Por Helene Cooper, Leslie Kean e Ralph Blumenthal / NYT
WASHINGTON - No orçamento anual de US$ 600 bilhões do Departamento de Defesa, os US$ 22 milhões gastos no Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais foram quase impossíveis de encontrar. Justamente o que o Pentágono queria.
Durante anos, o programa investigou informes de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs), disseram autoridades do Departamento de Defesa, participantes do programa e gravações obtidas pelo jornal The New York Times. O programa era liderado pelo militar oficial da Inteligência Luis Elizondo no quinto andar do Anel C do Pentágono, ao fundo de um labirinto do prédio.
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O Departamento de Defesa nunca havia admitido a existência do programa, que agora diz ter sido encerrado em 2012. Mas seus apoiadores dizem que, apesar de o Pentágono ter encerrado o financiamento da iniciativa naquela época, o programa continua existindo. Nos últimos cinco anos, afirmam eles, autoridades usaram o programa para investigar episódios informados por integrantes do serviço militar enquanto cumpriam alguma tarefa do Departamento de Estado.
O programa ainda obscuro - partes continuam sendo consideradas secretas - começou em 2007 e foi inicialmente financiado em grande parte a pedido de Harry Reid, democrata de Nevada, líder da maioria do Senado na época, e interessado em fenômenos do espaço. A maior parte do dinheiro foi destinada a uma companhia de pesquisa aeroespacial comandada por um bilionário e antigo amigo de Reid, Robert Bigelow, que atualmente trabalha com a NASA na produção de cápsulas expansivas para humanos usarem no espaço.
David Fravor, em sua casa em Windham, New Hampshire, é um ex-piloto da Marinha que diz sentir-se "bastante estranho" por ter presenciado um episódio inexplicável sobre o Pacífico. Sua história chamou a atenção do programa do Pentágono.
Os seguidores relatam um incidente em 2004 que defende a pesquisa de OVNIs alegando que é um tipo de evento digno de mais investigação, e foi estudado por um programa do Pentágono que investiga OVNIs. Os especialistas advertem que em geral existem explicações simples para tais incidentes e desconhecer a explicação não significa que o evento tenha origens interestelares.
O comandante David Fravor e o capitão tenente Jim Slaight estavam em uma missão de treinamento de rotina a mais de 180 km no Pacífico, quando os rádios em cada um dos seus Super Hornets F/A-18F trouxeram um alerta: um oficial de operações a bordo do USS Princeton, um cruzador da Marinha, queria saber se eles estavam carregando armas.
"Dois CATM-9s", respondeu o Comandante Fravor, referindo-se a mísseis falsos que não poderiam ser disparados. Ele não estava esperando qualquer hostilidade na costa de San Diego naquela tarde de novembro de 2004.
O Comandante Fravor, em uma recente entrevista ao The New York Times, lembrou o que aconteceu depois. Parte foi gravada em um vídeo divulgado por funcionários do programa do Pentágono que investigava OVNIs.
"Bem, nós temos um vetor de mundo real para vocês", disse o operador de rádio, de acordo com o Comandante Fravor. Durante duas semanas, o operador disse, o Princeton estava seguindo misteriosas aeronaves. Os objetos apareceram repentinamente a 24,3 quilômetros, e então se precipitaram para o mar, eventualmente parando em 6 km, flutuando. Depois, ou saíram do alcance do radar ou dispararam diretamente para trás.
O operador de rádio deu instruções ao Comandante Fravor e ao Comandante Slaight, que deram um relato semelhante, para que investigassem.
Os dois aviões de combate voaram em direção aos objetos. O Princeton alertou-os quando eles se aproximaram, mas quando eles chegaram "à beira da fusão" com o objeto - linguagem da aviação naval indicando que estavam tão próximos que o Princeton não sabia quais eram os objetos e quais eram os caças - nem o Comandante Fravor nem O Comandante Slaight conseguiram ver o que quer que fosse. Também não havia nada em seus radares.
O Comandante Fravor olhou para o mar. Estava calmo nesse dia, mas as ondas quebravam sobre algo que estava logo abaixo da superfície. Seja o que for, era grande o suficiente para agitar o mar.
Pairando 15 metros acima do mar agitado havia uma aeronave de um certo modo - esbranquiçada - com cerca de 12 metros de comprimento e forma oval. O objeto saltava de forma errática, mantendo-se sobre as ondas agitadas, mas sem se mover em qualquer direção específica, disse o Comandante Fravor. A perturbação parecia com espuma de ondas, ou como se a água estivesse fervendo.
O Comandante Fravor iniciou uma descida circular para olhar mais de perto, mas ao se aproximar, o objeto começou a subir na direção dele. Era quase como se viesse encontra-lo no meio do caminho, disse ele. O comandante Fravor abandonou a lenta descida circular e foi em direção ao objeto.
Mas então o objeto se afastou. "Acelerou como nada que eu já tivesse visto", disse ele. Era "bastante esquisito".
Eles estavam prestes a encerrar a missão quando o Princeton voltou a se comunicar pelo rádio. O radar havia captado de novo o a estranha nave aérea.
"Senhor, você não vai acreditar", disse o operador de rádio, "mas essa coisa está muito perto". "Estávamos a pelo menos 74 km de distância e, em menos de um minuto, essa coisa já estava na nossa frente", disse o comandante Fravor, que se aposentou da Marinha.
Quando os dois aviões de combate chegaram ao ponto de encontro, o objeto havia desaparecido. Os caças voltaram para o Nimitz, onde todos já estavam sabendo do encontro do Comandante Fravor e se divertiam com ele.
Os superiores do comandante Fravor não investigaram mais e continuaram com sua carreira, indo para o Golfo Pérsico a fim de prestar apoio aéreo às tropas terrestres durante a Guerra do Iraque. Mas ele se lembra do que disse naquela noite para um colega piloto que lhe perguntou o que ele pensava ter visto. "Não faço ideia do que foi que vi", o comandante Fravor respondeu ao piloto. "Não tinha plumas, asas ou rotores, mas ultrapassou nossos F-18". E acrescentou: "Eu queria voar em um".
"Internacionalmente, somos o país mais atrasado do mundo nessa questão", disse Roebrt Bigelow em uma entrevista. "Nossos cientistas têm medo de ser condenados ao ostracismo e nossa imprensa tem medo do estigma. China e Rússia são muito mais abertas e trabalham nessa questão com grandes organizações. Países menores como Bélgica, França, Inglaterra, e países da América do Sul como Chile são muito mais abertos também. São proativos e dispostos a discutir o assunto, ao invés de recuarem em razão de um taboo juvenil". / Tradução de Claudia Bozzo