O tema, porém, será os quatro anos da Guerra da Síria e a afirmação do secretário de Estado John Kerry dizendo que, em algum momento, será preciso dialogar com o líder sírio, Bashar al Assad. E ele tem razão. Não haverá conclusão do conflito na Síria sem a participação do regime. Qualquer outra alternativa é utópica.
Provavelmente, a Guerra da Síria, que hoje envolve uma série de conflitos paralelos, não deve ter uma resolução total nos próximos anos. A tendência é um enfraquecimento progressivo do ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh. Outras organizações rebeldes, como a Frente Nusrah (Al Qaeda na Síria) e Jaysh al Islam podem ocupar o vácuo.
Assad, por sua vez, cada vez mais dependente do Irã e do Hezbollah, irá manter o controle dos grandes centros populacionais, como Damasco, Homs, Hama e as cidades mediterrâneas de Tartus e Lataquia. Deve ainda ampliar o seu atual controle parcial de Aleppo. O interior da Síria seguirá com combates. Não será muito diferente da Colômbia nos anos 1990, conforme já escrevi aqui.
Em um período que pode variar de três anos a uma década (talvez mais), os grupos envolvidos e o regime devem chegar a um esgotamento e haverá espaço para uma negociação que coloque um fim à guerra mais sangrenta do século 21. Teremos um número de vítimas superior a meio milhão de pessoas. O contexto deste acordo ainda está distante - até lá, o cenário geopolítico mundial deve ser alterado. No Líbano, uma nação que passou para uma guerra civil proporcionalmente mais violenta do que a da Síria, foram necessários 15 anos até o cessar-fogo e um novo ponto de equilíbrio.
Em duas ou três décadas, existe uma chance de ser possível visitar Aleppo reconstruída - Beirute demorou cerca de 30 anos para se reerguer. Há uma possibilidade grande de a cidade-velha e de o centro da capital síria seguirem praticamente intocados. A geração dos refugiados está perdida. Não será possível voltar no tempo.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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