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ANÁLISE: Parabéns, Putin

*Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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Por Luciana Fadon Vicente
Atualização:

Vladimir Putin foi eleito presidente da Rússia em 1999 e reeleito em 2004. Em 2008 não tinha direito a disputar um terceiro mandato. Como ele é um democrata escrupuloso, não tentou se reeleger. Não, Putin se submeteu gentilmente à norma constitucional. E deixou o Kremlin.

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Mas ele não quis deixar o caos atrás de si. E tomou o cuidado de fazer eleger em seu lugar, no Kremlin, um desconhecido, Dmitri Medvedev. E Medvedev teve uma boa ideia: colocou Putin como seu premiê. Às vésperas de uma nova eleição, Medvedev teve uma nova e boa ideia: decidiu que Putin será eleito o próximo presidente da Rússia. E depois foi a vez de Putin ter uma ideia luminosa: nomeará Medvedev como premiê.

Quando pensamos nas complicações que a eleição de um novo dirigente provoca, fraudes, corrupção, complôs, valises de euros ou de dólares, só podemos admirar a flexibilidade dos russos. Eles fazem com que a "ciência política" dê um grande passo. Montesquieu, Tocqueville, Raymond Aron ou Jefferson jamais imaginaram um sistema tão simples e elegante. Uma vantagem suplementar: o povo, que sempre tem muitas ideias na cabeça, não tem nada a dizer. Pode, portanto, ficar em repouso, o que não é um luxo depois de 500 anos de czarismo e 70 anos de comunismo.

Contudo, há um russo que não ficou satisfeito. E esse russo não é qualquer um. Ele foi ministro das Finanças de Putin, continuou na função com Medvedev, no cargo há 11 anos. Trata-se de Alexei Kudrin, um tanto louco, pois declarou em Washington que não se via "trabalhando no futuro governo de Medvedev". A resposta não demorou.

Medvedev, ainda presidente, aceitou a demissão do seu ministro. E Putin avalizou a demissão.

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Não será fácil substituir Kudrin. Velho cúmplice de Putin, com quem trabalhou em 1990 na prefeitura de São Petersburgo, ele era um dos "intocáveis". Um grande ministro das Finanças, foi ele que protegeu a Rússia do caos financeiro em 2008 e 2009.

Kudrin era respeitado pelo Kremlin, pelos russos, pelos ocidentais. Sozinho, foi capaz de administrar um orçamento reduzido e sobrecarregado de obrigações. Mas, como inúmeros países, a Rússia passa por um período doloroso.

O barril de petróleo Urals teve uma queda de 7% na semana passada. O índice de valores industriais caiu 12%, e o rublo sofreu uma desvalorização de 10% em setembro, frente ao dólar. Mudar o patrão da economia num cenário como esse é temerário.

Serguei Aleksachenko, ex-vice presidente do Banco Central russo, escreveu que "o capitão, que acredita no seu dever messiânico, mantém o país refém". A Rússia é como um Titanic. A ferrugem penetrou profundamente. O navio está se desintegrando. E Aleksachenko concluiu: "Foi o que sucedeu há 20 anos com a União Soviética".

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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