Caso fosse um bombardeio da Rússia ou de Assad em Aleppo, seria notícia no mundo todo. Caso fosse de Israel em Gaza, também. Mas, como escrevi diversas vezes, no Oriente Médio, não interessa a vítima, mas o algoz.
Os sauditas bombardeiam o Yemen indiscriminadamente com o apoio e armamentos dos EUA e de nações europeias. O regime de Riad, certamente o mais radical religioso do mundo, decidiu levar uma intervenção no Yemen para apoiar seu fantoche Abd Rabbuh Masur Hadi, que chegou ao poder depois da Primavera Árabe.
O problema é que Hadi não mandava nem no seu quintal. Acabou sendo deposto por uma aliança dos houthis, que são uma etnia que segue a vertente Zaidi do islamismo xiita e vivem no norte do Yemen, com as forças leais ao ex-ditador Abdullah Saleh. Curiosamente, Saleh era aliado dos sauditas quando estava no poder, mas mudou de lado na Primavera Árabe.
Alguns dizem que os houthis são controlados por Teerã. Bobagem. O Yemen não tem importância para Teerã. Os houthis não são e nada tem a ver com o Hezbollah - a organização xiita libanesa. O apoio iraniano não é tão relevante.
Esta guerra civil basicamente dividiu o Yemen, que, inclusive, era dividido até pouco menos de três décadas atrás entre o norte tribal e o sul comunista. Hoje, o norte está com os houthis e Saleh e o sul, com capital em Aden, com os fantoches sauditas.
A Al Qaeda na Península Arábica, que é o braço mais forte da organização terrorista, e o ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh, dominam importantes porções do Yemen, que é o país mais pobre do mundo árabe, com cerca de 90% da população adulta viciada em qat, além de, depois dos EUA, ter a segunda população mais armada per capita do mundo.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires