O que a Síria, Iraque, Líbia, Afeganistão e Yemen têm em comum? Todos são Estados falidos, em guerra civil. O ISIS não consegue se expandir para nações um pouco mais estáveis na região, como o Líbano e a Jordânia. Sim, há células do ISIS na Turquia, Egito (Sinai) e mesmo na Europa. Mas eles não controlam territórios.
Estes países seguirão com presença do ISIS enquanto houver instabilidade
. Na Síria, há uma possibilidade cada vez maior de o regime estabilizar os principais centros populacionais do país. Mas isso não significa reconquistar Raqaa e as regiões na fronteira com o Iraque, bem mais distantes. O ISIS não deve sair de lá tão cedo
. Na Líbia, há um diálogo que não avança entre os dois governos paralelos e as múltiplas milícias envolvidas na guerra civil. O objetivo, ainda distante, seria um governo de união nacional. Este teria condições de derrotar o ISIS
. No Iraque, o cenário seria o mais favorável, pois as Forças Armadas são poderosas, treinadas pelos EUA e basicamente aliada de todo o mundo, incluindo Rússia e Irã. O problema é que o governo iraquiano, mesmo com Haider al Abadi, segue sem ser inclusivo. Os iraquianos deveriam buscar uma balança sectária mais parecida com a do Líbano, onde cristãos, xiitas e sunitas se equilibram, em vez de seguir com os xiitas no domínio, diminuindo os incentivos para os sunitas lutarem contra o ISIS
. No Yemen, grande parte da culpa é da Arábia Saudita. O regime de Riad, com seus bombardeios aos houthis, abriu espaço para o fortalecimento da Al Qaeda na Península Arábica e o ISIS (ambos inimigos dos houthis), antes inexistente no país. Assim como na Líbia, a única alternativa é um governo de união nacional. Mas isso não vai ocorrer no médio prazo
. No Afeganistão, há um governo aliado dos EUA, mas com a redução nas tropas americanas, fica difícil controlar todo o país. O Paquistão também mantém uma agenda particular, atuando por todos os lados. O Taleban se fortaleceu, mas se sente ameaçado pelo ISIS (são inimigos). Não há solução possível, a não ser uma eterna presença americana no país
. No Egito, o regime de Sissi, que é popular, poderia deixar de ser repressivo. Ao prender figuras moderadas da oposição, acaba fazendo com que seus opositores se radicalizem. Caso ele governasse como um líder democraticamente eleito, o país ficaria muito estável
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires