Na minha avaliação, Pence se saiu bem melhor no estilo. Estava calmo e soube falar com enorme eficácia para a audiência. Kaine, por sua vez, parecia nervoso e interrompia o republicano o tempo todo.
Caso Pence fosse o candidato, teria sido uma grande performance. Talvez ele venha a ser, em 2020. Mas o candidato agora é Trump. E, ao longo de uma hora e meia de debate, Pence evitou ao máximo defender seu companheiro de chapa. Ignorava os ataques de Kaine a Trump, como se nada tivesse a ver com o candidato republicano. Somente na imigração e terrorismo, Pence pregou políticas similares às de Trump.
Pence adotou um discurso conservador tradicional do Partido Republicano. Isto é, foi conservador em temas sociais e economia, ao mesmo tempo que defendeu uma postura mais agressiva em política externa. Inclusive, atacou Putin. Não se colocou ao lado de Trump, que não comenta muito temas sociais, é mais à esquerda em alguns temas econômicos como o livre-comércio (é abertamente protecionista) e prega uma política externa mais isolacionista, além de elogiar constantemente Putin. Pence também teve vantagem por não ter sido criticado por suas posições extremistas contra a comunidade LGBT.
Resumindo, o debate servirá para a narrativa de campanha, nos próximos dois ou três dias, se focar em Pence. Isso até ajuda Trump, que tem enfrentado uma sucessão de notícias ruins. Mas este debate cairá no esquecimento assim que Hillary e Trump debaterem no domingo. Pence não é Trump, como ficou claro ontem. E Pence é o estilo de candidato que muitos republicanos sonhavam.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires