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De Beirute a Nova York

Por que exageram o poder do ISIS na Síria e atenuam no Iraque?

Muito se fala da Guerra contra o ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh) na Síria. Mas parece haver uma amnésia em relação ao confronto contra o ISIS no Iraque, onde o grupo tem uma presença bem mais forte e maior.

Por gustavochacra
Atualização:

Na Síria, o ISIS controla apenas uma cidade relevante - Raqaa, que fica bem distante dos outros grandes centros populacionais. Com uma população de 220 mil habitantes antes de o ISIS assumir o poder, esta cidade possuía pouca importância para a Síria. Não equivale a controlar Damasco ou Aleppo, com milhões de habitantes. Nem mesmo equivale a controlar Homs, Hama, Latakia, Tartus, Daara ou Sweida. Está distante. Seria como os EUA perderem Phoenix, no Arizona. Uma perda, mas não equivale a perder Nova York, Chicago, Washington, Los Angeles, Dallas ou mesmo Detroit.

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Quando observamos no mapa uma faixa controlada pelo ISIS, parece ser um território gigantesco. Mas trata-se de deserto e, por algum motivo, nos mapas de agências internacionais colocam como controle do ISIS, mesmo sem absolutamente ninguém morar neste território. E Palmyra? Palmyra tem importância histórica, mas é uma cidade pequena, turística, no meio do deserto.

Já no Iraque, o ISIS controla simplesmente a segunda maior cidade, Mossul, com mais de 1 milhão de habitantes. Controla também Ramadi, com mais de 500 mil pessoas. E, por incrível que pareça, a força do ISIS no Iraque, que é o berço do grupo, caiu no esquecimento. Por que?

Difícil responder. O Iraque possui uma importância estratégica muito maior para o mundo do que a Síria. É uma nação rica em petróleo, tem fronteira com o Irã e foi ocupada por mais de dez anos pelos EUA. Os americanos gastaram trilhões no Iraque e apenas alguns milhões na Síria. Para completar, o Iraque possui um governo eleito democraticamente e aliado americano. Tem ainda os guerreiros Pesh Merga, também aliados americanos.

Mas, na campanha eleitoral americana, falam do ISIS como se este estivesse apenas na Síria. Alguns dizem que é para ignorar a fracassada guerra do Iraque e fomentar uma nova intervenção militar na Síria com o argumento de que não fazer nada é pior do que intervir. Uma mentira que, repetida muitas vezes, vira verdade. Uma pena. E assim começam a fornecer armas para grupos ligados à Al Qaeda na Síria como se fossem "rebeldes moderados". Eles, em vez de lutar contra o ISIS, lutarão contra um regime laico apoiado pelos russos. Simplesmente, um replay da Guerra do Afeganistão nos anos 1980, que resultou no 11 de Setembro.

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Afinal, os mujahedin armados pelos EUA se tornaram o Taleban e a Al Qaeda, os aliados contra os soviéticos. De novo, alguns republicanos e mesmo democratas aqui nos EUA veem o extremismo islâmico dos "rebeldes moderados" do Jaysh al Islam, Jaysh al Fatah e da Al Qaeda (Frente Nusrah) na Síria como aliados. Enquanto isso, o ISIS cresce no Iraque.

Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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