Renata Tranches - Enviada Especial/Londres*
Na ocasião dos 90 anos da rainha Elizabeth, Índia e Grã-Bretanha parecem estar perto de encerrar um longo imbróglio sobre um dos mais famosos diamantes que fazem parte da coleção de joias da monarca. Jornais britânicos noticiaram esta semana que a antiga colônia - e membro da Comunidade Britânica (Commonwealth) - reconheceu que o diamante Koh-i-Noor, estimado em 100 milhões de libras, foi um presente à rainha Victoria em 1850 e não roubado pelo antigo império.
A declaração, segundo o Times, foi dada pelo advogado-geral da Índia, Ranjit Kumar, durante uma audiência na Suprema Corte do país sobre o caso. A reivindicação indiana da pedra de 105 quilates já dura mais de cem anos e, de tempos em tempos, volta a ganhar força.
Atualmente, um grupo de empresários e atores de Bollywood (capital cinematográfica da Índia) lidera uma campanha e a reivindicação, apresentada ano passado à alta corte do país. Pelo menos Paquistão e Afeganistão também alegam ser donos da pedra preciosa.
Um dos maiores diamantes já descobertos, o Koh-i-Noor, que em persa significa Montanha de Luz, pertence à coroa que foi usada pela rainha-mãe da Inglaterra, morta em 2002 aos 101 anos. Trata-se de uma coroa reservada à rainha consorte (mulher do monarca reinante).
Nas redes sociais, indianos protestaram e disseram que a declaração de um representante do governo Narendra Modi teria sido resultado de uma negociação entre o primeiro-ministro e o duque e a duquesa de Cambridge durante a visita do casal ao país na semana passada. Kate deverá usar a coroa caso o príncipe William, segundo na linha de sucessão, venha a assumir o trono.
A peça integra a coleção Crown Jewels fortemente guardada na Tower of London, junto com outras preciosidades e luxuosos objetos utilizados nos rituais de coroação da monarquia britânica e pode ser visitada.
Ao ler um comunicado do Ministério da Cultura, Kumar explicou que a joia foi dada aos britânicos por Ranjit Singh, marajá do império Sikh, voluntariamente como uma "compensação pela ajuda durante as guerras Sikh". A história, porém, é cheia de mistérios. Em 2010, ao visitar a Índia, o primeiro-ministro David Cameron chegou a afirmar que a joia nunca sairia da Grã-Bretanha.
A peça carrega ainda uma outra curiosidade: a superstição de que qualquer homem que a usar morrerá logo em seguida, diferentemente das mulheres, que teriam vida longa. A história é contada com dramaticidade e empolgação pelos guias da Tower of London, que dizem se tratar do mais famoso diamante da coleção, sem fazer qualquer referência à disputa.
*A repórter viajou a convite da VisitBritain