Para qualificar para o DACA, estas pessoas precisam viver nos EUA desde antes de 15 de junho 2007, terem menos de 16 anos quando entraram ilegalmente com os pais e não podiam ter mais de 30 quando a legislação foi implementada em 2012. Ao todo, cerca de 700 mil pessoas se registraram para o DACA, sendo a maioria da América Latina, incluindo milhares de brasileiros.
Donald Trump, no ano passado, decidiu acabar com o DACA. Por ter sido uma ordem executiva de Obama, o atual presidente tem poder para anulá-la. Automaticamente, os chamados dreamers podem permanecer até o período que vence sua autorização, que costuma durar dois anos, mas sem direito à renovação. A partir do vencimento, estes jovens que cresceram nos EUA e em muitos casos sequer têm memória do país de origem, correm o risco de serem deportados.
A decisão do presidente gerou pânico entre estes jovens. Agora, Trump fez uma proposta aos democratas. Ele reimplementaria o DACA em troca de os democratas concordarem com pela inclusão no Orçamento de US$ 18 bilhões para a construção/expansão de um muro na fronteira dos EUA com o México. Esta é uma promessa de campanha de Trump. Na época, porém, o então candidato dizia que o México pagaria pelo muro. Agora, porém, tudo indica que o contribuinte (incluindo americanos, residentes e os próprios dreamers) terá de pagar pelo muro pela proposta do presidente.
Os democratas ficam em uma situação delicada. Devem aceitar o custo do muro de Trump, cuja eficácia é questionada, em troca de uma legalização dos dreamers? Alguns podem dizer que o ex-presidente, neste caso, foi hábil ao aplicar a teoria dos jogos, concorde-se ou não com eles. Afinal, antes, para os democratas, o jogo era ser a favor ou contra a construção do muro - eram contra. Não havia como perder. Ao eliminar o DACA, o presidente aumentou seu poder de barganha.
Mas não é tão simples. A favor dos democratas está o fato de Trump não querer ficar associado à deportação dos dreamers, que desfrutam de simpatia da maioria dos americanos. Dois terços dos republicanos e três quartos da população dos EUA apoia uma via para a permanência dos dreamers nos EUA, segundo pesquisa da Universidade Harvard. Além disso, insisto, Trump dizia que o México pagaria pelo muro, não o contribuinte americano.
Alguns podem perguntar o motivo de Trump não conseguir aprovar o muro apenas com o apoio de republicanos, já que ele tem maioria no Senado e na Câmara. O problema é que o presidente precisa de 60 dos cem votos no Senado para aprovar o Orçamento. Como os republicanos possuem 51, seriam necessários votos democratas - e levem em conta que há republicanos contra o muro.