Foto do(a) blog

De Beirute a Nova York

Manual para entender a sucessão real na Arábia Saudita

Na Arábia Saudita o poder passa de irmão para irmão?

PUBLICIDADE

Por gustavochacra
Atualização:

A Arábia Saudita tem governantes idosos, mas é uma monarquia relativamente jovem, com um sistema de sucessão fraternal, de irmão para irmão, e não de pai para a filho como estamos acostumados. Afinal, no Brasil, tivemos, por exemplo, Dom Pedro I passando o poder para Dom Pedro II. O que muda, em monarquias ocidentais historicamente, é se o herdeiro da coroa será o primeiro filho homem ou se, no caso de uma mulher ser a primogênita, ela passa a ser herdeira, como no Reino Unido. Lá, sabemos que será Charles, depois William e depois George. Andrew e Harry dificilmente terão chance. Na Arábia Saudita, em vez do filho, o irmão herda o trono. Andrew seria, portanto, o sucessor de Charles se os britânicos aplicassem o mesmo sistema dos sauditas.

PUBLICIDADE

Quem foi o primeiro rei e seus sucessores?

O poder começou com o a fundação do país pelo rei Abdul Aziz Ibn Saud, que unificou todo o território em 1932. Isto é, há pouco mais de 80 anos, depois do nascimento do rei Abdullah, falecido ontem. Ao todo, o monarca teve dezenas de filhos com suas mais de 20 mulheres oficiais, incluindo 45 meninos, sem falar nos não reconhecidos com amantes. Quando morreu, em 1953, a sucessão passou para o seu filho, o rei Saud. Note, o fundador do país é chamado de Abdul Aziz bin Saud e, seu primeiro filho, Saud bin Abdelaziz al Saud, que reinou até ser deposto em 1964.

O próximo rei foi Faisal, que reinou até ser assassinado em 1975. Ele era irmão de Saud. Assim como os seguintes reis - Khalidi (1975-82), Fahd (1982-2005) e Abdullah, de 2005 até morrer ontem - eram todos irmãos. Mas cada um de uma mãe diferente. Eram, portanto, meio irmãos. O novo rei Salman, de 79 anos, é meio irmão de todos, a não ser de Fahd - os dois também são irmão pelo lado materno.

Mas como definir qual irmão?

Publicidade

A escolha do sucessor, portanto, embora dentro de uma sucessão fraternal, envolve muita política. Os meio irmãos ou mesmo irmãos pelos lados paterno e materno integram diferentes facções da família, cada uma com seus próprios interesses políticos e econômicos. Normalmente, exerceram cargos de poder ao longo da vida. No caso de Salman, foi por 48 anos governador da Província de Riyadh e, desde 2011, ministro da Defesa.

O próximo na linha sucessória será seu irmão Muqrin, com 69 e considerado jovem para padrões da família real saudita. Por muitos anos, ele comandou os serviços de inteligência da Arábia Saudita.

E quando acabarem os irmãos?

Mas, depois de Salman e Muqrin, quem será o próximo da lista de irmãos? Afinal, eles acabam em determinado momento e precisa emergir uma nova geração. Para resolver o problema, o rei Salman, em seu primeiro dia de reinado, já determinou que o seu sobrinho, príncipe Mohammad bin Nayef, será o rei depois de Muqrin, dando início à geração dos netos. Educado nos EUA, também foi treinado pelo FBI e pela Scotland Yard. Desde de 2012, é ministro do Interior. Segunda na linha sucessória, ele sequer é o filho mais velho de seu pai, que tampouco era o mais velho de Abdel Aziz Ibn Saud.

Portanto, chegar ao topo de um hierarquia de 7 mil descendentes diretos do rei Abdul Aziz Ibn Saud não é uma tarefa simples. Normalmente, são os maiores gênios políticos da família.

Publicidade

 Qual o poder do rei da Arábia Saudita?

PUBLICIDADE

O rei da Arábia Saudita, vale lembrar, é um monarca absolutista que reina soberano na Arábia Saudita e comanda a chamada "Casa dos Saud". Além disso, é o custódio de Mecca e de Medina, cidades sagradas para o islamismo, e exerce ainda o cargo de primeiro-ministro. Sem falar, claro, em um quinto das reservas de petróleo do mundo.

Em outro post, falarei mais sobre a Arábia Saudita.

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

Comentários islamofóbicos, antissemitas, anticristãos e antiárabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco são permitidos ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes. Os comentários dos leitores não refletem a opinião do jornalista

Publicidade

Acompanhe também meus comentários no Globo News Em Pauta, na Rádio Estadão, na TV Estadão, no Estadão Noite no tablet, no Twitter @gugachacra , no Facebook Guga Chacra (me adicionem como seguidor), no Instagram e no Google Plus.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.