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Hotel em Miami que reunia negros durante período de segregação racial é reinaugurado

Elegante edifício recebeu grandes celebridades da época, como o boxeador Cassius Clay, o líder Martin Luther King e o cantor de jazz Nat King Cole

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Por Redação Internacional
Atualização:

MIAMI - Após 43 anos de abandono, o elegante Hampton House Hotel, histórico edifício que se transformou em um ponto de encontro da comunidade negra durante os anos de segregação racial nos Estados Unidos, foi reinaugurado este ano, após um processo de remodelação. No momento, ele permanece fechado ao público até que se consiga arrecadar as doações que o permitirão se sustentar economicamente.

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O local quer se transformar em um museu e salão social, e ao mesmo tempo em um tipo de emblema "da memória histórica afro-americana em Miami, que transmita às novas gerações os grandes sacrifícios que pelas quais os negros tiveram que passar para chegar onde estamos hoje", manifestou Enid Pinkney, diretora do Historic Hampton House Community Trust, a entidade encarregada de sua preservação. "Quando sabemos sobre nosso passado, temos mais respeito por nós mesmos e não cometemos os mesmos erros", disse.

Até a segunda metade do século passado, os negros não podiam se hospedar nos hotéis da luxuosa cidade de Miami Beach. Foi nessa época que o Hampton House se destacou entre a comunidade negra no sul da Flórida.

Em suas instalações, o famoso boxeador Cassius Clay (Muhammad Ali) celebrou sua vitória sobre Sonny Liston no torneio dos pesos pesados de 1964, e foi no mesmo hotel que o líder Martin Luther King pronunciou pela primeira vez o discurso "Eu tenho um sonho", três anos antes da célebre fala na escadaria do monumento Lincoln, em Washington.

"O prestígio do Hampton ultrapassava a tensão racial da época. No lugar era possível encontrar pessoas de todas as etnias que iam ver seus maravilhosos espetáculos", contou Pinkney.

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A mulher de 84 anos lembrou que não era raro o emblemático hotel, situado no bairro de Brownsville, na parte oeste de Miami, receber artistas do porte de Sammy Davis Jr., Jackie Robinson, Sam Cooke e Nat King Cole, e atletas de destaque como a tenista Althea Gibson.

Todos eles estavam sujeitos à legislação da época, que proibia as pessoas negras de se hospedarem em hotéis de Miami Beach. No entanto, eles costumavam contratar muitos artistas afro-americanos para entreter seus hóspedes brancos.

"Depois que terminavam seus shows, os músicos precisavam buscar quartos na área dos negros, que era todo o bairro de Overtown", muito próximo ao centro de Miami e "limitado a residentes afro-americanos", lembrou Pinkney.

A edificação de dois andares, 30 mil metros quadrados e 50 quartos também era uma plataforma para noites intermináveis de festa e música, graças ao seu clube de jazz.

Muitos destes espetáculos contavam com estrelas da época, como Frank Sinatra, e alguns membros do grupo dos cantores e atores que integravam o famoso "Rat Pack".

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"No Hampton, a cor nunca foi um problema, porque tudo se tratava de boa música, vestidos elegantes e banquetes de comida gourmet", afirmou Pinkney, que na juventude aguentou "todo tipo de discriminações" e por isso só freqüentava "lugares autorizados para os negros".

Um dos artistas que se apresentavam no local, o hoje reverendo Walter Richardson, lembrou que o hotel costumava estar decorado "de maneira muito elegante", sempre rodeado de automóveis luxuosos, e que "era um lugar com muito boa reputação, um orgulho para a comunidade negra em Miami".

Em 1972, o emblemático hotel foi obrigado a fechar quando sua clientela se espalhou pela cidade "para desfrutar dos lugares que anteriormente eram proibidos para eles, especialmente na área de brancos", recordou Richardson. /EFE

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