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De Beirute a Nova York

Quem é Frangieh, favorito para ser o único presidente cristão no Oriente Médio?

No dia 13 de Junho de 1978, Suleiman Frangieh, ainda adolescente, estava em Beirute. Seu pai, Tony Frangieh, um dos mais proeminentes líderes políticos cristãos na Guerra Civil Libanesa (1975-90) e filho de um ex-presidente, também chamado Suleiman Frangieh, estava em sua casa na região de Zgartah, no norte do Líbano, junto com a mulher e a filha, protegido por dezenas de seguranças.

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Por gustavochacra
Atualização:

Mas, naquela noite, uma outra milícia cristã, conhecida como Falange, invadiu sua gigantesca propriedade e matou quase todos os seguranças. Em seguida, assassinou o cachorro. Depois, a filha, seguida pela mulher. O último a ser executado pela facção cristã rival foi o próprio Tony. O episódio ficou conhecido como Massacre de Ehden.

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Suleiman, correndo risco de vida e agora órfão, foi levado para Damasco, onde viveu por anos protegido pela família Assad, de quem é ainda muito próximo. Voltou ao Líbano e, depois da Guerra Civil, foi deputado e ministro uma série de vezes. Nas últimas semanas, despontou como favorito para ser presidente do Líbano.

O cargo de presidente libanês está vago há mais de um ano e meio. O Parlamento, responsável pela escolha, precisa chegar a um consenso sobre quem pode ser o presidente que, por convenção, precisa ser cristão maronita.

Ao longo deste período, houve uma polarização. De um lado, Michel Aoun, um carismático ex-general e mais popular líder cristão do Líbano. Aliado do Hezbollah e de outros grupos xiitas e cristãos na coalizão 8 de Março, como a AMAL, passou anos no exílio na França por ser contra a ocupação síria do Líbano, mas voltou ao país em 2005, se aliando justamente aos seus algozes do regime de Assad. Também tem o apoio do Irã e da Rússia.

Do outro lado, está Samir Geagea, líder miliciano cristão da Guerra Civil, responsável por liderar o massacre contra a família Frangieh (ele diz que se feriu antes das mortes). Passou 11 anos em um calabouço por outros crimes na Guerra Civil. Embora seja extremista cristão, é aliado de facções sunitas e algumas cristãs da coalizão 14 de Março. Tem apoio da Arábia Saudita.

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Nenhum dos dois consegue maioria parlamentar porque drusos seguidores de Walid Jumblat, o fiel da balança, não aceitam nenhum dos dois nomes, pois avaliamque eles polarizariam muito a sociedade libanesa. EUA e França defendem apenas um nome de consenso para manter a estabilidade.

Neste contexto, surgiu o nome de Frangieh. Sunitas e xiitas não teriam muitos problemas com ele. A Síria e o Irã o vêem como um aliado. Falta o aval da Arábia Saudita e, claro, dos rivais cristãos Aoun e Geagea. Não será uma tarefa fácil.

Apenas como curiosidade, assim como o presidente e o chefe das Forças Armadas precisam ser cristãos maronitas, o premiê precisa ser muçulmano sunita; o presidente do Parlamento, muçulmano xiita. Metade do Parlamento tem de ser cristão (maronita, grego-ortodoxo, Melquita, assírio, Siríaco, armênio-orodoxo, armênio-católico, católico-romano e protestante ) e metade precisa ser muçulmano (sunita, xiita, alauíta e druso). O mesmo vale para os cargos no Ministério.

Calcula-se que entre 35% e 40% dos libaneses sejam cristãos. Este número subiria para mais de 60% se levarmos em conta a Diáspora libanesa. Não há censo oficial.

 

 

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