O ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh, tem como principais alvos muçulmanos, como os xiitas do Iraque, sunitas ou alauítas pró-Assad na Síria e os curdos. Verdade, também leva adiante um genocídio de cristãos assírios e de yazidis. Mas não mata especificamente cristãos. A maior parte de suas vítimas é muçulmana.
O Boko Haram, na Nigéria, mata indiscriminadamente cristãos e muçulmanos. A Al Qaeda, em seus atentados, matava quem estivesse no alvo do atentado, independentemente da religião - dezenas de muçulmanos foram mortos no 11 de Setembro, por exemplo.
O Al Shabab, no passado recente, também matava muçulmanos. Na verdade, ainda mata. Mas na Somália, um país quase 100% islâmico. Milhares foram mortos nas ações do grupo em cidades como Mogadishu. Noto que os alvos são tanto os muçulmanos sufistas como os sunitas - o grupo segue a vertente wahabbita do islamismo sunita, a mesma praticada pela Arábia Saudita.
Com a ofensiva da União Africana, apoiada pelos EUA, o Al Shabab se enfraqueceu internamente na Somália. E o grupo, sem bases, sem portos e sem cidades importantes, decidiu se focar no vizinho Quênia, que comanda as tropas de paz no território somali. Buscando não alienar a população muçulmana queniana, decidiu se focar nos cristãos quenianos em seus atentados, forçando as vítimas a dizerem passagens do Alcorão - se não soubessem, eram mortas.
Esta estratégia não tem funcionado em atrair muçulmanos do Quênia, que não concordam com as táticas grotescas e sanguinárias do Al Shabab e condenam esta organização terrorista. Mas obteve sucesso em provocar divisões na sociedade queniana. Atritos entre muçulmanos e cristãos podem aumentar. E alguns mais radicais podem se associar ao grupo terrorista, hoje com entre 3 mil e 7 mil membros.
Para completar, o Al Shabab, com as derrotas, tem perdido membros que preferem lutar ao lado do ISIS no Iraque e na Síria. Com os ataques, o grupo tenta passar uma imagem de que segue forte, embora esteja enfraquecido.
Este fenômeno de aumento do terrorismo como tática de desespero tende a afetar também o ISIS, com as recentes derrotas do grupo no Iraque - na Síria, o cenário é mais complexo.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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