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De Beirute a Nova York

Direto da Rússia - A reeleição de Putin, por Filipe Barini

O texto abaixo foi escrito pelo pesquisador de mídia Filipe Barini a convite do blog direto da Crimeia. Ele foi visiting scholar da Universidade Columbia em Nova York e atualmente realiza pesquisas em São Petersburgo, na Rússia

Por gustavochacra
Atualização:

FILIPE BARINI

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Pensei em várias maneiras de começar este texto sobre o dia seguinte da eleição de Putin na Crimeia. Como o comparecimento às urnas foi alto, como Putin venceu de forma avassaladora, como o anúncio da vitória foi um estopim para uma festa nas ruas de Sevastopol, Yalta e Simferopol. Mas, na verdade, começo o texto dizendo que apenas uma destas suposições acima estava correta.

Vladimir Putin teve na Crimeia e em Sevastopol - que são duas regiões eleitorais diferentes - uma votação digna de nota: 92% em Sevastopol, 90% na Crimeia. Números bem parecidos com os que, há 4 anos, apontavam o desejo da população de fazer parte da Federação Russa. Como escrevi no meu primeiro relato, no sábado, o sentimento patriótico russo era mais do que presente nas ruas, faixas chamando para a eleição e nas conversas com os moradores. "Estamos em casa", dizia um anúncio. Até uma visita do próprio Putin no dia 14 era sinal de que sim, aquela votação específica era vista como um "segundo referendo". Na noite da vitória, a primeira aparição do presidente eleito por mais seis anos foi em um evento que celebrava os 4 anos da anexação da península. Foi ali, em frente aos portões da Praça Vermelha, que Putin liderou a multidão em um grito de "Rússia, Rússia, Rússia".

E aí chegamos àquele momento de tensão em relatos jornalísticos: o "mas". No caso, o "mas" se refere ao domingo, dia da votação. Havia uma seção eleitoral perto do meu hotel e logo cedo fui conferir a situação. Bastante gente, mas sem filas ou tumulto. O mesmo vi em duas outras seções, uma delas ao lado da rodoviária de Sevastopol. Na entrada, além da faixa indicando o número, um grande anúncio que dizia "escolha o presidente, escolha o futuro", que era um dos slogans da campanha do governo pedindo que as pessoas fossem às urnas. Em uma outra seção, perto do centro histórico, um grupo de militares da Frota do Mar Negro, uma das mais prestigiadas da marinha russa, aguardava o momento de votar, sob os olhares de pelo menos 10 jornalistas.

Neste momento, por volta das 12:00, o índice de comparecimento na Crimeia era de 30%. As famílias estavam nas ruas aproveitando o dia razoavelmente ameno - e foi neste momento que os alto-falantes do centro de Sevastopol começam a tocar uma sequência de músicas patrióticas. Canções sobre a guerra, sobre Sevastopol, sobre as glórias da Rússia. Por volta das 18h o comparecimento era de 60%, mas as seções já estavam vazias. Ao final, às 20:00, hora de Moscou, urnas fechadas e a confirmação: o comparecimento dos eleitores na Crimeia ficou abaixo do esperado. Em Sevastopol foram 71,44%, na Crimeia 71,55%. A festa que mencionei no início se resumiu a um grupo de eleitores de Putin reunidos diante do memorial aos mortos no Cerco a Sevastopol e a um balão que levantou voo na entrada do porto. Às 22:00 já não se falava mais de política.

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Apesar do sentimento geral de que a Crimeia melhorou após a anexação pela Rússia, as pessoas reclamam da economia. Os preços são similares aos de Moscou ou São Petersburgo, as cidades mais ricas do país. Mas o poder aquisitivo das famílias que moram na península é substancialmente menor.  Não chega a ser algo preocupante - ou mesmo algum sinal de saudosismo da população local sobre a Ucrânia. Mas provavelmente vai resultar em uma série de novas ações para aquecer a economia da região, especialmente no turismo. Mesmo com as restrições impostas por alguns países a viagens à Crimeia, a expectativa é de um número alto de turistas durante o verão e durante a Copa do Mundo.

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