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De Beirute a Nova York

Qual a estratégia de Macron para resolver a crise no Líbano?

O presidente da França, Emmanuel Macron, conseguiu resolver em parte a crise libanesa provocada pela Arábia Saudita em um show de diplomacia, sabendo usar os históricos laços entre o Líbano e os franceses. Afinal, os franceses conhecem mais do que qualquer nação ocidental as nuances da política em Beirute.

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Por gustavochacra
Atualização:

Basicamente, Macron atuou em três frentes. Primeiro, no âmbito externo, convenceu os EUA e outras nações aliadas a pressionarem a Arábia Saudita a voltar atrás na sua pressão sobre o premiê Saad Hariri, que é visto como um aliado no Ocidente. Neste sentido, foi importante o papel do Departamento de Estado americano. Em segundo lugar, Macron foi pessoalmente a Riad tentar convencer o príncipe Mohammad bin Salman (MBS) a abrandar a sua posição. Tudo, claro, sem acusa-lo formalmente de ter obrigado Hariri a renunciar.

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A outra frente foi dentro da política libanesa. Macron conversou com Michel Aoun, presidente Líbano. Maior líder político cristão do mundo árabe e aliado dos xiitas do Hezbollah, Aoun tem também ótimas relações com a França, onde viveu 15 anos no exílio entre 1990 e 2005. Inclusive, o presidente libanês tem o francês, e não o árabe, como primeira língua. Simultaneamente, Macron manteve contatos com aliados de Hariri no Líbano. Nos dois casos, pediu para que não escalassem a tensão na capital libanesa. Todos concordaram em manter os ânimos calmos.

No fim, Macron convenceu a Arábia Saudita a permitir a saída de Hariri para Paris. Em troca, o regime de Riad não será acusado de ter mantido o líder libanês preso e tampouco de tê-lo pressionado a renunciar. O premiê, claro, não pode voltar atrás fácil na renúncia forçada por Riad. Portanto tentará impor condições para permanecer no cargo ou manterá a renúncia, esperando o resultado das eleições parlamentares no ano que vem. Já Aoun se sente um estadista por estar contribuindo na resolução da crise, fazendo o meio de campo entre os sunitas de Saad Hariri e os xiitas do Hezbollah. E o Hezbollah, claro, celebra o terceiro gol contra saudita, depois do Yemen e do Qatar. Mas o grupo libanês precisa tomar cuidado - ontem mesmo foi designado como terrorista pela Liga Árabe, comandada pelos sauditas. Apenas o Líbano e o Iraque votaram contra. Hoje o persa Irã, e não Israel, é o maior inimigo das nações árabes. O Hezbollah é visto como um posto avançado iraniano na região. Mas este será tema para outro texto.

 

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