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Luzes da cidade

Trump estaria mais inclinado a demitir sub-Secretário de Justiça, o chefe do conselheiro Mueller. Advogado do presidente investigado por conduta criminosa.

Promotores federais confirmam que advogado do presidente, Michael Cohen, alvo de uma ação de busca e apreensão ma segunda-feira, 9, está sob investigação por "conduta criminosa." Rede americana diz que Rod Rosenstein, a autoridade do Departamento de Justiça com poder de demitir o conselheiro Robert Mueller, diz esperar sua demissão, depois de uma semana de tensão com a Casa Branca.

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Por Lúcia Guimarães
Atualização:

Rod Rosenstein - Cortesia- Departamento de Justiça  

O sub-Secretário de Justiça americano, Rod Rosenstein, disse a colegas que espera sua demissão a qualquer momento. Rosenstein é quem tem autoridade para demitir o conselheiro especial Robert Mueller, encarregado da investigação sobre a interferência russa na eleição presidencial de 2016. O titular da pasta de Justiça, Jeff Sessions, teve que se afastar da investigação por incompatibilidade, já que ele foi membro ativo da campanha de Donald Trump.

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No começo da semana, Rosenstein atraiu a fúria de Donald Trump por ter autorizado a operação de busca e apreensão no escritório, na residência e no quarto de hotel de Michael Cohen, advogado e aliado de longa data do presidente. A operação foi delegada pelo conselheiro Mueller ao Southern District, em Nova York, que abriga a mais temida equipe de promotores federais do país, responsável por importantes investigações e condenações de terroristas, mafiosos e financistas de Wall Street. O Southern District (Distrito Sul) é apelidado de Corte Mãe.

Os promotores confirmaram que Cohen está "sob investigação por conduta criminosa concentrada, na maior parte, nos seus negócios pessoais." Em documento arquivado num tribunal em Nova York, os promotores chamam atenção para o número mínimo de clientes de Cohen e confirmam que têm em seu poder "comunicações privilegiadas." Parte do texto do documento está coberta por tarja preta, indicando informação classificada.

A ação contra Michael Cohen teve que ser também autorizada por um juiz federal e chamou atenção por sua agressividade. Os agentes queriam, entre outros, documentos ligados aos pagamentos pelo silêncio de duas mulheres que relataram em detalhes relacionamentos que afirmam ter tido com o presidente há pouco mais de uma década. Eles tomaram o celular e o computador de Cohen, que é conhecido pela mania de gravar todas suas conversas por telefone e depois mostrar o áudio para terceiros. A rede ABC anunciou, hoje, que os agentes obtiveram gravações de conversas por telefones.

O presidente, ao ser notificado da batida policial do homem que é mais do que seu advogado e sim um facilitador, explodiu. A repórter Maggie Haberman, do New York Times, talvez a jornalista com maior acesso a Donald Trump e seu círculo mais próximo, disse no Twitter que o presidente estava fora de controle.

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Pela primeira vez, depois da ação do FBI, a Casa Branca não negou que Trump tivesse intenção de demitir o conselheiro Mueller. O presidente disse, no ano passado, que se Mueller tentasse investigar suas finanças e empresas estaria atravessando uma linha vermelha que ele não ia tolerar. Curiosamente, a unidade do FBI que fez as buscas dos documentos de Michael Cohen não foi a de crimes de colarinho branco e sim a especializada em corrupção pública, o que deve ter soado um alarme na Casa Branca.

O nervosismo de Donald Trump aumentou na manhã desta sexta-feira, depois que vazou o conteúdo do livro de James Comey, o diretor do FBI que ele demitiu em Maio de 2017, provocando a nomeação de Robert Mueller. O livro de memórias de Comey, "A Higher Loyalty: Truths, Lies and Leadership" ("Uma Lealdade Maior: Verdades, Mentiras e Liderança", em tradução livre) chega às livrarias na semana que vem, mas vários jornalistas obtiveram cópias e o relato sobre o caráter do presidente é devastador. Comey compara Trump a chefes mafiosos que processou no passado.

Ironicamente, foi o sub-Secretário de Justiça Rod Rosenstein que deu estofo legal para a demissão de James Comey, argumentando que ele tinha conduzido mal a investigação sobre o servidor privado de emails de Hillary Clinton.

Mas, logo depois de demitir Comey, o próprio Trump se contradisse numa entrevista à TV, deixando claro que tinha se livrado de Comey por causa da investigação sobre a Rússia. Esta semana, a imprensa americana revelou que a demissão de Comey é uma das avenidas exploradas pelo conselheiro Mueller para decidir se acusa o presidente de obstrução de justiça.

Até hoje, Rosenstein, um republicano, não tinha dado sinais de ceder à enorme pressão política que a Casa Branca, a Fox News e aliados de Trump fazem contra a ampla investigação de Mueller. O conselheiro já acumula 19 indiciamentos, entre eles, os de 13 cidadãos russos. O ex-chefe da campanha de Trump, Paul Manafort, que não aceitou fazer delação premiada, encara décadas de prisão, em dois julgamentos este ano, por fraude bancária e evasão de impostos. Mas a rede NBC revelou hoje que Rosenstein já espera sua demissão, tendo feito o comentário "Here I stand" (aqui estou), talvez uma referência a um famoso discurso do líder da luta pelos direitos civis, Martin Luther King: "Não posso desdizer nada porque ir contra a consciência não é certo ou seguro. Aqui estou, não posso fazer diferente, que Deus me ajude."

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Uma eventual demissão de Rod Rosenstein não seria o fim da investigação de Robert Mueller, mas poderia criar obstáculos concretos, à medida que um substituto escolhido pelo critério de lealdade a Trump poderia demitir Mueller ou restringir o âmbito e os poderes de investigação.

 

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