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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Popularidade de Maduro cai e cresce a fatia dos que defendem sua saída

Depois de permanecer estável nos primeiros meses deste ano ao redor de 33%, a popularidade do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, caiu para 27%, e a fatia da população que defende a sua saída cresceu de 64% para 70%. As sondagens são do Datanálisis, o mais importante instituto de pesquisas de opinião da Venezuela. Os dados refletem as dificuldades cotidianas enfrentadas pelos cidadãos do país: 80% afirmam ter problemas para encontrar medicamentos e 92% consideram a situação ruim ou muito ruim.

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Atualização:

Pelo calendário eleitoral, as eleições para governador deveriam ser em dezembro, mas o governo não as convocou, porque as perderiam, diz Luis Vicente León, diretor do instituto. A lei permite retardar os pleitos por dois anos. As eleições para prefeitos também foram adiadas por dois anos. Só as votações para presidente não podem ser postergadas.

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Entretanto, um pouco como acontece no Brasil, "não há esperanças de que alguém vá resolver os problemas do país",explica León, que veio a São Paulo a convite da Fundação iFHC. "A vitória da oposição nas eleições de 6 de dezembro (para a Assembleia Nacional) foi mais um voto de castigo ao governo do que a favor da oposição." Na visão do especialista, a oposição "deveria ter ido para as ruas mobilizar a população, mas não é uma oposição de massas, e sim de gabinete, está muito dividida sobre como enfrentar Maduro e só se une nas eleições".

Há os radicais, que querem causar a ingovernabilidade, como Leopoldo López, preso em fevereiro de 2014 depois de liderar protestos contra o governo, e a ex-deputada María Corina Machado, cassada no mês seguinte, depois de denunciar a situação do país na Organização dos Estados Americanos. Há os moderados, liderados por Henrique Capriles, governador de Miranda e candidato à presidência em 2012. E a esquerda antichavista. "Esses grupos não podem nem se falar", descreve León.

Até aqui, a explosão da população diante das dificuldades tem sido contida por algumas válvulas de escape, explica o pesquisador. As classes média e alta conseguem proteger-se da inflação de 180% ao ano comprando dólares no mercado paralelo. Há dois câmbios oficiais segundo o tipo de atividade econômica: um a 10 bolívares por dólar e outro a 270. E o paralelo chega a 1.200 bolívares. O governo escolhe quem pode trocar dólar por 10 ou por 270, e no intervalo entre o oficial e o paralelo, empresários e pessoas físicas têm bons ganhos. Entre os pobres, as filas de 7 horas para comprar produtos básicos acabaram se tornando um ganha-pão: eles enfrentam a espera e depois vendem os produtos com algum lucro. "Minha secretária me vende café", exemplifica León.

A lealdade das Forças Armadas ao governo tem sido garantida de duas formas. Militares cubanos espionam os oficiais venezuelanos, para detectar qualquer atividade suspeita. "Nenhum militar se reuniria com um opositor, ainda que esteja bravo." Além disso, os oficiais são beneficiados com atividades econômicas lucrativas. Segundo o analista, 50% das importações são controladas pelos militares; o ministro da Alimentação e o dirigente do órgão responsável pela distribuição de alimentos são generais da ativa.

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"Os oficiais se beneficiam da crise", diz León. "Um general compra frango a US$ 1 o quilo no Brasil e declara a US$ 3. Compra com o dólar a 10 bolívares e vende a 270." Conforme vão subindo de patente, são promovidos para alfândegas mais lucrativas: da fronteira com a Colômbia para a do Brasil, do frango para o ouro, exemplifica o analista. "Para que vai acabar com o governo, quando ainda vai chegar sua vez?"

Mesmo assim, León não descarta a possibilidade de uma convulsão social, desencadeada por um evento inesperado, como ocorreu na Primavera Árabe. Ou a alternância de poder nas próximas eleições presidenciais, no final de 2018.

Assista entrevista em vídeo com Luis Vicente León sobre as estratégias do chavismo de permanência no poder.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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