governará enquanto tiver a maioria parlamentar a seu favor.

Com a chegada do dia 2 de agosto, este debate econômico-político se agravou. Nesta data, o Congresso precisa decidir se eleva ou não o limite de US$ 14,3 trilhões para o Estado pegar o dinheiro emprestado. Os dois lados concordam que esta elevação é necessária. Não é algo que apenas os democratas pedem. Ronald Reagan, ídolo dos republicanos, quando presidente, precisou agir desta forma por 18 vezes. Nunca houve problema.

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Agora, existem obstáculos. Os EUA têm um de seus maiores déficits na história. E os republicanos na Câmara contam com um braço do denominado Tea Party. Esta facção exige uma redução apenas através do corte nos gastos. Já o presidente e os democratas querem uma mistura de aumento de impostos para os mais ricos e redução menor nos gastos, sem afetar programas fundamentais na área da saúde.

Os dois lados usam argumentos em acordo com as suas visões da economia, onde não existe certo e errado, apenas posições distintas. Os republicanos acham que mais impostos reduzirá o investimento do setor privado na economia, o que resultará em mais desemprego e dificuldade para o crescimento. Os democratas discordam. Dizem que apenas os mais ricos e as grandes corporações pagariam mais e eles têm dinheiro sobrando para investir. Além disso, sem este Orçamento, idosos poderiam ficar sem tratamento médico.

Normalmente, haveria negociações como as que vêm ocorrendo. O problema é que alguns membros do Tea Party, novos em Washington, não querem ceder um centímetro. A oposição deles a impostos é quase religiosa e ignora que outros campos, com representatividade popular, como o Senado e a Casa Branca, devem ter seus interesses levados em consideração. Planos alternativos estão sendo elaborados. Precisaríamos de uma bela equação de teoria dos jogos para saber qual o resultado mais provável. Mas falta apenas uma semana. Melhor esperar. Um acordo, se ocorrer, será apenas no último minuto, quando o peso de ceder fica menor diante da proximidade da crise.

Caso os dois lados não se acertem, o risco de investir em papéis dos EUA amentará, o governo não terá dinheiro para pagar as suas contas e a economia, que cresce a passos patéticos, deve voltar a entrar em recessão. A taxa de desemprego, já em 9,2%, pode subir ainda mais.

Obs. Escrevi pelo iPad, que faz correções sozinho. Por favor, me avisem se virem erros

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios 

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