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Para lembrar: votação do Brexit surpreendeu países e mercados

Contrariando a previsão das pesquisas, 52% dos britânicos votaram em 23 de junho para deixar a União Europeia

Por Redação Internacional
Atualização:

Célia Froufe,CORRESPONDENTE / LONDRES

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279 dias depois de os eleitores britânicos irem às urnas e cumprindo sua promessa de invocar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa até o fim de março, a primeira-ministra britânica, Theresa May, deu início nesta quarta-feira, 29, ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o Brexit.

Este será um marco dentro de uma novela que já dura nove meses, mas que ainda está longe do fim. A negociação histórica que coloca o sucesso do bloco único na berlinda tem previsão de dois anos de duração. Especialistas, no entanto, dizem que, dada a complexidade do assunto, é pouco tempo.

Bolsas europeias sofreram fortes perdas após a votação do Brexit, em junho (REUTERS/Russell Boyce) 

Os britânicos decidiram pela saída por 52% dos votos a 48% em 23 de junho. A decisão foi predominantemente dos mais idosos e dos mais pobres. O tema principal, a questão migratória. Na madrugada seguinte à votação, ainda sob choque dos investidores em relação ao quadro que começava a ficar mais claro, mas sem a confirmação do resultado oficial, a libra já registrava mais de 10% de queda, cotada a US$ 1,3438, o menor patamar em 30 anos. Saberia-se apenas depois que o fundo do poço para a divisa era mais embaixo.

Quando o sol raiou, a queda já chegava a 11%. A aversão ao risco também atingiu o euro, que perdia quase 4% de seu valor, cotado a US$ 1,1016. O petróleo despencava. Entre as ações, os bancos foram os principais perdedores nas primeiras horas de negócios devido à interligação do setor com o bloco comum. Porto seguro em momentos de crise, o ouro que chegou a subir 6%, sustentou alta de 4,69% no fechamento, no maior nível em quase dois anos. "Quando você é pego de surpresa, é isso que você faz: vende tudo e procura por ativos seguros", explicou Naeem Aslam, analista-chefe de mercado da ThinkForex.

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O desmoronamento no mercado financeiro se deu pela surpresa, já que até horas antes de se conhecer o resultado a favor do Brexit todas as pesquisas apontavam que venceria a corrente dos que queriam permanecer na UE. A campanha foi agressiva dos dois lados, mas prevaleceu a opinião dos que defendiam uma interrupção da aliança, com o discurso de ter "o controle do país de volta aos britânicos".

O pânico dos mercados não foi apenas local. Uma onda global de terror se espalhou pelo mundo com praticamente todos os bancos centrais se apressando para deixarem claro que estavam prontos e tinham dinheiro em caixa para atuar se houvesse necessidade. Na manhã seguinte ao referendo, com o resultado em mãos, a UE já sinalizava que não estava para brincadeira e pediu que o Reino Unido solicitasse o desligamento formal no "tempo mais curto possível".

A votação pró-Europa liderou na maioria das regiões de Londres, Escócia e Irlanda do Norte. Não à toa, imediatamente começaram a circular notícias de que o Reino Unido poderia estar em xeque. Uma das primeiras a se manifestar sobre o tema foi a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon. Seis horas após o anúncio da vitória do Brexit, ela avisou que começaria a trabalhar na proposta de um novo referendo pela independência. No país, a votação foi bem clara a favor da permanência na UE, com 62% dos votos. "O voto deixa claro que a população da Escócia vê o seu futuro como parte da União Europeia", disse Nicola. Em 2014, os escoceses quiseram continuar como parte do Reino Unido, com uma vantagem de mais de 55%.

Brasil. A notícia também abalou os brasileiros e teve impacto negativo sobre os mercados. O presidente Michel Temer, ainda em condição de "exercício no cargo" durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, disse em entrevista à Rádio Estadão na manhã brasileira que o governo avaliaria impactos econômicos da decisão, mas que não discutiria a questão política. O Broadcast também apurou que o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, havia conversado com o embaixador britânico no Brasil, Alex Ellis, que se encontraria naquela tarde com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Diante da decisão dos britânicos, o Ministério soltou nota para tranquilizar os mercados dizendo que a situação no Brasil era de "solidez e segurança porque os fundamentos são robustos".

Nos Estados Unidos, o então presidente Barack Obama afirmou que as relações com o Reino Unido continuariam, enquanto o então candidato Donald Trump, dono de uma retórica semelhante à dos defensores do Brexit, disse haver um paralelo entre o que ocorria nos dois países. O ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central do país) Alan Greenspan avaliou que o movimento seria apenas "a ponta do iceberg".

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Europa. Realmente as discussões fervorosas em torno do Brexit impulsionaram outros movimentos eurocéticos na região. Siglas semelhantes começaram a ser usadas, como na Suécia, onde o partido contrário à permanência no bloco já se valia da expressão Swexit. De outro lado, Frankfurt foi a primeira cidade a se apresentar como uma opção a Londres ainda no dia 24 pela manhã, quando os investidores absorviam a notícia dada de forma surpreendente.

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Ao longo do "day after", o resultado da divisão do país nas urnas por regiões e gerações era visto também nas ruas. Vitoriosos e derrotados não baixaram o tom e o clima de divisão continuava entre os londrinos, como registrou o correspondente do Broadcast na ocasião.

A derrota levou o então primeiro-ministro britânico, David Cameron, a anunciar que deixaria o cargo em três meses apenas cinco horas depois de se conhecer o resultado oficial. A escritora J.K. Rowling, criadora da série Harry Poter, tuítou de madrugada que o político seria o responsável por quebrar duas uniões: a da UE com o Reino Unido e deste, com a Escócia. "O legado de Cameron será acabar com duas uniões", disse.

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