A organização não conquista território há meses. Na verdade, está retaguarda, perdendo sucessivamente áreas sob seu controle no Iraque e na Síria. Mas alguns podem perguntar o motivo de a retomada de Mossul, no Iraque, estar demorando tanto. Na verdade, não está.
1) Mossul é uma cidade que ainda tem 1 milhão de habitantes - chegou a ter mais do que isso no passado. Isto é, recuperar Mossul, como expliquei aqui recentemente, equivale a retomar Recife das mãos de uma milícia extremista como o ISIS. Não é fácil. É uma área urbana bem maior do que Palmyra, Fallujah, Tikrit e Ramadi (cidades onde o ISIS foi derrotado)
2)A operação envolve diferentes forças, muitas rivais entre si, e a coordenação é complicada. O comando é das Forças Armadas iraquianas, com a participação de milícias xiitas, tribos sunitas e guerreiros Pesh Merga do Curdistão. Até pequenos grupos cristãos e yazidis estão envolvidos. Tudo com o amparo dos EUA e do Irã (e até da Rússia). Como escrevi aqui antes, é um Exército como os do Senhor dos Anéis ou os do Game of Thrones
3) Nas outras cidades iraquianas, a frente oeste foi deixada aberta para permitir a saída dos membros do ISIS em direção à Síria. Não houve muita resistência da organização terrorista. Desta vez, o Irã e a Rússia não concordaram e determinaram o cerco total de Mossul porque não querem mais militantes do grupo em Raqqa, na Síria. Portanto os membros do ISIS ficarão em Mossul lutando até a morte. Serão esmagados, da mesma forma que o regime sírio está esmagando rebeldes (muitos deles quase tão extremistas quanto os do ISIS) em Aleppo
Obs. A derrota territorial do ISIS não implica em redução do terrorismo. Ao contrário, nestes momentos, organizações terroristas intensificam seus ataques. Inclusive, as ações terroristas cresceram no Iraque nas últimas semanas
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires