Diante deste cenário, a elite republicana pode se resignar e aceitar Trump como candidato ou simplesmente ignorar a sua candidatura e se focar na manutenção do Senado. Talvez, o que ocorra é uma conjunção de ambos. Alguns apoiarão Trump e muitos estarão mais preocupados com os republicanos seguirem majoritários no Senado em uma Presidência de Hillary Clinton.
O temor na visão republicana é de, com Hillary eleita e o Senado nas mãos dos democratas, uma geração de juízes extremamente liberais (progressistas) será nomeada para a Suprema Corte. Para barrar esta possibilidade, o Partido Republicano precisa manter a maioria no Senado, atualmente em 54 contra 46. E 11 destes senadores republicanos enfrentarão eleições difíceis e não querem seu nome associado a Trump.
Embora com talvez metade do eleitorado republicano, Trump é visto como tóxico em outras faixas eleitorais republicanas e entre os eleitores independentes, além, claro, dos democratas. O Establishment republicano tampouco suporta as posições econômicas protecionistas de Trump, que bate de frente com a tradição de livre mercado do partido. As elites republicanas também discordam da política externa dele, vista como imatura e isolacionista. Muitos republicanos também não suportam as ofensas que o pré-candidato faz a mexicanos, muçulmanos e mulheres - e mesmo a figuras simbólicas do partido, como George W. Bush e John McCain.
Isto é, para muitos do Establishment republicano, o menos grave dos cenários será tolerar uma Presidência de Hillary, especialmente por a considerarem preparada em política externa (é intervencionista), mantendo a maioria republicana no Senado para ter voz na nomeação de juízes da Suprema Corte e outras decisões importantes - a Câmara seguirá com os republicanos. O próprio Charles Koch, principal doador republicano, já indicou que não apoiará Trump.
Trump, mesmo sem ser favorito contra Hillary, já demonstrou que pode surpreender. Não será fácil. Uma coisa é ter a pluralidade de um partido. Outra será vencer eleições gerais e uma nação cada vez mais diversa como os EUA. Mas este será tema para outros posts.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires