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Donald x Donald: Tusk enfrenta Trump

Em carta aos chefes de Estado e de governo da União Europeia, presidente do bloco afirmou que a chegada do republicano à Casa Branca terá consequências diretas para o Velho Continente

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Por Redação Internacional
Atualização:

Jamil ChadeCorrespondente / Genebra

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Donald alerta: o outro Donald pode significar uma ameaça real à Europa. Numa carta aos chefes de Estado e de governo de 27 países do bloco europeu - o Reino Unido, que negocia sua saída recebeu apenas uma cópia -, o presidente da União Europeia (UE), Donald Tusk, deixou claro que a chegada ao poder de Donald Trump terá consequências diretas para o Velho Continente.

A carta, num tom raramente usado pelos europeus para lidar com seu parceiro estratégico, não deixa dúvidas da preocupação que ronda as altas esferas políticas em Bruxelas. Para o Donald europeu, o bloco pode viver seu período mais difícil em suas seis décadas de história.

Donald Tusk (E) alertou colegas europeus para consequências do governo de Donald Trump (REUTERS/Ints Kalnins; AFP PHOTO / Nicholas Kamm) Foto: Estadão

"A mudança em Washington coloca a União Europeia em uma situação difícil, com a nova administração parecendo querem colocar em dúvida os últimos 70 ano da política externa dos EUA", escreveu Tusk, numa carta obtida pelo Estado. O polonês não fala em nome da Europa. Mas, em seu texto, afirmou que acreditava que a maioria dos líderes do bloco compartilham sua avaliação.

Nas últimas semanas, Trump criticou a política migratória da chanceler alemã, Angela Merkel, chamou a situação dos refugiados na Europa de "horrorosa", classificou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de "obsoleta", ameaçou empresas europeias e foi buscar uma aproximação com a Rússia. Além disso, comemorou o Brexit e indicou que a tendência é de que outros países europeus também deixem a UE.

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Colocando a Casa Branca no mesmo nível de ameaça que outros governos não tão simpático à Europa, Tusk deixou claro que as ameaças precisarão ser lidadas de forma decisiva. Segundo ele, uma China mais determinada, uma Rússia mais agressiva, o terrorismo e "declarações preocupantes da nova administração americana fazem nosso futuro altamente imprevisível".

Conhecido por tratar de problemas de forma explícita, Tusk nunca escondeu seus temores com relação à crise do euro, a situação da Grécia e, mais recentemente, dos refugiados.

Agora, em sua carta, a meta era a de tentar estabelecer o tom às vésperas da cúpula da UE, em Malta, esta semana. "Não podemos nos entregar a aqueles que nos querem mais fracos ou invalidar a relação Transatlântica, sem a qual a ordem global e a paz não podem sobreviver", disse. "Precisamos relembrar a nossos amigos americanos o seu próprio lema: unidos, estamos de pé. Divididos, caímos.".

Tusk também deixou claro que teme um sentimento anti-europeu brotando em diversos países do bloco. Para ele, a desintegração da UE, como previsto por Trump e desejado por grupos de extrema direita, não levaria a maior soberania dos Estados, mas os forçaria a uma "real" dependência em outras potências, como os EUA ou Rússia.

Tusk ainda indicou que a Europa deve usar o protecionismo americano em seu favor, ocupando espaços deixados pelos americanos ao romper com parceiros comerciais. "Devemos usar a mudança de estratégia comercial dos EUA em vantagem para a UE, intensificando nossas negociações com parceiros", disse. "A Europa não deveria abandonar seu papel de superpotência comercial."

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