Mas, quando eclodiram algumas ações anti-Assad na Síria em março de 2011, Erdogan suspeitou que o futuro do líder sírio seria o mesmo de Ben Ali, na Tunísia, e Hosni Mubarak, no Egito. Isto é, seria deposto. Quase imediatamente, o líder turco rompeu com Assad e passou a apoiar grupos opositores. Mais grave, decidiu armar rebeldes e permitiu que jihadistas do mundo tudo usassem a Turquia para entrar na Síria e lutar contra o regime de Damasco.
Passados cinco anos, Erdogan claramente fracasso
1. Assad conseguiu se reerguer
Assad controla Damasco e quase todas as principais cidades da Síria - Hama, Homs, Lataquia, Daara, Suwayda e Tartus. Também domina a parte ocidental de Aleppo e deve em breve reunificar a cidade. Os bastiões rebeldes na parte oriental vêm sendo derrubados. Sobrará apenas Idlib das grandes metrópoles nas mãos dos rebeldes
2. Trump beneficia Assad
Assad, além disso, tem sido beneficiado pela nova onda nacionalista ao redor do mundo. Donald Trump, presidente eleito dos EUA, disse na campanha que, diferentemente de Hillary Clinton, não vê como necessário derrubar Assad do poder. Mais importante, o líder americano buscará uma melhor relação com Vladimir Putin, que é um aliado fundamental de Assad na Guerra da Síria.
3. Curdos da Síria se fortaleceram
Em segundo lugar, Erdogan também tem fracassado em seu objetivo de impedir a criação de uma zona autônoma curda no norte da Síria, na fronteira com a Turquia. O YPG, principal grupo curdo-sírio, é um braço do PKK, grupo curdo-turco considerado terrorista pela Turquia.
4. ISIS virou inimigo
Terceiro, muitos dos jihadistas que usaram a fronteira turca para entrar na Síria integram o ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh. Depois de uma relação inicial ambígua, o grupo terrorista passou a realizar mega atentados dentro do território turco. Outros jihadistas, embora não inimigos dos turcos, formaram organizações como a Frente de Conquista do Levante (antiga Frente Nusrah, a Al Qaeda na Síria) e o Jaysh al Islam, que são ultra radicais.
5. Refugiados
Por último, a Turquia terá de lidar com a inclusão de milhões de refugiados sírios que fogem da Guerra da Síria.
Erdogan é, portanto, mais um líder internacional que tomou um cheque mate de Assad.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires