"Nunca o caracterizamos como golpe, nem o faremos", diz Vivanco, que nasceu no Chile, mas que já vive há mais tempo nos EUA do que viveu em seu país. "O Brasil enfrenta uma crise política muito profunda, e lida com ela dentro do quadro constitucional. Os aspectos técnicos de orçamento não são nossa especialidade, e a discussão tem aspectos jurídicos e políticos, mas, de acordo com a Constituição, quem tem esse dever é o Congresso, e a maior evidência de que o processo está sendo conduzido de forma constitucional é que a presidente Dilma Rousseff compareceu hoje e está fazendo sua defesa."
Para Vivanco, que acompanha de perto as ações na Comissão da OEA, em Washington, a ação do PT "não tem base jurídica, mas reflete a reação previsível de um partido político prestes a perder poder, e que se utiliza de todas as instâncias e canais a que possa ter acesso". O especialista acrescentou: "O Brasil está dando lições valiosíssimas a esta região, ao mostrar a importância de contar com um poder judiciário independente, que exerce suas missões e defende seus foros à margem de cálculos políticos oportunistas".
Vivanco observa que, em outros países da região, "é usual só se ativarem os mecanismos da Justiça uma vez que o líder político ou empresário está fora do poder". Foi o que aconteceu, por exemplo, com os ex-presidentes Carlos Menem e Cristina Kirchner, na Argentina, cujos processos por corrupção não andaram enquanto eles estavam no cargo. "Uma instituição ganha credibilidade quando se mostra capaz a confrontar quem quer que seja."
O ativista, que veio ao Brasil discutir política externa e direitos humanos, também considera "absolutamente impecável, do ponto de vista dos valores da democracia e da liberdade", a nova posição do Brasil com relação ao governo venezuelano. "A Venezuela nunca devia ter se qualificado sequer como membro do Mercosul, com suas práticas contrárias à liberdade de expressão,com sua captura do Judiciário, seus prisioneiros políticos, os abusos cometidos pela Guarda Nacional Bolivariana e pelo serviço secreto, por seus civis pertencentes a coletivos, armados, com total impunidade e licença para matar", enumerou Vivanco, que em 2008 foi expulso da Venezuela e proibido por lei (chamada de "Lei Vivanco") de voltar lá, por suas críticas ao regime. "Muito menos assumir a presidência do Mercosul, dados os compromissos jurídicos do bloco com a proteção da democracia".
Vivanco considera que o chanceler José Serra "tem sido cada vez mais claro na maneira fidedigna de descrever" o regime chavista, em contraste com a sua colega argentina, Susana Malcorra, que tem assumido "posições ambivalentes" em relação à Venezuela. "À diferença do presidente Mauricio Macri, que tem posições mais consistentes, tudo indica que a ambivalência de Malcorra se deve ao seu interesse de assumir a Secretaria Geral da ONU, e por isso evita ofender a Rússia e a China, que têm poder de veto no Conselho de Segurança e são aliadas da Venezuela."